Aumento da pobreza, desemprego, retirada de direitos e falta de política pública em saúde mental aumentam as taxas de transtornos mentais e consequentemente de suicídios, como o do trabalhador que se matou na Refinaria Landulpho Alves (Rlam), na Bahia, esta semana.
Para o psicólogo clínico, professor universitário e perito judicial trabalhista, Bruno Chapadeiro, as campanha do Setembro Amarelo, de prevenção e redução dos suicídios que acontece todos os anos no mês de setembro, não tratam do problema no contexto da economia, políticas sociais e saúde pública.
Os “coachings da saúde mental”, diz, preferem pautar o fenômeno do suicídio no campo da saúde como algo individual, cujas tratativas seguem somente pelo autocuidado pessoal, mas dados do Ministério da Saúde mostram que nas localidades em que têm investimentos de políticas públicas em saúde mental têm também menores taxas de suicídio.
"O desemprego e a retirada de direitos aumentam as taxas de transtornos mentais e consequentemente os números de suicídios", diz o perito ressaltando que dados oficiais confirmam esta afirmação.
“Os dados oficiais apontam que as taxas de suicídio aumentam quando a gente tem um cenário de miséria social e econômica, inclusive são maiores em países de baixa e média renda”, afirma Bruno Chapadeiro.
“E isso também acontece em nações que passaram por medidas de austeridade econômica, que sentiram mais a crise da pandemia, tiveram aumento de desemprego e onde o trabalho informal avança sem proteção previdenciária, jurídica e securitária”, complementa.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada 40 segundos uma pessoa morre por suicídio em algum lugar do planeta e de acordo com o site da campanha, são registrados cerca de 12 mil suicídios todos os anos no Brasil.
"Os fatores econômicos e sociais citados pelo perito podem ter levado o trabalhador da Rlam a tirar a sua própria vida nesta semana", avalia o Coordenador-Geral do Sindicato dos Petroleiros na Bahia (Sindipetro Bahia), Jairo Batista.
Ele diz que ainda não dá para afirmar isso categoricamente porque é preciso fazer uma investigação, mas que este caso triste que aconteceu no local de trabalho foi um grande impulsionador para o sindicato tomar decisões para evitar outras tragédias.
“Não dá pra negar que todas as medidas que estão sendo tomadas por este governo, como retirada de direitos, a inexistência de política para restabelecer os empregos, a ameaça constante de privatização das refinarias e a insegurança no trabalho impactam a vida das pessoas”, diz Jairo.
“Mas o caso na Bahia mostrou que é necessário a gente estar atento a questão da saúde mental da categoria e reforçar a importância de buscar ações que previnam que outras pessoas não façam a mesma coisa”.
Representantes do Sindipetro Bahia e da Federação Única dos Petroleiros (FUP) se reuniram com os gerentes da Rlam depois da fatalidade para reafirmarem a necessidade de acompanhar de perto a investigação, da importância de dar apoio à família do trabalhador e de retomar os atendimentos de psicólogos e assistentes sociais à categoria.
Além disso, a FUP, em reunião com o grupo de Estrutura Organizacional de Resposta da Petrobras (EOR), ressaltou que a Petrobras não pode tratar esses fatos como tabu e que já passou da hora da empresa discutir com os trabalhadores uma política de saúde mental.
A entidade cobrou também uma reunião específica para discutir esse ponto, ressaltando que o Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) da categoria já prevê ações nesse sentido.
“Nós, do Sindipetro Bahia, propusemos isso justamente pra tentar prevenir outros casos e nos solidarizar neste momento difícil com a família e com a categoria A gente quer que a Petrobras crie meios e métodos com profissionais especializados a partir de um dos casos que, com esse, só veio ratificar a necessidade de implantar as proposições que fizemos”, afirmou o dirigente.
“Temos que ter esse olhar sensível um com os outros porque não é porque a gente está passando dificuldade que o outro também não esteja na vulnerabilidade; nessa situação, uma pessoa pode sim levar a cometer ações que atentem a própria vida. Vamos buscar as informações corretas para que a gente possa ter no mínimo possibilidade de afirmar o grau e a intensidade dessas medidas do governo federal na gestão da Petrobras, quais as influências de decisões que levem as pessoas a cometerem esse tipo de ação”, finalizou Jairo.
Fonte: CUT, por Érica Aragão