Polícia omissa



Polícia omissa

Representantes dos movimentos sociais presentes no protesto afirmaram que a polícia permitiu as cenas de vandalismo para justificar uma ação mais violenta e repressora dos militares

"O governo não cumpriu o acordo", afirmou uma das representantes do Comitê Popular dos Atingidos pela Copa (Copac), Gabi Santos. A declaração faz referência ao compromisso feito pelo governador Antonio Anastasia de garantir a segurança dos manifestantes e também à atitude da Polícia Militar (PM) durante o protesto realizado na quarta-feira (26) em Belo Horizonte.

Segundo a militante, a polícia permitiu a destruição dos estabelecimentos comerciais na avenida Antônio Carlos para justificar uma ação violenta por parte dos militares. "Por que os ditos vândalos não foram interceptados logo no inicio do ato? Estava cheio de policiais lá", questionou.

A crítica à atuação da PM também é compartilhada pelo advogado e membro da Comissão de Prevenção à Violência em Manifestações Populares, Marco Aurélio Corrêa. "Me recuso a acreditar que tendo, carro de som para orientar o afastamento das pessoas de bem (como à noite constatamos que providenciaram), Batalhão de Choque e tropa de elite, a Polícia Militar não tenha capacidade de cercar e prender as cerca de 100 pessoas que vandalizavam", afirmou em uma nota divulgada na internet.

Segundo Marco Aurélio, que criou um grupo de advogados voluntários para defender os manifestantes presos, a atuação da polícia faz parte de uma estratégia de marketing para criminalizar os manifestantes e enaltecer o papel da PM. "O que aconteceu ontem foi um grande teatro. A Polícia Militar utilizou um carro de som no início da noite na avenida Antônio Carlos dizendo que o ato tinha acabado e que qualquer atitude suspeita seria considerada crime. Mas quem decreta o fim do ato público não é a PM é a população", criticou.

A presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT-MG) e do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG) afirmou que a postura da polícia se manteve em relação aos outros atos organizados na capital. "Como já havíamos denunciado, a polícia se omite diante das questões de quebra de patrimônio privado e cria uma situação de caos e confronto com parte da manifestação".

Ainda conforme o advogado, é preciso mudar o perfil da polícia. "Este é um momento de se repensar o papel da Polícia Militar de um ponto de vista ideológico. Não se pode dar tratamento militar para um movimento político. E também não se pode repetir o erro do presidente Washigton Luiz, que no século passado, afirmou que sindicalismo era caso de polícia".

Os militantes também atribuem à polícia e ao governo a responsabilidade pela morte de Douglas Henrique Oliveira, de 21 anos, que caiu do viaduto José Alencar durante a manifestação desta quarta-feira. "O viaduto deveria ter sido bloqueado, em função de outras quedas que já tinham acontecido, e isso não aconteceu", afirmou Gabi Santos. "Teve uma morte e para mim o responsável é o governador Anastasia. Ele falhou e falhou gravemente", completou emocionado o advogado.

De acordo com Gladson Reis, também membro do Copac, as manifestações demonstraram que Minas Gerais não tem capacidade para receber a Copa do Mundo. "Uma grande indignação estourou nas ruas e o que aconteceu ontem é um chamado a reflexão de todas as autoridades. Será que Minas está mesmo preparada pra sediar os jogos?", questinou.

Vândalos

A cobertura dos protestos feita pela imprensa também foi muito criticada. "Os jornais têm que parar de acusar as pessoas de vândalos, mas enxergar os fatos dentro de um contexto maior. Um contexto de pessoas revoltadas diante da constante intervenção da polícia nos morros e de negação de direitos básicos à população, como saúde, educação e moradia", afirmou.

A militante afirma que ouviu um grupo de jovens dizendo que só estavam ali porque apanham todos os dias da polícia. "O que está acontecendo, na verdade, é uma revolta muito grande da população não somente em relação à política do país, mas também acerca da condição social em que elas vivem", completou.

Manifestação

Aproximadamente 50 mil pessoas se reuniram na tarde de quarta-feira (26) na Praça 7, no Centro da capital, onde uma assembleia foi realizada para definir o rumo da passeata - que seguiria pelas avenidas Antônio Carlos e Santa Rosa, até chegar à orla da Lagoa da Pampulha. O movimento reuniu estudantes, trabalhadores, representantes de vários movimentos sociais e sindicais de todo o Estado.

Entretanto, na chegada do cruzamento entre as avenidas Antônio Carlos e Abraão Caram, algumas pessoas mascaradas não respeitaram o trajeto definido e entraram em confronto com a Polícia Militar na tentativa de furar o cerco que impedia a aproximação ao estádio do Mineirão.

Os militares revidaram com bombas de efeito moral e gás lacrimogênio e o movimento se dispersou - alguns seguiram a passeata até a Lagoa da Pampulha, enquanto outros retornaram para o Centro da cidade. Durante os confrontos, vários estabelecimentos comerciais e veículos foram depredados e alguns até mesmo incendiados.

À noite, no retorno ao Centro da capital, os manifestantes foram escoltados pela PM que anunciava o fim do ato público. Na chegada à Praça 7, houve novos confrontos e militares do Batalhão de Choque ocuparam o local, expulsando os manifestantes da região.

Apesar das cenas de violência, a presidente da CUT/MG, ressaltou que a manifestação foi muito grandiosa e vitoriosa para todos os movimentos sociais. "Era um dia de participação e todos puderam levar suas pautas e mostrar para a sociedade suas reivindicações", completou.

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