O governo de Jair Bolsonaro anunciou no dia 21 deste mês uma lista de 17 empresas estatais que serão privatizadas, entre elas Correios, Serpro e Telebrás. Ainda não há um cronograma definido nem expectativa em relação àquilo que a equipe econômica projeta com a venda destas estatais.
Para o economista Marcio Pochmann, presidente da Fundação Perseu Abramo, existe uma incompreensão em relação ao papel desempenhado pelas estatais, alimentada em parte pelo que se propaga na mídia tradicional. “Foi anunciado um conjunto de empresas estatais a serem privatizadas e o argumento é de que elas seriam ineficientes por não apresentarem desempenho e lucro equivalentes aos do setor privado”, diz, em entrevista aos jornalistas Marilu Cabanas e Glauco Faria no Jornal Brasil Atual. “Não sei se é má-fé ou ignorância, mas em qualquer país do mundo a função de uma empresa estatal não é na verdade realizar as atividades de uma empresa privada, senão não haveria razão para a existência da empresa pública. Ela só existe porque o setor privado não consegue cumprir determinada função.”
Pochmann menciona a mudança do papel nos bancos públicos ocorrida nos governos Temer e Bolsonaro, uma reorientação para que atuassem como se fossem instituições privadas – resultando aumentos dos juros e tarifas cobrados do público e em demissões e fechamento de agências, afetando condições de trabalho e também o púbico. “A função dos bancos públicos, por exemplo, de estar em regiões onde não há interesse do setor privado, nos municípios pobres, bairros da periferia da cidade porque ali dificilmente o banco privado vai ter a rentabilidade que justifique haver uma agência. E o que aconteceu no governo Temer para cá é que o setor público passou a ser operado de acordo com a lógica privada”, pontua.
“A Caixa Econômica passou a ter lucros extraordinários. Por quê? Porque é mais eficiente? Não, porque está abandonando sua função social, vem promovendo um processo de desbancarização, retirando os pobres de contas bancárias, vem fechando agências em regiões que obviamente não são para dar lucro mas onde é importante a presença do Estado, do banco público, e não tem outra agência bancária, mas há a população que depende de programas sociais, de benefícios da aposentadoria e pensão”, ressalta.
Como exemplo dessa orientação do setor privado que não visa o bem geral, Pochmann cita a questão dos juros do cheque especial, que chegaram nesta semana ao maior nível em 25 anos. “Há também a questão dos juros do Brasil. Infelizmente, o que estamos vendo com a Selic, a taxa básica de juros decrescendo, quando comparamos com a inflação mais baixa ainda, continuamos com a taxa de juros real como uma das mais altas do mundo.”
“Temos bancos estrangeiros que operam no Brasil, quando analisamos a taxa de juros que apresentam em seus países de origem ou em outros que não o Brasil, a taxa de juros ao invés de 326% como praticam aqui, é de 2% ao ano. isso que justifica um grande banco como o Santander, presente em quase todos os países do mundo, ter 32% do seu lucro mundial auferido no Brasil porque aqui é o privilégio do rentismo, de favorecer essa economia que não cresce mas permite essa riqueza financeira sendo cada vez mais ampliada e em grande medida se deve justamente ao programa de cortes que desloca recursos do Estado para dar vazão a esse sistema rentista.
Fonte: Rede Brasil Atual