Petroleiros



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Após os consecutivos acidentes em refinarias que marcaram os últimos meses de 2013, novas ocorrências graves voltam a colocar em xeque a segurança dos trabalhadores do Sistema Petrobrás.

Só na primeira semana de janeiro, cinco acidentes foram registrados na Reduc, Regap, Refap, Comperj e em uma sonda de perfuração do Campo de Jubarte (SS-86), no Espírito Santo. O saldo até o momento é de dois trabalhadores mortos e quatro gravemente feridos. O número de vítimas só não foi maior porque os petroleiros agiram rápido e com competência no controle de três grandes incêndios nas refinarias de Duque de Caxias e de Minas Gerais.

Há menos de duas semanas, um incêndio de grandes proporções na plataforma P-20, no último dia 26, na Bacia de Campos, feriu dois trabalhadores. Toda a equipe que estava a bordo (203 pessoas) reviveu os momentos de terror que marcaram as explosões na P-36, em março de 2001, quando 11 petroleiros morreram. O risco cada vez maior a que são expostos os trabalhadores do Sistema Petrobrás se intensificou com os cortes de investimentos em manutenção, efetivos reduzidos e metas de produção que relegam a segundo plano a segurança operacional.

Nesta sexta-feira (10), o Sindipetro Duque de Caxias realizará um grande ato em frente à refinaria, em protesto contra a insegurança.

Na Bacia de Campos, o sindicato também orientou os trabalhadores a relatarem detalhadamente pendências relativas à segurança, bem como ocorrências graves e de risco iminente. No dia 20 de dezembro, os petroleiros atenderam ao indicativo da FUP e realizaram uma mobilização nacional em Defesa da Vida, contra o Procop e por mudanças estruturais na gestão financeira da empresa e no SMS. Nesse mesmo dia, o Conselho de Administração da Petrobrás pela primeira vez discutiu a insegurança, tema pautado pelo conselheiro eleito, José Maria Rangel. Os gestores, no entanto, continuam endossando a velha tática de tentar minimizar os acidentes, apresentando uma empresa que nos relatórios e telas de computador nada tem a ver com a realidade cruel que vivem os trabalhadores nas áreas operacionais.

Um acidente após o outro

Os meses de novembro e dezembro foram marcados por acidentes e ocorrências graves em pelo menos sete refinarias, refletindo a insegurança crônica que se alastrou por todo o Sistema Petrobrás, apesar dos constantes alertas e cobranças do movimento sindical por mudanças estruturais no SMS.

Na Repar, uma explosão no final de novembro, na Unidade de Destilação, interrompeu a produção da refinaria por 26 dias. Foi preciso uma greve para que os gestores respondessem as cobranças dos trabalhadores para garantir a segurança operacional da Repar.

No dia primeiro de dezembro, uma explosão da Reman deixou quatro trabalhadores gravemente feridos e dois deles ficaram semanas internados, em estado grave. Na Rlam, três ocorrências graves nos dias 12, 13 e 28 de dezembro causaram queimaduras e ferimentos em pelo menos quatro trabalhadores.

Mortes na SS-86 e no Comperj

Um trabalhador britânico de 36 anos perdeu a vida em um acidente ocorrido no último dia 06 na sonda de perfuração SS-86, no Campo de Jubarte, no Espírito Santo. A sonda é operada pela Sevan Brasil, que presta serviços para a Petrobrás. Segundo informações preliminares, o acidente foi durante a operação do poço 8-JUB-46D-ESS, quando dois técnicos realizavam a manutenção do elevador. A equipe de resgate foi mobilizada, mas o operário já estava morto.

Nesse mesmo dia (06/01), outro trabalhador que prestava serviços para a Petrobrás morreu em um grave acidente de trajeto, ocorrido em uma via de acesso ao Comperj, na região metropolitana do Rio de Janeiro. Dois ônibus contratados pela empresa para transportar os trabalhadores do Complexo Petroquímico se chocaram de frente, em uma estrada que foi aberta pela própria Petrobrás para interligar a rodovia RJ-116 ao Comperj. O acidente deixou outros 23 trabalhadores feridos, sendo que três em estado grave, correndo risco de morte.

Explosões na Reduc e fogo na Regap

No último dia 04, dois incêndios deixaram em alerta os trabalhadores da Reduc e da Regap. Em Duque de Caxias, o acidente só não se transformou em tragédia em função da ação imediata dos trabalhadores. A Unidade de Coque da Reduc pegou fogo após a gerência ter aumentado em 20% a carga da produção. Operadores, técnicos de segurança e brigadistas reagiram com eficiência e destreza e conseguiram debelar o incêndio, que paralisou a unidade. Os petroleiros da refinaria já haviam sofrido outros acidentes graves nos dias 27 (incêndio no laboratório) e 01 de dezembro e 24 de novembro (explosões de compressores).

Na Regap, um incêndio durante teste de compressor também assustou os trabalhadores, causando um "flasheamento", que durou cerca de 15 minutos. A brigada de combate a emergência foi acionada e o fogo debelado pelos operadores. No ano passado, várias ocorrências foram denunciadas pelo Sindipetro, que tem alertado à gerência da Regap para os riscos desnecessários a que os trabalhadores são expostos para cumprirem as metas de produção com efetivos reduzidos e sem as devidas manutenções de equipamentos.

Trabalhador cai em tanque da Refap

Um trabalhador Engecampo, que prestava serviços para a Refap, está gravemente ferido, internado com politraumatismos, após cair de uma altura de dez metros, dentro de um tanque da refinaria, que passava por manutenções. O acidente foi no dia 03 de janeiro, quando o operário desmontava um andaime, sem o talabarte do cinto de segurança conectado à estrutura.

Incêndio paralisa a P-20 e trabalhadores revivem P-36 e Enchova
Os trabalhadores da plataforma P-20, no Campo de Marlim, na Bacia de Campos viveram momentos de terror no dia seguinte ao Natal. Um incêndio de grandes proporções em uma área do convés principal levou horas para ser controlado. Dois trabalhadores terceirizados ficaram feridos: um por inalação da fumaça e outro com uma torção no tornozelo. Apesar da gravidade do incêndio que consumiu boa parte dos equipamentos da plataforma, a primeira iniciativa da Petrobrás foi tentar minimizar o que chamou de "incidente".

O incêndio foi tão violento, que para ser debelado precisou da ação conjunta da brigada, da rede de dilúvio e de dois navios especiais para combate a chamas. Segundo o Sindipetro-NF, será preciso pelo menos quatro meses para a plataforma voltar a produzir com segurança. No entanto, já há indícios de que a Petrobrás está trabalhando para reduzir esse tempo pela metade.

No último dia 04, o diretor da FUP e coordenador da Sindipetro-NF, José Maria Rangel, embarcou na plataforma para participar da reunião da CIPA e se deparou com um cenário que lhe fez lembrar outra grande tragédia da indústria petrolífera brasileira: os acidentes com as plataformas P-36, em 2001, com 11 mortos, e Enchova, em 1984, que fez 37 vítimas. "Vi trabalhadores abalados e assustados, porém orgulhosos de terem cumprido o seu dever de naquele momento salvar vidas, foram companheiros na essência da palavra", relatou.

"É incrível a resistência da Petrobrás em admitir que sua gestão de SMS só está gerando mais insegurança. Quando é que a empresa vai enxergar que os trabalhadores precisam e devem ser ouvidos na elaboração e execução de qualquer política de segurança?", questiona Zé Maria.

O Sindipetro-NF denunciou as condições inseguranças da P-20 e de outras duas plataformas á Superintendência Regional do Trabalho para que faça inspeções e fiscalizações nas unidades. São elas a P-62, que saiu do estaleiro de Pernambuco para Bacia de Campos sem ter passado por testes importantes em equipamentos de combate a incêndio; a P-55, que tem trabalhadores transportados diariamente em cestas por falta de vagas na plataforma; além da P-20, que sofreu o grave incêndio no dia 26 de dezembro.

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