Em meados de 2010, o Sindieletro lançava a campanha “Uma Outra Cemig é Possível”, fruto do desejo e da luta da categoria eletricitária e da sociedade para resgatar o caráter público da Cemig idealizada por Juscelino Kubitschek: força motriz do desenvolvimento de Minas, geradora de empregos e serviços de qualidade.
Naquele ano, a estatal mineira já estava bem longe daquela idealizada por JK, desvirtuada por anos da gestão neoliberal tucana de Azeredo, Anastasia e Aécio. Claramente, a ordem era o desmonte, sucateamento e submissão da Cemig aos interesses do mercado.
Os três tucanos juntos foram responsáveis pelo fechamento de 9.115 postos de trabalho na Cemig, ao mesmo tempo em que disparavam os índices de terceirização na estatal mineira. E, junto com as empreiteiras, vieram os empregos precarizados, a queda na qualidade do serviço prestado, os acidentes graves e fatais. A Cemig chegou a sustentar a vergonhosa marca da morte de um trabalhador a cada 45 dias.
Enquanto eletricitários (as) morriam ou eram mutilados na rede elétrica da Cemig, os acionistas regozijavam-se nos bilhões de reais gerados à custa do sangue dos eletricitários. De 2011 a 2014, o lucro da Cemig foi de R$ 12,04 bilhões, e os dividendos distribuídos, de R$ 12,06 bilhões (102% do total).
Submissão aos interesses do mercado continua na gestão Pimentel
E esse processo histórico, de submissão aos interesses do mercado financeiro e à agenda neoliberal se aprofundou durante a gestão Pimentel na Cemig. O governador, que prometeu concurso para 1.500 trabalhadores, fechou 2.058 postos de trabalho em dois anos.
Ele, que prometeu valorização da categoria eletricitária, deu guarida a uma gestão na empresa que atacou os direitos dos trabalhadores e trabalhadoras, ao mesmo tempo em que eram aprovados reajustes absurdos e imorais para os altos cargos da Companhia.
Quando assumiu o Palácio da Liberdade, em 2015, Pimentel comandava uma Cemig onde o presidente recebia cerca de R$ 40 mil mensais; os diretores, R$ 34 mil; os titulares do Conselho de Administração, cerca de R$ 7 mil.
Em 2018, esses valores, sem contar com o reajuste aprovado na última segunda-feira (30), estão da seguinte forma: presidente da Cemig, R$ 80 mil; diretores, R$ 65 mil; titulares do Conselho de Administração, R$ 19 mil; presidente do Conselho de Administração (que não possuía remuneração especial), R$ 24 mil.
E tem mais: denúncias recebidas pelo Sindieletro apontam que o presidente da Cemig recebeu, na última sexta-feira, uma PLR de R$ 400 mil, e a diretoria de R$ 215 mil. Fica o questionamento para a gestão da empresa: essa informação procede? Qual o valor da PLR do presidente?
Categoria eletricitária
E os trabalhadores e trabalhadoras da Cemig? Atualmente, negociam mais de 40 pautas com a gestão da empresa, que vão desde a revisão da política de readaptações funcionais, assédio moral, fechamento de localidades, PDVP, abono, até a luta pela revogação de ataques aos direitos da categoria no plano de saúde (Cemig Saúde) e no fundo de pensão (Forluz), entre tantos outros.
O abono, por exemplo, extrapola o debate corporativo. Hoje, a discussão sobre a garantia da renda variável (abono) é necessária para combater o golpe da baixa inflação que só reajusta os salários dos trabalhadores, enquanto bens de consumo como gás, derivados de petróleo e produtos alimentícios dispararam de preço.
A recomposição da remuneração global na Cemig com a garantia do abono é fundamental para manutenção do poder de compra e da qualidade de vida no orçamento familiar da categoria. Ela garante, inclusive, impulso para a economia interna do Estado, ao contrário dos altos salários, que fomentam o mercado internacional, setores rentistas e especulativos, como é o caso do imobiliário.
Luta!
Por isso, o Sindieletro repudia veementemente a contradição representada pela política de privilégios para os altos cargos da Cemig, ao mesmo tempo em que a empresa coloca dificuldade de pagar um abono aos trabalhadores.
E é em nome da categoria eletricitária, pela vida, pelo trabalho e dignidade desses homens e mulheres, que estamos aqui hoje. Cobrando, acima de tudo, a moralização da gestão da Cemig, com justa distribuição de renda!
E partindo da proposta já urgente em 2010, da construção de um outra Cemig, cobramos, também, o resgate do caráter público na gestão da maior empresa controlada pelo Governo de Minas Gerais!