Em 13 de outubro de 2019, primeiro ano do governo Zema, conforme noticiado pelo Viomundo, a Light, pertencente a Cemig, por determinação do acionista majoritário, o Governo de Minas Gerais, aprovou a venda da sua participação de 17% na Renova Energia pelo valor simbólico de R$1,00. Participação que, em 2011, no governo do PSDB custara R$ 360 milhões.
A participação da Light foi comprada pelo fundo CGI, que integra o bloco controlador da Renova. Na mesma época a Cemig Geração e Transmissão, sócia da Light, decidiu não exercer seu direito de preferência na compra da participação na Renova por R$1,00.
Em comunicado, a Light disse apenas que a transação estava “em linha com a estratégia de desinvestimento de ativos noncore (ativos de alto risco)“.
Três anos depois da venda por R$1,00, a Renova arrecada R$ 1 bilhão com apenas a venda de 100% de um de seus complexos geradores, o Complexo Hidrelétrico Serra da Prata (Espra), antiga Enerbrás, para a Vinci Partners por R$ 265,8 milhões, somado a conversão de passivo de R$ 770 milhões com a Angra Partners em ações na companhia.
O mais grave, a Cemig vendeu em maio de 2022 a sua participação de 30,3% na Renova para a Angra Partners, por R$ 60 milhões, pouco antes do início das operações do Parque Eólico Alto Sertão III, Fase A, principal projeto da companhia.
O empreendimento inclui 155 torres de geração de energia eólica, distribuídas em 26 projetos, em seis cidades da Bahia. São elas: Caetité, Igaporã, Pindaí, Licínio de Almeida, Riacho de Santana e Guanambi.
Assim que o parque eólico estiver em funcionamento terá capacidade de gerar 432,7 MW. Esta energia será suficiente para abastecer entre 900 mil e 1 milhão de residências, segundo o padrão Aneel.
De acordo com o Plano de Recuperação Judicial, os valores obtidos com a transação serão usados para a liquidação de uma dívida extraconcursal com o Banco BTG, no valor de R$ 228.123.812,26. E também será feito o pagamento a credores com garantia real, assim como com credores quirografários e despesas operacionais da Renova e suas subsidiárias.
Em seu depoimento, perante a CPI da Cemig instalada na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, Luis Paroli Santos, ex-presidente da Light, informou que esta não seria a melhor opção. A questão era tão escandalosa que na época da negociação, devido à venda por R$ 1,00, Cledorvino Belini, presidente da CEMIG, deixou o conselho da Light.
A venda da participação da Light na Renova por R$ 1 recebeu críticas dos parlamentares que integram a CPI. O vice-presidente da comissão, Professor Cleiton (PSB) disse que é preciso entender o que aconteceu.
“Nos intriga a venda da Renova por um real. Não entra na minha cabeça. A Renova tinha salvação?”, questionou. “Temos que chegar aqui à conclusão de quem fez essa opção pela venda. O ex-presidente Belini disse que ele não concordou com isso”, acrescentou Cleiton.
O relator da CPI, Sávio Souza Cruz (MDB), disse que a responsabilidade pela negociação, em última instância, é dos conselheiros da Light. “Mas tem que ser imputada a quem tinha competência de indicar os conselheiros comprometidos com os interesses da empresa e preferiu indicar pessoas, entre aspas, do mercado”.
A venda da Renova acabou virando motivo de ironia. O relator Sávio Souza Cruz (MDB) fez uma proposta para comprar a Renova. “Quero falar aos compradores: eu pago 100% de lucro. Pago dois reais à vista. Pode me procurar, estou disponível aqui na Assembleia. Um grande negócio, estou publicamente propondo aos compradores da Renova. Pago 100% de lucro, a inflação não chegou a isso. Não tem melhor condição. Se quiser pago em espécie, tenho na carteira uma nota de dois reais. Senhores compradores, vocês compraram pelo preço justo de um real e têm a chance de ter 100% de lucro”, disse Sávio Souza Cruz (MDB).
Em seguida, o presidente da comissão, Cássio Soares (PSD) também ironizou. “Se for leilão, eu estou disposto a pagar cinco reais. 500% de lucro”. “Eu pago 13 reais”, disse a deputada Beatriz Cerqueira (PT).
Em agosto de 2008, a reportagem publicada pelo Novojornal denunciou o esquema que Aécio Neves montou para a Cemig comprar a Light e a documentação que fundamentou a matéria passou a instruir a ação popular nº 002408008068-2, até hoje em tramitação na 3ª Vara da Fazenda Pública de Minas Gerais, sem qualquer decisão.
Fonte: Novojornal, por Marco Aurelio Carone