A menos de um mês do início da campanha eleitoral, o Partido Liberal (PL), legenda do presidente Jair Bolsonaro, já apresentou 14 pré-candidaturas para a disputa dos governos estaduais, todos homens.
Ao todo, 17 legendas não terão mulheres disputando os estados. Além dos bolsonaristas, o Novo, com 8 pré-candidatos, e o PSD, que terá 10 concorrentes aos governos, também só selecionaram representantes masculinos.
Até agora, 196 pré-candidaturas já foram apresentadas por 32 partidos para disputar os governos estaduais. Dessas, apenas 31 são mulheres, o que corresponde a 16% dos concorrentes. De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2019, 52,2% (109 milhões) da população brasileira é formada por mulheres.
Das 32 legendas que disputarão os governos estaduais apenas 15 apresentaram mulheres na corrida eleitoral à chefia dos estados. Seis partidos de esquerda (PT, PSOL, PCdoB, PSTU, PCB e UP) são responsáveis por 16 (52%), das 31 pré-candidaturas femininas.
O PSOL, sozinho, é responsável por 23% (7) das mulheres registradas para a corrida eleitoral para o governo dos estados. O partido lançou 21 pré-candidatos, 30% são mulheres. PSTU, com 4 representantes, e PCB, que soma 3, vêm logo em seguida.
Entre os dias 20 de julho e 5 de agosto deste ano, os partidos realizarão as convenções para decidir e anunciar as candidaturas que disputarão o legislativo e executivo. Até lá, alguns dados podem ser alterados.
Apenas três líderes
Ainda não há registro de pré-candidatura de mulheres em oito estados: Bahia, Espírito Santo, Maranhão, Pará, Paraíba, Rondônia, Santa Catarina, São Paulo e Tocantins.
O maior número de pré-candidatas é três e se repete em cinco estados, sendo a maioria do Nordeste: Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte.
Somente três pré-candidatas lideram as pesquisas de intenção de voto nos 27 estados. Duas delas, à esquerda e lulistas. Fátima Bezerra (PT), no Rio Grande do Norte, que caminha para a reeleição com tranquilidade, e Marília Arraes (Podemos), em Pernambuco, que está à frente nas pesquisas em uma disputa equilibrada com outra mulher, a tucana Raquel Lyra.
A bolsonarista Teresa Surita (MDB), que foi prefeita de Boa Vista por cinco vezes, lidera a corrida eleitoral para o governo de Roraima, em disputa acirrada com o atual governador Antônio Denarium (PP).
Mayra Goulart, professora de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (PPGCS), lamentou os baixos índices de participação das mulheres na política.
"Temos acompanhado a relação entre as mudanças institucionais, criação de incentivos das candidaturas e representatividade de mulheres na política, seja por meio de cotas nas nominatas [lista de candidatos] ou reserva de fundo eleitoral. O que observamos é que as mudanças institucionais não são acompanhadas por uma reação na efetiva eleição de mulheres como esperávamos, porque essas mudanças avançam muito gradualmente. É muito difícil mudar uma cultura via lei", afirmou Goulart.
"Quando falamos de cultura, isso se dá à esquerda e à direita. Mas temos que dar um passo atrás para pensar nas diferenças de relação descritiva, que é a representação dos corpos, e a representação substantiva, que é a representação de ideias. Aí sim, podemos fazer essa clivagem", explica a cientista social, que explica a diferenciação.
"Mulheres eleitas em partidos de esquerda, tendem a estar mais ligadas à representação substantiva de pautas identificadas com o feminismo e os direitos reprodutivos. As mulheres eleitas em partidos de direita se focam em ideais de mulher ainda presos ao patrimonialismo e ao patriarcado, em especial. Isso faz com que a representação se dê em uma chave descritiva e não substantiva. Elas não representam um avanço das pautas femininas, ou avanço no modelo de sociedade mais igualitário para as mulheres", conclui.
História
Apenas oito mulheres, em seis estados, já foram eleitas para o cargo de governadora. A primeira foi Roseana Sarney, em 1994, no Maranhão. À época, ela estava filiada ao extinto PFL. A filha do ex-presidente José Sarney conseguiu se eleger mais duas vezes para a chefia do governo maranhense, em 1998 e 2010.
Em 2002, os fluminenses e potiguares elegeram Rosinha Garotinho (PSB) e Wilma de Faria (PSB), respectivamente. A última, se reelegeu em 2006, ano que consagrou a vitória de Ana Júlia (PT), no Pará, e Yeda Crusis (PSDB), no Rio Grande do Sul.
No pleito de 2010, além de Roseana Sarney, outra mulher foi eleita, Rosalba Ciarlini Rosado (DEM). Em 2014, Suely Campos(PP) venceu em Roraima. Finalmente, em 2018, o Rio Grande do Norte voltou a eleger uma governadora, a petista Fátima Bezerra.
Fonte: Brasil de Fato (SP), por Igor Carvalho