O presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados (CDHM), Helder Salomão (PT/SE), classificou a ação do governo de Romeu Zema (Novo) no acampamento Quilombo Campo Grande, em Campo do Meio (MG), como “desnecessária” e “irresponsável”. Em entrevista ao Brasil de Fato, na sexta-feira (14), o parlamentar disse que “estão pegando muito pesado” na ação, que desabrigou 450 famílias na ultima quarta-feira (12).
Vinculado ao Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), o acampamento foi alvo de uso de bombas e tropa de choque na sexta. Os moradores denunciaram, entre outras coisas, uso de violência por parte dos agentes e destruição da escola da comunidade.
“Eles estão jogando muito pesado, com fogo, com armas, com voos rasantes, com helicóptero, com muita gente, e eu diria que isso mostra insensibilidade do governo de Minas, que chegou a anunciar nas redes sociais do governador que seria suspenso o despejo, e nós vimos que não houve suspensão nenhuma”, criticou Salomão.
Ele demonstrou preocupação com a denúncia dos moradores de que as tropas do governo avançaram para a área que fica de fora do local demarcado para a desapropriação. “Nós vamos até as ultimas consequências para apurar todas as violações que estão sendo praticadas lá, inclusive de excesso da execução na ordem de despejo. Se for comprovada a denúncia feita pela Defensoria Publica de Minas Gerais e pelos movimentos dos acampamentos de que a ação extrapolou aquilo que foi delimitado na ação judicial, torna muito mais grave o que está acontecendo lá”, afirmou o deputado à reportagem.
Salomão informou que pediu ao deputado federal Rogério Correia (PT-MG) para viajar ao município de Campo Grande na tarde da sexta em seu nome. Ele informou que aguarda novidades sobre mais informações colhidas no acampamento para avaliar os próximos passos da CDHM diante do caso.
Tentativas
O parlamentar destacou que participava de uma mesa de negociação havia cerca de dez dias com diferentes órgãos e que buscou “várias vias de diálogo” para tentar evitar o despejo. Também representante da Câmara dos Deputados no Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH), o presidente disse que se reuniu com membros do MST, da Defensoria Pública de Minas Gerais, da Polícia Militar, do Tribunal de Justiça do Estado, da Assembleia Legislativa de Minas Gerais e do Ministério Público Estadual, mas não conseguiu ser atendido pelo governador, Romeu Zema. Ele afirma que fez “várias tentativas” e não obteve resposta.
“O tempo todo eu disse que a ação da Comissão de Direitos Humanos era humanitária. Nós estamos preocupados com a pandemia, e este despejo pode agravar ainda mais o problema em Minas Gerais, onde o numero de casos e de mortes está crescendo. Minas é um dos estados nessa situação”.
Salomão conta que a gestão governamental foi alertada sobre as orientações emitidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pelo CNDH para que se evitassem despejos sob a vigência do estado de calamidade. “Eu tenho dito que é uma irresponsabilidade. É uma falta de humanidade porque não há nenhum fato que diga, que comprove que há emergência, urgência para fazer esse despejo”, disse, ao salientar que as famílias vivem no local há mais de 20 anos.
O Brasil de Fato tentou ouvir o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, por meio de sua assessoria de imprensa, mas não obteve retorno.