Parceria foi desastrosa para a Cemig



Parceria foi desastrosa para a Cemig

A divulgação de um balanço desastroso pela Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais) deve-se muito mais a operações ruinosas com a Andrade Gutierrez do que aos efeitos da redução tarifária do final do primeiro governo Dilma Rousseff.

O balanço do terceiro trimestre do ano passado mostrou uma queda de 96% no lucro líquido – que passou de R$ 788,8 milhões no terceiro trimestre de 2013 para penas R$ 29,1 milhões.

Outro dado que chamou a atenção foi o da equivalência patrimonial, negativo em R$ 102,1 milhões contra um resultado positivo de R$ 349,1 milhões no mesmo período do ano anterior.

Ambos os resultados estão diretamente relacionados com operações da Cemig com a empreiteira Andrade Gutierrez – envolvida com a Lava Jato – na hidrelétrica de Santo Antônio, em Rondônia.

Os resultados operacionais

Os resultados operacionais foram satisfatórios. Sempre em relação ao mesmo período do ano anterior, houve crescimento de 8,1% na receita líquida, que foi de R$ 3,83 bilhões. O volume de energia fornecida aos consumidores aumentou 7,7% com aumento médio de 14,76% nas contas residencial, comercial e industrial.

Houve aumento de 22,4% nos custos operacionais, que bateram em R$ 3,42 bilhões, principalmente devido ao gasto maior com a compra de energia de outras geradoras par que revenda, pois a seca impediu que honrasse o contrato de fornecimento com os distribuidores. Os gastos totais foram de R$ 1,78 bilhão, aumento de 22,8%.

Os investimentos em Santo Antônio

A Cemig detinha uma participação de 10% na usina Santo Antônio, em Rondônia, pela qual investira R$ 610 milhões. A usina vinha registrando prejuízos recorrentes.

Aí, teve início a operação que jogou a Cemig no fundo do poço.

O controle da usina pertence ao fundo FIP Malboure, do qual participavam a Cemig, a Andrade Gutierrez e outros sócios.

No dia 6 de junho, a Cemig adquiriu da Andrade Gutierrez Participações S.A. o equivalente a 83% de sua participação no FIP, ou 12,4% do total do fundo, ao custo de R$ 654 milhões. Os demais cotistas compraram a participação restante por R$ 124 milhões.

O argumento da Cemig é que precisaria investir em Santo Antônio para compensar a devolução de ativos de geração cuja concessão venceu e ela não aceitou renovar.

A operação de Santo Antônio, no entanto, revestiu-se de algumas peculiaridades.

Os interesses cruzados

A Andrade Gutierrez é a maior acionista individual da Cemig, depois do governo de Minas. Controla 33% do capital, possui assento no Conselho de Administração e indica justamente o Diretor de Novos Negócios da empresa

Ela participava da Santo Antônio como investidora e também como construtora, ao lado da Norberto Odebrecht. Em agosto ameaçou paralisar os trabalhos, devido às dificuldades de recebimento pelo trabalho realizado.

Para cobrir as despesas, o Madeira Energia S.A (MESA), consórcio que administra o empreendimento, anunciou uma nova chamada de capital para os acionistas.

Aí montou-se a operação:

1. No dia 6 de junho, a Cemig adquiriu a parte da Andrade Gutierrez na usina.

2. No dia 21 de outubro, a Santo Antônio energia convocou Assembleia de Acionistas que aprovou aumento de capital de R$ 1,59 bilhão, a maior parte para honrar dívida com as empreiteiras, que chegava a R$ 700 milhões.

3. Além de adquirir a participação da Andrade Gutierrez, a Cemig precisou subscrever o aumento de capital. Sua participação equivale a R$ 3,617 bilhões, ou 17,7% do valor patrimonial da companhia.

4. A Andrade Gutierrez recebeu pela venda da sua participação como acionista, livrou-se da nova chamada de capital e recebeu os pagamentos atrasados, de seu trabalho na construção da usina.

Tudo não passaria de um negócio de oportunidade, se a Usina Santo Antônio estivesse bem. Atualmente – segundo o jornalista José Antônio Bicalho – ela produz pouco mais da metade da energia prevista. Com isso está sendo obrigada a comprar energia no mercado livre para cumprir seus contratos com as distribuidoras.

A jogada na Guanhães

Operação semelhante foi realizada na Guanhães Energia.

O tema Guanhães voltou ao noticiário graças ao doleiro Alberto Yousseff, que reiterou denúncia do ano passado, de que tinha recebido R$ 4,3 milhões referentes à venda de participação na Guanhães Energia. Afirmou não saber do destino do dinheiro, se para pagamento de propina para funcionários da Cemig ou para políticos.

A operação foi assim:

A Cemig era sócia minoritária (49%) da Guanhães Energia, que está construindo quatro pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) no interior de Minas. Os 51% do controle estavam com a Investminas, do ex-secretário de Assuntos Estratégicos do governo Collor, Paulo Leoni Ramos. As PCHs enfrentaram inúmeros problemas. Estavam planejadas para entrar em operação de outubro de 2013 a fevereiro de 2014 mas ainda não começaram a produzir.

No ano passado, a Guanhães registrou prejuízo de R$ 32,7 milhões, devido à contabilização de valor de ativos de R$ 21,5 milhões, decorrentes de problemas técnicos de implantação.

Mesmo assim, em fevereiro de 2012, o Conselho de Administração da Light )na qual a Cemig é sócia majoritária) aprovou a aquisição de 51% da Guanhães pelo montante de R$ 25 milhões. A proposta foi levada à Light pela Cemig.

Em ambos os casos, os sócios são investigados pela Lava Jato.

Fonte: GGN

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