Os afluentes do rio Urucuia estão morrendo por causa das barragens do agronegócio



Os afluentes do rio Urucuia estão morrendo por causa das barragens do agronegócio

O movimento Social e ambiental Condhru (Comitê em Defesa da Bacia Hidrográfica do Rio Urucuia) denuncia que o agronegócio está promovendo intenso barramento das águas que vão para o rio, na região Noroeste de Minas, retirando da população ribeirinha o direito à água e dificultando a sobrevivência de muitas famílias.  

A bacia hidrográfica do rio Urucuia está no Noroeste de Minas e passa pelos municípios de Buritis, Arinos, Formoso, região de Unaí, entre outros. O Urucuia deságua no rio São Francisco e tem muitos córregos e ribeirões como afluentes.

Uma das coordenadoras do Condhru,  Camila Silva de Almeida, disse que o barramento das águas está secando os afluentes e, em conseqüência,  o rio também pode ficar sem água na região. O barramento é feito, geralmente, em córregos e ribeirões  afluentes do Urucuia. As conseqüências são a redução das águas ao ponto de secar os corrégos e ribeirões.

Camila Silva aponta as empresas do agronegócio envolvidas com o barramento (ilegais). Segundo ela,  a Fazenda São José realizou o barramento do córrego Barriguda para a produção de  soja. O córrego é um dos principais para o abastecimento de Buritis e várias famílias de pequenos agricultores e assentados pelo Incra estão sem água para irrigação e  uso doméstico. “Estão tirando dos pequenos para garantir a irrigação dos grandes, levando à seca e, inclusive, atingindo o rio São Francisco. O Velho Chico é  um dos rios mais importantes do país”, destacou.

Cinco barragens em um mesmo córrego

O córrego Bebedouro recebeu cinco barragens em sequência. Na parte debaixo está “morto” e os responsáveis são empresários do agronegócio das fazendas Campininha, Colpo, Serra Bonita e Canduá.

A fazenda Serra Bonita também foi responsável por secar o córrego Taquaril.

No Córrego Confins, atualmente, está sendo construída uma nova barragem, pelas fazendas Panambi e fazenda Serra Acima.

De acordo com Camila Silva, o processo de barramento se acelerou a partir do ano 2000 e se intensificou ainda mais no governo  Bolsonaro, que faz corpo mole e até proíbe a fiscalização de órgãos do meio ambiente. Tudo pelo lucro acima da vida.

O Condhru ainda denuncia que os atingidos diretos e indiretos na região envolvem milhares de pessoas de 17 cidades.

À revelia do Estado

 O Condhru tem ido à Justiça para impedir os barramentos, mas a força do Estado é tanta que acaba influenciando o Judiciário, que concedeu liminares para a construção de barragens. As liminares estão sendo concedidas principalmente pela 5ª Vara da Fazenda de BH. O juiz que vem garantindo a construção de barragens é Adriano de Mesquita Carneiro. Nem mesmo uma carta da Copasa informando que os barramentos dificultarão a capitação de águas para a região sensibilizou a Justiça a parar de liberar liminares e cassar as já existentes.

Mobilizações

A coordenadora do Condhru revelou que o Comitê tem se mobilizado em defesa dos moradores e do meio ambiente, por meio de atos, audiências públicas, caminhadas para os locais de barramentos, acampamentos nos locais de barragens, reuniões em comunidades atingidas, denúncias para a Procuradoria Geral da República, Ministério Público Federal (MPF) e Ministérios Públicos locais (MPs), além de palestras e ações nas redes de ensino público.

A luta é dura e difícil, mas não impossível de, um dia, impedir as barragens. “Agora nós também estamos atuando mais firmemente nos processos jurídicos. Temos uma assessoria jurídica para tentar derrubar as liminares e continuamos com o debate, com os atos, com a força do povo”, conclui.

 

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