A variante ômicron tem mudado o que se sabia até agora sobre o contágio do coronavírus. Mas, para especialistas, os estudos iniciais sobre a cepa ainda são insuficientes para afirmar que não há transmissão da ômicron após o quinto dia do aparecimento dos sintomas. Até então, especialistas vinham considerando que, além mais contagiosa, a cepa também teria um período de incubação mais curto que as anteriores.
Em reportagem da BBC News Mundo, o médico especialista em doenças infecciosas e genética clínica Vicente Soriano, ex-assessor da Organização Mundial da Saúde (OMS), explica que, no caso da ômicron, o que se aparenta é que tempo desde a exposição ao vírus até o aparecimento dos sintomas seria de dois a três dias. Um período de incubação menor do que cepas anteriores, em que os sintomas apareciam de cinco a seis dias após a infecção. Ou quatro, no caso da delta.
Em dezembro, a partir de seis casos de ômicron, os Estados Unidos apresentaram um estudo preliminar também indicando um período médio de incubação de três dias. Em geral, o tempo que o vírus permaneceria no organismo seria de sete dias, ainda segundo o especialista.
Devido a esse período de infecção mais curto apontado até o momento, alguns países começaram a reduzir o período de isolamento. Nos Estados Unidos, por exemplo, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) diminuiu a quarentena para cinco dias, além de mais cinco de uso de máscaras ao ar livre. No Reino Unido, o isolamento foi reduzido de 10 para sete dias, depois de dois testes de antígeno – os chamados testes rápidos – negativos.
Nesta semana, o Ministério da Saúde também definiu novas regras. A quarentena caiu de 10 para sete dias. O paciente, contudo, não poderá apresentar febre e sintomas nas 24 horas finais desse período e nem fazer uso de antitérmicos. A OMS, no entanto, recomenda 14 dias de afastamento. Tanto no Brasil como nos Estados Unidos, especialistas criticaram as mudanças e vêm cobrando cautela das autoridades.
Divergências
No entanto, um novo estudo realizado pelo Instituto Nacional de Doenças Infecciosas do Japão, divulgado nesta semana no Brasil, revela uma descoberta diferente sobre o período do pico de transmissibilidade da ômicron. Com base em casos positivos para a variante, coletados em dezembro, de 21 pessoas – sendo 19 vacinadas – os pesquisadoras observaram que “a quantidade de RNA viral foi mais alta em 3 a 6 dias após o diagnóstico ou 3 a 6 após o início dos sintomas”.
Segundo informações do jornal O Globo, a carga viral diminuiu gradualmente ao longo do tempo, com uma diminuição acentuada após 10 dias desde o diagnóstico ou início dos sintomas. “Nenhum vírus infeccioso foi detectado nas amostras respiratórias após 10 dias desde o diagnóstico ou início dos sintomas. Esses achados sugerem que os casos de ômicron vacinados provavelmente não liberam o vírus 10 dias após o diagnóstico ou o início dos sintomas”, diz o estudo.
O resultado do artigo mostra que a diretriz do CDC dos Estados Unidos pode estar errada e infectados estariam sendo liberados ainda transmitindo o vírus. A redução da quarentena nesse caso atenderia mais a um anseio de setores econômicos que precisam repor funcionários afastados pela covid-19 do que à saúde pública. Em entrevista ao Sul21, publicada na última quinta (13), o infectologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre Alexandre Zavascki, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), falou em erro de interpretação em relação ao que foi dito pelo CDC sobre o contágio da ômicron.
De acordo com o infectologista, não é possível dizer que não há transmissão após o quinto dia, já que os próprios documentos do órgão dos Estados Unidos dizem que os pacientes assintomáticos poderiam retomar suas atividades usando máscara bem ajustada até o 10º dia. “Eles mantiveram uma proteção adicional assumindo que existe uma proporção de pacientes que, a partir do quinto dia, ainda conseguem eliminar o vírus”, avalia.
Explosão de casos
Os estudos até agora também indicam que pessoas infectadas pela ômicron que não apresentam sintomas podem transmitir o vírus. Dada a elevada transmissibilidade da variante, há uma explosão de novos casos no Brasil que já começa a sobrecarregar os sistemas de saúde. Em nota técnica divulgada na quarta (12), o Observatório Covid-19 da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) alertou que há um aumento na ocupação de leitos de UTI para adultos no Sistema Único de Saúde (SUS) que exige atenção. Pelas taxas observadas no dia 10 e em comparação com a série histórica, o documento mostra que um terço das Unidades Federativas e dez capitais encontram-se nas zonas de alerta intermediário e crítico.
É o caso de Pernambuco, que registra taxa 82% de ocupação de leitos, e está na zona de alerta crítico. Na sequência, aparecem Pará (71%), Tocantins (61%), Piauí (66%), Ceará (68%), Bahia (63%), Espírito Santo (71%), Goiás (67%) e Distrito Federal (74%), na zona intermediária. Entre as capitais, Fortaleza (88%), Recife (80%), Belo Horizonte (84%) e Goiânia (94%) figuram na zona de alerta crítico. E Porto Velho (76%), Macapá (60%), Maceió (68%), Salvador (68%), Vitória (77%) e Brasília (74%) também estão na zona de alerta intermediário.
Para a Fiocruz, é preciso prosseguir com o uso de máscara em locais fechados, evitar aglomerações e reorganizar a rede de serviços de saúde. A entidade diz que é que necessário ainda dar conta dos desfalques de profissionais afastados por contrair a covid e garantir uma atuação eficiente da atenção primária em saúde no atendimento a pacientes empregando, por exemplo, teleatendimento, além de prosseguir na vacinação da população.
Fonte: Rede Brasil Atual