“O sentimento é de ferida aberta”, afirma viúva de vítima da Chacina de Unaí



“O sentimento é de ferida aberta”, afirma viúva de vítima da Chacina de Unaí

 Acusado de ser um dos mandantes da Chacina de Unaí, Antério Mânica voltou a julgamento nesta semana. A audiência começou na terça-feira (24), às 8h30, no Tribunal do Júri da Justiça Federal, em meio a protestos de familiares das vítimas e auditores fiscais.

O ex-prefeito de uma da maiores cidades do noroeste de Minas é acusado de ser mandante do assassinato dos auditores fiscais do trabalho, Nélson José da Silva, João Batista Soares Lage e Eratóstenes de Almeida Gonçalves, e do motorista Aílton Pereira.

O crime aconteceu no dia 28 de janeiro de 2004, na zona rural de Unaí (MG). Na ocasião, os auditores fiscalizavam a existência de situações de trabalho análogas à escravidão em fazendas pertencentes à família Mânica.

Em 2015, Antério Mânica, junto ao irmão Norberto Mânica e aos empresários do agronegócio Hugo Alves Pimenta e José Alberto de Castro, foi condenado a cem anos de prisão.

Alegando serem réus primários, todos recorreram da decisão em liberdade. No julgamento dos recursos, em 2018, a Justiça definiu por anular a condenação de Antério e realizar um novo julgamento.

Viúva de Nelson, Helba Soares contou ao Brasil de Fato MG, que a expectativa é de que Antério seja novamente condenado.

“O que a gente espera hoje é que ele tenha a mesma sentença. No mínimo 100 anos de prisão”, enfatiza

Dinheiro e impunidade

Após quase duas décadas sem a responsabilização pelo crime, a avaliação do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho (Sinait) é de que a anulação da condenação do ex-prefeito transmite uma mensagem de impunidade.

“A única razão que explica a anulação foram as manobras processuais, garantidas pelo pagamento de advogados de bancas reconhecidas no país. Se compararmos essa situação a uma realidade em que o criminoso fosse um cidadão comum, que vive de seu salário, certamente o desfecho não demoraria tanto”, afirma Carlos Silva, vice-presidente do Sinait, ao Brasil de Fato MG.

Familiares das vítimas sofrem

Quem também tem pressa de que os culpados sejam responsabilizados são os familiares das vítimas. Além do sentimento de que a Justiça brasileira é falha, as famílias dos auditores e do motorista convivem com a ausência de seus entes queridos.

“O sentimento nosso é de ferida aberta. São 18 anos lembrando todos os dias que ainda não foi feita a justiça pela morte dos quatro”, lamenta Helba.

Já o vice-presidente do Sinait, contou que o sindicato é procurado pelas famílias como ponto de apoio emocional.

“[Os familiares] choram, sofrem, lamentam e se angustiam com a situação. [O crime] interrompeu a convivência esperada das famílias. Os filhos não puderam contar com a presença dos pais em sua formação”, completa.

Fonte: Brasil de Fato MG, por Ana Carolina Vasconcelos

 

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