A responsabilidade de protegê-las também é sua
Olhe para o lado. Cada mulher que passa por você tem uma história de horror – algo comum, infelizmente, num país com tamanha desigualdade entre gêneros e uma cultura que naturalizaa violência. As informações alarmantes sobre a vida das mulheres no país não mentem.
Segundo o 9º Anuário Brasileiro da Segurança Pública, até 2014 o Brasil registrava um estupro a cada 11 minutos, mas as autoridades só tomam conhecimento de 30% dos caso se é possível que a proporção seja de um caso de violência sexual por minuto. De acordo com pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) de 2011, 70% das vítimas são crianças e adolescentes.
A violência também ocorre nas relações de trabalho. Com dupla jornada (em casa e no trabalho formal), mulheres continuam trabalhando, em média, cinco horas a mais que homens e ganhando apenas 76% do salário para exercer o mesmo cargo, de acordo com dados do IBGE de 2016.
No geral, o Brasil amarga a 5º posição de feminicídios no ranking mundial. As maiores vitimadas são negras.Minas Gerais é o 2º estado do Sudeste que mais assassina mulheres.A violência acontece, majoritariamente, em vias públicas e dentro da própria casa, segundo a Agência Patrícia Galvão.
Como se não bastassem as lutas diárias das mulheres, o governo violenta seus direitos.Está na pauta uma Reforma da Previdência que não leva em conta a dupla jornada da mulher: iguala a idade para aposentadoria entre homens e mulheres que passaria a ser 65 anos de idade, dificultando o acesso para mulheres que também dedicam tempo e força de trabalho dentro do lar.
E eu com isso?
Essa foi a pergunta que um apresentador de TV fez ao ouvir o relato de estupro de uma celebridade. É comum acreditarque questões de gênero não devem ser debatidas entre os homens.Ledo engano: nada floresce, em nenhum campo, sem a participação da mulher.
Em tempos de violência,mais uma vez, é do ventre feminino que se substantiva a palavra de ordem: resistência.Das bandeiras no Brasil Colônia aos temerosos dias atuais, a mulher está em cada memória histórica que gestou o país de hoje. Na linha de frente, com seus filhos nos braços e o mundo nas costas, não há um momento que passe impune à bravura e à participação feminina.
Para manter a subjugação das mulheres e, consequentemente, a desigualdade social e as relações de poder tradicionais, diversos tipos de violência de gênero são praticados. O machismo é estrutural e enraizado, mas nunca é tarde para rever atitudes e questionar a forma como você trata as mulheres ao seu redor.
Confira alguns tipos de violência de gênero:
Violência simbólica Você já se demorou numa explicação sobre determinado assunto sem ao menos questionar se sua interlocutora já dominava o tema? Presumir que a mulher é incapaz e ignoranteéMansplaining (ou "Homem Explicando", em tradução). Também é violência simbólica desqualificar o trabalho de uma mulher apenas pelo seu gênero.
Violência física Não é apenas espancamento. Também é violência física arremessar objetos, sacudir e segurar com força.
Violência moralExpor a vida íntima da mulher por imagens, vídeos ou relato de sua intimidade. Tentar controlar e isolar uma mulher do convívio com outras pessoas, reter documentos e quebrar seus objetos pessoais.
Violência verbalDesprezá-lae insultá-la pormeio de ofensas verbais.
Violência psicológica/emocional Humilhar, desvalorizar e debochar de uma mulher, bem como chantageá-la e tentar desestabilizá-la emocionalmente para conseguir algo, bem como distorcer fatos e omitir situações para deixar a vítima em dúvida sobre sua sanidade.
Violência sexual Todo ato libidinoso não consensual é considerado estupro. Não é necessário haver penetração. Obrigar a mulher a praticar atos que causem desconforto ou repulsa, ou expô-la a situações constrangedoras, também é violência.
Violência do Estado Através da desigualdade salarial, atendimento precário em delegacias especializadas e, agora, na insistência na Reforma da Previdência, que vitimará mulheres de forma muito mais alarmante.
Todos estamos sendo chamados a dar um basta e mudar o comportamento em relação às mulheres que nos cercam – colegas de trabalho, familiares e amigas. Vamos erradicar as micro atitudes cotidianas que terminam em desrespeito, violência e podem terminar nofeminicídio.
É importante marchar ao lado delas contra a desigualdade no Brasil e no mundo. Nesta quarta-feira (8), participe do ato unificado contra a Reforma da Previdência, saindo da Praça da Liberdade, a partir de 15h. Juntos, podemos jogar o machismo para escanteio e lutar lado a lado por um jogo mais democrático no país.
Segui-las, ouvi-las, incluí-las. Luta é substantivo feminino.