*Há três semanas, um trabalhador se aproximou quando eu distribuía o jornal Chave Geral na Sede, e comentou a matéria sobre os ‘demitíveis’ e demitidos, acima dos 55 anos. Ele me sugeriu nova matéria, sobre o adoecimento dos trabalhadores e trabalhadoras da Sede. Contou que havia sofrido um enfarto, duas semanas antes, e que, com certeza, um dos motivos era a pressão e angústia que os trabalhadores estão vivendo no Edifício Sede.
O eletricitário destacou que o clima na empresa anda pesado e que as pessoas estão adoecendo devido ao modelo de gestão implantado e pelas incertezas sobre o futuro dos trabalhadores/as na Cemig.
Como nós, ele concorda com a chegada dos novatos, pela oportunidade de trabalho que foi dada a eles depois de lutas da categoria para conquistar o concurso público. O que não pode acontecer é o que a Cemig tem praticado ao demitir os mais velhos ou encostá-los, esvaziando suas atividades, ao mesmo tempo que os utiliza quando é de seu interesse, para que repassem seus conhecimentos para os mais novos, em treinamento.
Em maio tivemos novamente mais dois casos de enfarto na Cemig.
É óbvio que avaliações do quadro clínico e emocional das pessoas devem ser feitas por médicos. Mas, diante desse cenário, algumas reflexões sobre a saúde dos trabalhadores são inevitáveis.
Há anos a Cemig implanta um modelo de gestão que prioriza o lucro e o repasse de dividendos para acionistas e coloca os trabalhadores em segundo plano. Esse modelo de gestão provoca distúrbios emocionais que geram desmotivação, angústia, depressão, perda da autoestima e a falta de perspectiva. São sintomas que a própria medicina confirma como desencadeadores das mais diversas doenças.
Os relatos de vítimas do adoecimento profissional são muitos e chegam de vários lugares. No Centro de Operação e Distribuição (COD), da rua Itambé, há notícias de que vários trabalhadores vivem à base de remédios. Até os ocupantes de cargos mais elevados estão expostos aos efeitos negativos de um modelo de gestão que adoece.
Em tempos de debates intensos no Pacto pela Saúde e Segurança, essa questão precisa ser analisada para que seja construído, de fato, um novo modelo de gestão para a Cemig, onde os trabalhadores sejam valorizados e se crie um ambiente de trabalho humanamente mais saudável.
As Cipas (Comissões Internas de Prevenção de Acidentes), por serem instrumentos autônomos e coletivos de prevenção e promoção da segurança e saúde do trabalhador, são espaços importantes para reflexões e ações que possam melhorar os processos e as relações de trabalho.
Finalmente, fica o questionamento para os responsáveis pela gestão da Cemig: até que ponto essas praticas de gestão podem afetar a saúde dos trabalhadores?
Até o Papa Francisco, criticou, recentemente, modelos perversos de gestão e destacou que o lucro não pode estar acima da vida. A Cemig precisa mudar sua lógica administrativa e valorizar o trabalhador, enquanto ser humano.
*Jair Gomes Pereira Filho é diretor do Sindieletro