O patriarcado, o machismo e o cotidiano



O patriarcado, o machismo e o cotidiano

Muitas vezes nos deparamos com imagens na mídia de mulheres com marcas de violência física e nos chocamos. Essa é a
expressão mais visível do machismo. Entretanto, não é a única. O machismo é o braço cultural da misoginia, e a misoginia é o ódio às mulheres, pregado e perpetuado pela sociedade patriarcal. Mas o que é o patriarcado, de onde vem?

A sociedade nem sempre foi ancorada no patriarcado. Em tempos de uma organização social primitiva, as pessoas se  arranjavam em torno da figura da mãe, a partir da descendência feminina, uma vez que desconheciam a participação masculina na reprodução.

Os papéis sexuais e sociais de homens e de mulheres não eram definidos de forma rígida e as relações sexuais não eram monogâmicas, tendo sido encontradas tribos nas quais as relações entre homens e mulheres eram bastante igualitárias. Todos os membros envolviam-se com a coleta de frutas e de raízes, alimentos dos quais sobreviviam, bem como a todos cabia o cuidado com as crianças do grupo.

Muito tempo depois, com a descoberta da agricultura, da caça e do fogo, as comunidades passaram a se fixar em um território.
Aos homens, predominantemente cabia a caça, e às mulheres, também de forma geral, embora não exclusiva, cabia o cultivo da
terra e o cuidado das crianças. 

A partir daí, as desigualdades sociais de gênero ancoram-se na divisão do trabalho entre homens e mulheres, assim como as formas de hierarquização derivadas dessa concepção familiar. A defesa desta estrutura familiar imposta no público é a  ferramenta mais feroz que alimenta todas as desigualdades, a opressão econômica e, portanto, o sistema de dominação cultural e simbólico.  Esse sistema impõe um modo de funcionamento social que atinge a todos e todas.

O sistema patriarcal sustenta o capitalismo, manifesta-se nas diversas esferas da vida pública e privada, na família, na religião e
na cultura, ou seja: na sociedade como um todo. Ele revela-se no cotidiano, desde comportamentos explicitamente violentos, até frases sutis, que parecem inofensivas. Aparece em relacionamentos abusivos, quando a mulher é proibida pelo homem de usar determinadas roupas ou maquiagens. Ou quando ele impede que ela tenha amizades e se relacione com familiares.

Acontece, ainda, se o homem impede que a mulher use com liberdade suas redes sociais ou sempre se vê induzida a pensar que
está errada nas discussões do casal, mesmo acreditando que está certa. 

Tem mais: quando o homem está sempre fazendo chantagens emocionais com a mulher para conseguir o que ele quer ou quer
fazer com que ela se sinta burra e rebaixada. O patriarcado também mostra suas garras quando as tarefas domésticas ficam a cargo das mulheres, como se fosse algo natural. Ora, não são todos moradores de uma casa? Se todos sujam, todos deveriam limpar; se todos comem, todos deveriam cozinhar! Em contextos profissionais, o patriarcado aparece por meio do assédio sexual, ou quando um colega, homem, exercendo a mesma função que sua colega mulher, recebe mais reconhecimento
por isso e ganha mais. 

O patriarcado e o machismo nos circundam e guiam nossas relações sociais. É preciso estar em constante desconstrução de
práticas opressoras, pois nem sempre é fácil perceber que estamos vivendo situações de machismo. 

Mulher, siga atenta e firme! Denuncie e reivindique seu lugar de direitos. Homem, junte-se a essa luta! Combata o machismo no seu círculo social, com seus amigos, familiares e no trabalho!

Por Julie Amaral, psicóloga da Secretaria de Saúde do Sindieletro.

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