O governador e as fake news sobre a eficiência da Cemig



O governador e as fake news sobre a eficiência da Cemig

Há 10 meses no governo de Minas, Romeu Zema (Novo) destaca que a Cemig é ineficiente e não contribui para o desenvolvimento. Diz também que os trabalhadores custam caro para a empresa. Romeu Zema, no entanto, não prova, com dados, as falsas justificativas para seu propósito de campanha: vender a companhia para o mercado privado.

Levantamento do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostra que a Cemig está em plena recuperação financeira e se mantém com uma gestão eficiente. Em 2016, o lucro líquido da empresa foi de R$ 335 milhões, em 2017 evoluiu para cerca de R$ 1 bilhão e, em 2018, subiu para R$ 1,7 bilhão. O lucro líquido do 1º semestre/2018 foi de R$ 454 milhões, mas nesse mesmo período, em 2019, cresceu fantasticamente, para R$ 2,912 bilhões.

Ainda segundo o estudo, os gastos com pessoal em relação à receita operacional líquida caíram de 6,45% para 5,25%. Outro dado importante em relação à folha de pagamento é a diferença entre os salários. Enquanto os trabalhadores recém empossados recebem cerca de R$ 1900 por mês, o presidente, Cledorvino Belini, que não é concursado, recebe mais de R$ 80 mil por mês.

A participação dos custos operacionais em relação à receita líquida também está em queda. No 1º semestre de 2018 esses custos representavam 85,92% da receita líquida e no 1º semestre de 2019 registrou percentual de 79,20%.

A dívida é pagável

Já o discurso de que a Cemig precisa do aporte de R$ 27 bi do Estado é questionado pelo economista do Dieese, Carlos Machado. Segundo ele, a forma parcial e enviesada como a informação tem sido veiculada tem gerado uma interpretação duplamente equivocada: a de que esta é uma necessidade imediata, e outra, de que o governo de Minas Gerais, com sérias dificuldades financeiras, teria que fazer este aporte. Ele informa que os 27 bi referem-se a gastos com pagamento de dívida e realização de investimentos com desembolso previsto para o médio e longo prazo.

Carlos diz que a dívida líquida da Cemig foi calculada em R$ 12,5 bilhões no 2º semestre de 2019. Ela cresceu muito antes de 2015, ao mesmo tempo em que os R$ 12 bi de lucro obtidos de 2011 a 2014 foram integralmente distribuídos aos acionistas, na forma de dividendos e juros.

“Não se trata de uma necessidade imediata, uma vez que o pagamento desta dívida está programada para 2019-2025. Entretanto, nas atuais condições contratuais, há uma grande concentração do desembolso previsto para 2024, cerca de 5,4 bi, ou 43% do total. Mas é importante notar que, graças à capacidade de geração de caixa e à redução dos dividendos pagos ao patamar de 50% do lucro, a dívida líquida apresentou redução de 4,74% no 1º semestre de 2019”, pondera Carlos.

E há boa perspectiva. Segundo a própria Cemig, a obtenção de Lajida (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) para os próximos 5 anos (2019-2023) está entre 26 e 28 bilhões de reais. É um período anterior ao prazo previsto atualmente para o vencimento da maior parcela da dívida, em 2024.

Zema disse:

“…Há dezenas de investimentos em projetos de energia fotovoltaica que estavam paralisados por falta de conexão (nas redes)”

Segundo explica o Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores na Indústria Energética de Minas Gerais (Sindieletro-MG), para a conexão das fotovoltaicas nas redes da Cemig é necessária ampliação das linhas para se adequar à demanda. As legislações e prazos regimentais também precisam ser cumpridos por empresas privadas, que fazem investimentos à revelia, buscando só o lucro, sem cumprimento de prazos e preocupação social.

A Cemig investe em energias alternativas há anos e tem planejamento para investimentos nas redes de Distribuição (Cemig D), Geração e Transmissão (GT) de 2020 a 2023. Conforme comunicado da empresa, serão R$ 6,458 bilhões para a D e R$ 1,87 bilhão para a GT. Muito antes de Zema ser governador, a Cemig  já era a maior Distribuidora do Brasil em extensão de redes, com 453.395 quilômetros de linhas de distribuição. Possui a maior usina de energia solar de cobertura esportiva do mundo, que abastece o estádio do Mineirão. E possui ainda a maior usina fotovoltaica da América Latina, inaugurada em 2017, na cidade de Pirapora, com tamanho equivalente a 1.500 campos de futebol e mais de um milhão de painéis solares.

“Vamos deixá-la estatal para que ela seja um obstáculo ao desenvolvimento, ou será que devemos ser mais realistas e privatizá-la?”

O ex-presidente da Cemig Carlos Eloy destaca que, se privatizar a companhia, Minas será um “caos total”. Eloy justifica que não se destinará energia em abundância para as regiões que mais necessitam, por apresentarem menor rentabilidade. Ele destaca que tragédias como as de Mariana e Brumadinho jamais teriam acontecido se a Vale ainda fosse estatal e alerta que a Cemig possui várias barragens de terra que correrão risco com a privatização.

Já Aloísio Vasconcelos, ex-diretor, disse que a estatal existe há 67 anos e sempre foi lucrativa, e o caminho é a modernização, com novos projetos, como os de energia solar e eólica. “A Cemig é peça chave para o desenvolvimento. Atende 774 municípios e tem compromissos econômico, social e até cultural”, enfatiza.

“Quero que o consumidor pague menos (pela energia), vamos fazer um edital com condições para que isso ocorra. Já tivemos a Telemig, que foi privatizada. Hoje temos várias operadoras de telefone, melhoraram os serviços”

A experiência das privatizações no Brasil, nos anos 90 e 2000, mostra que os preços das tarifas dispararam e há anos o setor de telefonia lidera reclamações nos órgãos de defesa do consumidor. O MPMG divulgou uma pesquisa no início do ano: nos Procons estaduais a telefonia celular lidera as reclamações (17%). Em 2º lugar está a telefonia fixa (14,44%).  Em Goiás, a Celg privatizada, é responsável por apagões diários. Uma CPI investigou a privatização e até o partido de direita, o DEM, já cobra a sua reestatização.

População é contra

Segundo pesquisa encomendada pela Associação Mineira de Municípios e divulgada pela Reuters, 47,7% dos mineiros são contrários à privatização da Cemig, enquanto 36,2% são favoráveis e 16,1% não opinaram

Fonte: Brasil de Fato, por Mariângela Castro 

 

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