O assédio moral no ambiente de trabalho pode ser entendido como violência psicológica ou moral que expõe trabalhadores e trabalhadoras a situações vexatórias, constrangedoras e humilhantes de forma repetitiva e prolongada.
Mas então, trata-se apenas de comportamentos destrutivos e espontâneos no ambiente de trabalho? Não! É preciso entender que, por causa das transformações no mundo do trabalho, o assédio tem sido usado como ferramenta da gestão.
Com o chamado Taylorismo/Fordismo, por exemplo, os trabalhadores e trabalhadoras passaram a ser analisados detalhadamente em sua prática. Os gestores se apropriaram desse conhecimento dos processos de trabalho e dividiram as atividades em série. Um trabalhador que antes fazia sozinho um determinado produto passou a fazer só parte dele e agora sob ordens.
Posteriormente, a figura de gestores é substituída pelas regras, uma idéia sedutora, na qual o líder autoritário passa a se comportar como um gestor democrático. Os trabalhadores e trabalhadoras passam a ser polivalentes, ou seja, é necessário saber fazer tudo com eficiência e isso só aumentou a pressão.
A partir daí se dá a inevitável precarização das condições de trabalho. Exige-se do trabalhador e da trabalhadora, que passa a ser denominado “colaborador” e “colaboradora”, que vista a camisa da empresa, que abrace seus valores, ideologias e mantenha seu compromisso.
A alta competitividade atrelada à precarização das condições de trabalho cria o ambiente propício e perfeito para o assédio laboral. Para capturar e dominar a subjetividade de cada trabalhador e trabalhadora, o controle, por vezes, passa a ser feito através da truculência e da humilhação.
É importante compreender que a perversão é inerente ao capitalismo, não se trata puramente de comportamentos perversos de determinados gestores no ambiente de trabalho- não que eles não existam- mas trata-se de um assédio possibilitado e reforçado pelas políticas de gestão das empresas.
As pessoas assediadas muitas vezes são estigmatizadas, tachadas como frágeis e indefesas. Elas não são, mas na maioria das vezes estão vulneráveis e em posição de desvantagem em relação aqueles que propagam a política de assédio e não conseguem combater ou enfrentar essa violência.
Na Cemig a realidade não é diferente. Gerentes e supervisores são coniventes e reproduzem a política de gestão violenta e adoecedora. Entende-se que a única forma de garantir que trabalhadores estejam engajados e produtivos é controlando-os de maneira acirrada. Há aí um equívoco, já que a satisfação e possibilidade de desenvolvimento no trabalho são fatores importantes para saúde e produtividade.
O assédio adoece, estigmatiza e incapacita os trabalhadores e trabalhadoras. É preciso combatê-lo em sua base, é preciso repensar as políticas de gestão. É preciso que cada trabalhador vítima desta gestão truculenta denuncie esta prática junto ao seu Sindicato, para que possamos denunciar e cobrar mudanças da Cemig.
Julie Amaral – Psicóloga do Trabalho e Assessora do Departamento da Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora do Sindieletro