Seria oportuno que a Presidência da República determinasse aos chefes das Forças Armadas que fizessem um pronunciamento oficial repudiando chamamentos que lhes têm sido feitos no sentido de reeditarem o movimento que culminou no golpe de 1964
Há sucessivas semanas que a internet foi tomada por uma onda de boatos sobre protesto convocado pelo grupo autodenominado Anonymous em (bem) mais de uma centena de cidades brasileiras no próximo dia 7 de setembro, aí incluídas as principais capitais, com atenção especial para Brasília, mais precisamente para o palanque em que estará a presidente Dilma Roussef durante o tradicional desfile militar que ocorre na capital federal anualmente.
Mas o que há de novidade em protestos de rua? Desde junho deste ano, passaram a ocorrer às pencas dia sim, dia também, ainda que com menor frequência e tamanho de julho em diante.
Mais um, portanto, não faria diferença se não fosse o fato de que, de repente, grupos ligados a oficiais militares da reserva e até a parlamentares assumidamente de direita como deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) passaram a convocar suas tropas virtuais para uma pretensamente apocalíptica e gigantesca manifestação contra o governo no próximo sábado.
Com efeito, as comemorações do 7 de setembro dos últimos anos vêm sendo marcadas por ondas de protestos, mas nunca diretamente contra o governo federal e nunca encabeçadas diretamente por grupos de extrema-direita como esses que, agora, adotam um discurso grandiloquente e ameaçador concomitantemente com preocupação que vem sendo detectada por este blog no governo federal e em importantes políticos do PT e de partidos aliados.
Paralelamente, simpatizantes do governo passaram a espalhar nas redes sociais e na blogosfera memes (peças gráficas com mensagens políticas) e posts diversos denunciando possíveis “atentados” que estariam sendo premeditados pela direita para ocorrer no próximo Dia da Independência.
Não houve, até agora, uma manifestação clara do grupo Anonymous em relação às ameaças de grupos tidos e havidos como compostos por “viúvas da ditadura” e lideranças políticas de extrema-direita contrárias a movimentos sociais, sobretudo aos grupos de mulheres, homossexuais, negros, sindicalistas e todo aquele que professe uma visão socialista ou até mesmo socialdemocrata.
Nesse contexto, inclusive para serenar espíritos, seria oportuno que a Presidência da República determinasse aos chefes das Forças Armadas que fizessem um pronunciamento oficial repudiando chamamentos que lhes têm sido feitos no sentido de reeditarem o movimento que culminou no golpe de 1964, até porque tais chamamentos podem ser encontrados em incontáveis páginas pela internet de forma inclusive criminosa, haja vista que pregam uma ação antidemocrática e ilegal no Estado de Direito vigente.
O que me cumpre dizer, ao fim, é que há várias e várias semanas que venho conversando com pessoas importantes ligadas ao governo, ao PT e a partidos aliados e tais interlocutores não descartam que a extrema-direita possa ter preparado alguma coisa preocupante para ocorrer no próximo dia 7.
Em anos anteriores, o barulho da extrema-direita no 7 de setembro tem se misturado ao da extrema esquerda, que não critica só governos do PT, mas também os do PSDB, do PMDB e de outros partidos que considera “de direita”. Apesar disso, as extremidades da política vêm marchando juntas, contentando-se em fazer número a qualquer preço, tapando o nariz para o oposto ideológico que estiver ao lado, tanto pela esquerda como pela direita.
Todavia, a apropriação do próximo 7 de setembro pela direita poderá afastar os partidos de extrema-esquerda, como PSOL, PSTU e PCO de manifestações com nítido caráter político que estão sendo convocadas inclusive com apoio explícito de lideranças políticas e militares como as supracitadas. Ao menos é que se espera desses partidos, para os quais não pegaria lá muito bem marcharem ao lado de um Jair Bolsonaro.
Seja lá como for, mais uma vez o que se teme é o imobilismo do governo e dos partidos e movimentos sociais que o sustentam diante de um tipo de recurso político que tem uma longa e antiga história neste país, sobretudo nos idos de 1964, quando as ruas foram o embrião de uma agressão à democracia que dispensa maiores detalhes.
Este post está sendo publicado a 48 horas da manhã do próximo sábado. Tempo mais do que suficiente para que a presidente da República DETERMINE às Forças Armadas que se manifestem oficialmente contra o uso de seu nome e de sua imagem nos delírios golpistas de viúvas da ditadura de todas as idades, estratos sociais e regiões do país e que, a cada dia que passa, parecem mais e mais inconformadas com a democracia vigente no país.