Prestes a completar 66 anos, o Sindieletro retoma o espaço da mulher em suas publicações. Não se trata de publicar somente assuntos específicos das eletricitárias, mas registrar o debate sobre temas relevantes e diretamente relacionados ao gênero feminino, com impactos na vida de toda mulher.
Mesmo antes da organização sindical no Brasil ser uma verdade, nossa entidade foi pioneira nas linhas escritas exclusivamente pelas e para as trabalhadoras. Num contexto em que a luta pela emancipação feminina ainda era restrita no Brasil, a colunista Dorah Fernandino Vilela tentava proporcionar às leitoras eletricitárias um conteúdo específico na “Página Feminina”, publicada em 1957 no jornal “Hidro-elétrico”, primeiro jornal da categoria.
Mesmo sem saber e ainda que em sua coluna não explicitasse a inspiração vinda das lutas feministas por emancipação, no início do século 20, Dorah, com certeza, contribuiu para o empoderamento das eletricitárias de gerações futuras.
Nos anos de 1980, já embaladas pelo sonho feminista contemporâneo, de libertação da mulher, algumas eletricitárias mantiveram a coluna “Nós, Mulheres”. No espaço, denunciavam o menor poder aquisitivo das trabalhadoras na Cemig e ampliavam a luta por direitos ainda negligenciados por uma empresa predominantemente masculina, mas onde a atuação de trabalhadoras tornava-se essencial.
Na década seguinte, as mulheres avançavam, ocupando politicamente espaços na luta por uma sociedade justa e igualitária, fortalecendo a classe trabalhadora e o movimento sindical como um todo. Mas, recentemente, uma nova geração revitalizou as lutas feministas, mostrando, com coragem e ousadia que, apesar da força da luta de classe mais geral e dos movimentos sociais, as questões de gênero precisam avançar no Brasil.
Na Cemig, homens ainda ocupam quase todos os cargos de chefia e alguns praticam ou ajudam a encobrir várias formas de assédio, fazendo perdurar a cultura machista. Empoderadas, as mulheres do Brasil e da Cemig alertam que não toleram mais serem violentadas, discriminadas e oprimidas pela sociedade patriarcal e sob o silêncio cúmplice dos governos e da Justiça.
Será que as lutas feministas já conseguiram mudar as bases da sociedade brasileira? Certamente, não. Tivemos incontestáveis conquistas e mantivemos viva a luta no contra-poder. Mas precisamos superar a dominação e opressão vinda das imposições empresariais, culturais, estéticas e patriarcais, reinventando o que é ser mulher neste mundo.
Nossa entidade já teve uma presidenta brilhante - Maria Felícia da Rocha Macedo - em plena ditadura militar. E, nas décadas seguintes, várias lideranças, como Miriam Brandão, Rita Tavares, Claudia Ricaldoni e Ângela Souza, engajadas em grandes debates sobre a igualdade de gênero. Esses nomes do passado ainda nos orgulham e nos desafiam a fazer mais. Novos nomes surgiram representando a luta das trabalhadoras da Cemig como o da eletricitária Maria de Lourdes Lima da Fonseca.
O poder sempre foi sinônimo de ter voz e por isso nossas publicações privilegiam o debate de questões de gêneros que não podem mais esperar.
Você, trabalhadora, está convidada a escrever sobre qualquer assunto relevante para esta coluna que é dirigida a todos os gêneros- como aliás devem ser as lutas por igualdade. Envie textos com até 2 mil caracteres para cinformacao@sindieletromg.org.br.
Como ensina a musa Elza Soares: “Acorda, quem está dormindo!” Vamos denunciar aqui o que permanece injusto, esquecido e desigual na relação de gênero e tudo o que afeta a dignidade da mulher.
Vamos, sobretudo, conspirar pelo novo, dominar a palavra, vencer o esquecimento, democratizar a vida e iluminar tudo o que é possível em nossa potência máxima, humana e universal- e construir o muito que podemos almejar quando nos chamamos de mulher.”