Neide e Eugênia, as guerreiras que venceram tempos ultraconservadores



Neide e Eugênia, as guerreiras que venceram tempos ultraconservadores

 

A eletricitária aposentada Neide Simões Jacinto, e a esposa de um aposentado da Cemig, Eugênia Almeida, têm encontro
marcado todas as terças para as atividades da Secretaria de Aposentados do Sindieletro. Dificilmente faltam. Na última terça,
elas também se encontraram com a reportagem do Chave Geral Especial: Dia da Mulher. Neide e Eugênia abordaram a experiência de vida, as desigualdades de oportunidade e salários e o 8 de Março.

Ambas são da geração dos anos 70 e 80 e mostram que nós, mulheres, independente de idade, raça, etnia, religião, orientação
sexual, se solteiras, se casadas, divorciadas ou viúvas, temos em comum a necessidade de defender a liberdade plena e a
igualdade de direitos.

A dupla reconhece a importância do Dia Internacional da Mulher, mas adianta que “todo dia d everia s er d a mulher”. E ugênia
justifica: “Por que não existe um dia do homem? Ele há séculos domina, recebe maiores salários e melhores oportunidades
de ocupar cargos de chefia. Então, todo dia é dia do homem e, para nós, o justo e o digno seriam o respeito e a igualdade salarial e de oportunidades, para nunca mais precisarmos comemorar um dia da mulher”.

Mãe solteira

Neide lembra que passou por uma situação que era inimaginável para muitas famílias tradicionais nos anos 80, o que a tornou mais forte como mulher. Ela engravidou solteira e criou o filho, Lucas Manoel, sozinha, numa época em que o discurso conservador mais brando era: “Moça de família que engravida solteira desonra pai e mãe”. Não era rara a expulsão da mulher de casa.

“Minha família aceitou, mas não aplaudiu”, conta. Ela começou a trabalhar na Cemig em 1975  e conquistou cedo a sua independência financeira. Isso a ajudou a seguir em frente de cabeça erguida. O filho, “presente de Deus”, hoje é doutor em TI.

Neide lembra que, quando soube da gravidez – “imagina, ninguém da família e do meu trabalho havia me visto com namorado”
– temeu sobre o que “os outros poderiam falar” e até a possibilidade de demissão, pois ainda não havia a lei que garantia
estabilidade para gestantes. Mas tudo não passou de um susto: não houve censura dos colegas de trabalho, tampouco da chefia.

Guerreiras

Neide e Eugênia se consideram mulheres guerreiras, “que não entregam os pontos”. Eugênia sempre trabalhou por conta
própria e ambas avaliam que o importante é não se aposentar da vida. “Todas as oportunidades de atividades que surgem,  sejam culturais, esportivas, de formação, dentre outras, estamos dentro. O tempo não para a gente”.

Por Mariângela Castro, jornalista

 

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