Negros são minoria em cargos de chefia na Cemig



Negros são minoria em cargos de chefia na Cemig

 

No próximo domingo, 20 de novembro, será celebrado o Dia da Consciência Negra. A data foi escolhida pelo movimento negro em referência ao dia do assassinato da liderança histórica contra a escravidão Zumbi dos Palmares. O 20 de novembro também foi escolhido para contrastar com o 13 de maio, data da assinatura da Lei Áurea – uma Lei instituída pela realeza brasileira, decidida de cima para baixo, que colocou os negros e negras antes escravizados nas ruas sem qualquer contrapartida, gerando milhões de discriminados, miseráveis e sem-teto.  

O Dia da Consciência Negra no Brasil foi instituído por uma lei sancionada pela ex-presidenta Dilma Rousseff, em 2011. É o momento para a intensificação da reflexão sobre o racismo e seus reflexos: a segregação, as discriminações, as injustiças e a violência contra os homens e mulheres pretos. 

Nesta importante data, o Sindieletro reflete sobre a situação de trabalhadores pretos e pardos em cargos de liderança (chefias) na Cemig e nas demais empresas brasileiras, estatais ou privadas.

Dados da Cemig apontam que os trabalhadores negros e pardos na empresa representam 36,97% do quadro de pessoal; 5,50% são pretos. No entanto, somente 1,60% dos negros na Cemig estão em cargos de liderança. Já no conjunto de negros e pardos, a porcentagem de eletricitários nas chefias sobe para 16,29%.

O cenário de exclusão também se mostra em cargos de nível universitário. Do total de eletricitários na empresa, somente 17,30% de pretos e pardos ocupam estes postos de trabalho.

A situação da Cemig é um reflexo da realidade no Brasil. A mais recente pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre desigualdades de raça e cor, de 2021, expõe que pretos e pardos são maioria no mercado de trabalho: 53,8%. Porém, eles ocupam apenas 29,5% dos cargos gerenciais. Nos cargos com faixa de remuneração mais elevada, geralmente de nível superior, representam apenas 14,6%; já os brancos são 84,4%.

 

Racismo estrutural

Surge o questionamento: por que essa discrepância de oportunidades? Especialistas e o movimento negro afirmam que a causa é o racismo estrutural. O racismo estrutural é a discriminação racial sistemática (velada ou não) nas estruturas sociais, institucionais, empresariais, educacionais, políticas, econômicas e no mercado de trabalho, entre outros setores. Esse racismo é enraizado e faz parte da cultura do país, que segrega negros e negras, discrimina e impõe desigualdades de todas as dimensões como se essa situação fosse natural.

O professor de Direito da USP Humberto Bersani desenvolveu uma tese de doutorado sobre o racismo estrutural e explica que essa discriminação sistemática é uma característica histórica do Brasil que vem do período da escravidão. Sobre as relações de trabalho, ele aponta quatro situações de racismo estrutural: informalidade, precarização, desemprego e desigualdade salarial. “A questão racial é muito marcante no perfil dessas quatro categorias, o que nos remete à afirmação feita pelo escritor Clóvis Moura no sentido do racismo como um componente da essência do capitalismo em nossa sociedade”, destacou.

Para a Secretaria de Combate ao Racismo da CUT Nacional, o racismo escancarado e o racismo estrutural não podem ser uma luta somente da população negra. É necessário envolver todas as pessoas – negras, pardas e brancas – para que, com unidade, haja de fato mudanças relevantes na sociedade rumo à construção de um povo igualitário, com as mesmas oportunidades, sem discriminação e com respeito.

Já existem diversos dispositivos para garantir a proteção da população preta e parda no país. A lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, criminaliza o racismo. Já a lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003, estabelece a inclusão obrigatória no currículo oficial da rede de ensino brasileira a temática “História e Cultura Afro-Brasileira”, como meio de conscientização sobre o racismo estrutural. Neste momento vivemos a transição de um governo racista e fascista. Precisaremos nos unir para combater o rastro de destruição deixado neste e em tantos outros setores da sociedade.

E a luta começa sempre ao nosso redor. Caso tenha conhecimento ou sofra algum tipo de preconceito no ambiente corporativo, procure o Sindieletro e denuncie para que possamos dar tratamento. Além disso, é importante sempre procurar espaços que debatam e tratem casos de racismo. A participação da população é crucial! Cada um pode fazer sua parte, a partir de onde está.

Fica o questionamento do Sindieletro: quais são as políticas de igualdade racial da gestão Zema na Cemig? De que maneira a empresa trabalha para mitigar discrepâncias salariais e desigualdade de oportunidades? Quando veremos o número de pretos e pardos em cargos de liderança se equiparar à quantidade de eletricitários brancos nos mesmos locais?

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