Você venderia uma empresa lucrativa? A Cemig foi criada em 1952, pelo presidente à época, Juscelino Kubitschek, na década de 1990 a empresa passou a ser de capital aberto (qualquer um pode comprar suas ações) e começou a ser desestatizada a partir de 1997, pelo então governador do PSDB, Eduardo Azeredo. A Cemig é considerada estatal porque o Estado ainda detém 50% mais uma ação ordinária que dá poder de controle ao Estado. Porém, o governo possui apenas 17% do total de ações. Isso significa que, caso a Cemig fosse vendida, apenas esta porcentagem do valor total viria para Minas Gerais. Será que isso é benéfico para os cidadãos?
Vamos fazer as contas? A Cemig anunciou lucro líquido de R$2,1 bilhões no segundo trimestre de 2019. No mesmo período, em 2018, o prejuízo era de R$10,8 milhões. O resultado deste ano é o melhor balanço semestral da história da companhia e, com o resultado, a Cemig decidiu investir em diversas frentes. Atualmente, a empresa possui um valor de mercado de cerca de R$18 bilhões. Entre 2014 e 2018, enquanto a estatal colocou R$1,3 bilhão no cofre do governo de Minas, o índice de valorização cresceu 31%. No primeiro trimestre deste ano, foram R$797 milhões acumulados em lucro líquido.
Além disso, Minas ainda fatura indiretamente com a Cemig: a estatal promove programas sociais a fim de universalizar a energia elétrica em Minas e possui iniciativas de fomento à cultura, como o Centro de Arte Popular, museu instalado no Circuito da Praça da Liberdade. Mesmo com os números – e a história, que aponta o exemplo de eficiência da empresa – o governador Romeu Zema (NOVO) brada a plenos pulmões a urgência de privatização. Não se furta a dizer que a empresa “trava o desenvolvimento do Estado” e afirma que a privatização é o caminho para a salvação das contas públicas, através do Regime de Recuperação Fiscal (RRF).
Cledorvino Belini, presidente da companhia há seis meses, também avisa que o objetivo é privatizar todos os setores da empresa, da geração até a transmissão e distribuição. Belini também espera que o projeto seja aprovado até o fim do ano, mesmo com o clima árido na ALMG. Mas Zema e seus aliados não estão num caminho de consolidação tão fácil. Isso porque insatisfações ideológicas vêm crescendo, e a falta de diplomacia, até mesmo entre aliados, vem encolhendo a base do governo Zema.
Num momento em que precisaria de estabilidade, a troca do secretário de governo Custódio Mattos pelo deputado federal Bilac Pinto gerou mais animosidades na Assembleia para o plano de Zema. A chance de o Executivo aprovar o pacote de recuperação é mínima, sem contar com a obrigatoriedade de um Referendo Popular para que a privatização da empresa seja concluída. Tirar a Cemig das mãos do povo parece ser, de fato, uma questão de princípios para o governador. Mas a venda da companhia, traria apenas R$3 bilhões para o Estado. Para desafogar Minas Gerais de uma dívida líquida de R$105,6 bilhões, a venda não parece ser a solução.
A Cemig dá lucro, implementa iniciativas sociais, é premiada e reconhecida internacionalmente por sua inovação e seu desenvolvimento e não resolverá o problema das contas de Minas Gerais, caso seja vendida. Zema quer entregar bilhões para os acionistas e deixar o troco para os mineiros. Mas não vamos pagar a conta duas vezes: esse patrimônio já foi construído por nós. E vamos cobrar esta nota fiscal até o fim!