Por Cláudia Ricaldoni e José Ricardo Sasseron*
Na recente lista de bilionários divulgada pela revista Forbes aparecem 65 brasileiros. Vinte destes alcançaram o status em 2020, durante a pandemia. Um deles é proprietário de planos de saúde. Outro é dono de rede de hospitais. Enquanto enfermeiros, médicos e profissionais de saúde da rede pública e privada chegam à exaustão para atender centenas de milhares de pessoas em jornadas de trabalho extenuantes, os felizes bilionários, donos dos planos de saúde, riem à toa.
Já os usuários de planos de saúde também não têm nada a comemorar. Pagam cada vez mais caro por serviços muitas vezes de baixa qualidade. E tantas outras vezes, ao procurar certos atendimentos e serviços, constatam nas entrelinhas de seus contratos que o plano de saúde não cobre. Acabam tendo de recorrer ao SUS, à saúde pública que 100% dos brasileiros têm direito.
Acompanhe alguns números, caro leitor. Os últimos dados globais disponíveis são de 2019. De acordo com a ANS, a Agência Nacional de Saúde Suplementar, em 2015 havia 49,3 milhões de usuários de planos de saúde privados, que arcaram com R$ 2.846 em contribuição anual média. Atualizado pelo INPC, este valor chegava a R$ 3.345 em dezembro de 2019. Em 2019, os usuários caíram para 47,1 milhões, e pagavam em média R$ 4.405 per capita anuais.
Você já deve ter concluído que as anuidades dos planos de saúde subiram 31% acima da inflação entre 2015 e 2019. Bingo! Aí está a explicação para o enriquecimento dos dois bilionários da Revista Forbes e outros tantos donos dos planos de saúde e de hospitais. Para eles, saúde é um negócio muito lucrativo.
SUS faz mais por muito menos
Em 2019 os planos de saúde privados arrecadaram R$ 207,5 bilhões para atender 22% da população brasileira. Os outros 78% são atendidos exclusivamente pelo SUS, que utilizou naquele ano somente R$ 292 bilhões em recursos públicos da União, Estados e Municípios para tratar da saúde da grande maioria.
Os custos per capita do SUS foram de R$ 1.783 por habitante, considerando somente os usuários exclusivos da saúde pública. Os usuários da saúde privada gastaram quase 150% a mais, mas na hora de acessar serviços como transplantes, hemodiálise, vacinas, medicamentos de uso contínuo fornecidos pelas farmácias populares, coquetel para tratamento de aidéticos, dentre outros serviços, precisam recorrer ao SUS porque seus planos não cobrem.
A pandemia mostrou à população brasileira a importância do SUS para todos, do bilionário ao mais humilde morador da periferia. Duas instituições públicas vinculadas ao SUS – Instituto Butantan e Fiocruz – estão produzindo vacinas e pesquisando para produzir imunizante 100% nacional. E a grande maioria recorre aos hospitais públicos para conseguir manter os pulmões funcionando e sobreviver.
É consenso entre os especialistas que a saúde pública é subfinanciada. Estados e municípios mas principalmente a União precisam aumentar os recursos destinados à saúde. Esta deve ser uma das maiores prioridades para o próximo governo, já que o atual só se preocupa em boicotar as iniciativas que procuram dar atendimento digno à população.
Se a saúde pública corrigir suas falhas e tiver recursos para atender com dignidade toda a população, ninguém precisaria pagar por um plano de saúde. Esta economia melhoraria consideravelmente o padrão de vida de muitas e muitas famílias.
O Estado deve tirar dinheiro de quem tem, como os donos dos planos de saúde que se enriquecem com a pandemia. O que depende de uma reforma tributária urgente, para desonerar artigos de consumo e rendimento do trabalho e onerar ganhos de capital, aplicações financeiras e as grandes propriedades, por exemplo.
*Cláudia Ricaldoni foi presidente da Associação Nacional de Participantes de Fundos de Pensão e de Beneficiários de Planos de Saúde de Autogestão (Anapar). Atualmente é coordenadora regional da entidade e integrante do Conselho Deliberativo da Forluz
*José Ricardo Sasseron foi presidente da Associação Nacional de Participantes de Fundos de Pensão e de Beneficiários de Planos de Saúde de Autogestão (Anapar), diretor de Seguridade da Previ e diretor do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região.
Publicado originalmente na Rede Brasil Atual