Na Cemig também tem trabalhador jovem!



Na Cemig também tem trabalhador jovem!

“Ser jovem é ter liberdade de viver, de experimentar e de descobrir”. É assim que Henrique, eletricitário e trabalhador da Cemig, explica o significado da juventude. Atualmente com 30 anos de idade, ele começou a trabalhar na empresa cinco anos atrás, na mesma época em que se filiou ao Sindieletro-MG. Ele também explica que o trabalho foi um dos elementos que o permitiu ser jovem, principalmente pela autonomia financeira proporcionada pelo acesso à renda.

“O trabalho me deu liberdade por me dar uma condição econômica. Me deu oportunidade de fazer outras coisas além do meu trabalho. A parte que é conflituosa, que me atrapalhou, é a relação de tempo no meu trabalho. A relação de demanda. É a responsabilidade da nossa atividade, o trabalho em áreas de risco. Na Cemig, essa coisa de jornada e condições de trabalho é uma questão conflituosa”, relata o eletricitário.

O que Henrique descreve sobre a própria experiência vai de encontro ao pensamento de sociólogos brasileiros que caracterizam a juventude como a relação dialética entre a conquista de mais autonomia e a manutenção da relação de dependência, em especial com a família.

Juventude é uma conquista

A juventude não se trata apenas de uma condição biológica. É, na realidade, uma categoria histórica e social que nem sempre existiu. No processo de desenvolvimento do sistema capitalista, essa categoria passa a existir concomitante ao aumento da produtividade do trabalho, ao crescimento da expectativa de vida da população e à implementação de políticas sociais de acesso a direitos como educação, saúde e cultura.

No caso da classe trabalhadora brasileira, a juventude é uma conquista. No Brasil, foi apenas em 1891 que se determinou a idade mínima para trabalho aos 12 anos. O surgimento da “categoria juventude” aparece à medida que se criam novas formas de produção e de exploração do trabalho humano, tornando necessária a diferenciação da mão de obra. Ou seja, ao precisar de preparação e qualificação de mão de obra, um setor da classe trabalhadora tem que se preparar para assumir outros postos de trabalho.

Assim, a ideia de juventude surge com a massificação da educação para a classe trabalhadora, e o jovem passa a ser entendido como aquele em preparação. É também nesse contexto que surge a lógica pejorativa de que o jovem é ‘imaturo’ e está sendo ‘moldado’ para o trabalho e as responsabilidades do trabalhador.

“Muitas vezes, o nosso público tem compromisso de contribuir com a empresa, com a melhoria dela, mas costuma ficar barrada para oferecer qualquer contribuição. É uma deslegitimação por uma questão etarista, é tratar esse jovem como incapaz. Acho que é uma questão ideológica também”, relata Henrique.

Afirmar que a juventude é uma categoria histórica significa dizer que ela varia de acordo com os processos de luta da classe trabalhadora e com a correlação de forças na sociedade. Ou seja: quando a classe perde direitos e tem seu acesso à saúde, educação e cultura, por exemplo, restringidos, o tempo destinado ao processo de preparação do jovem diminuiu. Consequentemente, também pode diminuir o tempo socialmente destinado à juventude.

Juventude tem classe, raça e gênero

A contradição entre a autonomia e a dependência se expressa em uma série de dimensões, em especial a econômica e a social. Na primeira, aparece com ênfase a questão da conciliação ou disputa entre o trabalho e a formação escolar. Na segunda, o choque se dá entre as expectativas com o presente e o futuro e as pressões familiares e financeiras, dentre outras.

A juventude é de raça, classe e gênero. Dessa forma, não pode ser considerada como um bloco homogêneo, já que é diversa e permeada pelas contradições estruturais que atravessam a sociedade, em especial as desigualdades de classe, o racismo, o machismo e a LGBTfobia.

Isso não significa dizer que não existe possibilidade de unidade e coesão entre os jovens. Essa identificação é produzida ao se compreender as semelhanças que aglutinam a juventude da classe trabalhadora, que para atingir suas expectativas individuais necessita estar organizada e apontando para a construção coletiva de um outro projeto de sociedade.

Juventude está em disputa

Sendo uma categoria histórica e social, a juventude está em disputa. Ou seja, ela não é naturalmente revolucionária. Porém, em todos os momentos de transformações profundas os jovens cumpriram papel fundamental e foram imprescindíveis. Por isso, está na ordem do dia organizar, formar e projetar jovens que atuem nas lutas da categoria eletricitária, mas que também se envolvam com as batalhas políticas que apontam para um projeto mais avançado de sociedade.

Entre as lutas específicas que tocam a vida dos jovens trabalhadores da Cemig, Henrique cita a necessidade de mais diálogo por parte da empresa, além da criação de mecanismos que impeçam práticas nocivas, como o assédio moral. “Poderia ter mais compromisso com a ouvidoria, com as denúncias internas. Mais compromisso com diálogo e em todos os níveis. Desde a diretoria até os cargos de chefia, que estão mais próximos de nós, na ponta”, conclui.

Entre os dias 7 e 10 de setembro, o Levante Popular da Juventude, movimento que organiza a juventude periférica, estudantil e trabalhadora, se reunirá na cidade de Juiz de Fora em seu 3° Acampamento Estadual. No encontro, os participantes vão debater os desafios da juventude na conjuntura em Minas e no Brasil e fazer os apontamentos organizativos e da luta para o próximo período.

Por Ana Carolina Vasconcelos, militante do Levante Popular da Juventude e do Movimento Brasil Popular

*Editado pela Comunicação do Sindieletro

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