Neste ano, o Dia Internacional dos Povos Indígenas, comemorado nesta terça-feira (9), é marcado pela jornada nacional de lutas por demarcação dos territórios e pelo direito à vida. Em Belo Horizonte, uma manifestação acontece às 16h, na Praça Sete, no Centro da cidade.
A mobilização, convocada pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), tem o objetivo de denunciar as constantes violências e violações de direitos sofridas pelas comunidades.
Célia Xakriabá, liderança indígena, em entrevista ao Brasil de Fato MG que, atualmente, uma das principais ameaças enfrentadas é o marco temporal das terras indígenas. Esperando julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF), a tese determina que apenas territórios ocupados até a data da promulgação da Constituição Federal de 1988 podem ser demarcados.
“Isso ameaça grande parte dos territórios indígenas. Nosso marco não é temporal, nosso marco é ancestral. O Brasil precisa compreender que a demarcação das terras indígenas é a principal alternativa para barrar as crises climáticas. Nós somos cerca de 5% da população mundial e protegemos mais de 82% da biodiversidade”, enfatiza.
Nascida na Terra Indígena Xakriabá, no Norte de Minas, Célia também acredita que, nos últimos quatros anos, faltou empenho do governo federal na proteção do meio ambiente. Diante desse cenário, os povos indígenas cumprem o papel de guardiões dos territórios.
“Na ausência do Ministério do Meio Ambiente, os ministros fomos nós, indígenas. Porém, isso está custando a nossa vida. Quando matam Dom Phillips e Bruno Pereira por serem ambientalistas, imaginem o que não fazem com a gente”, argumenta.
Mineração
Em Minas Gerais, o cenário de violações não é muito diferente da política nacional. Milícias armadas, falta de acesso à direitos e os impactos do modelo predatório da mineração são parte do cotidiano dos povos indígenas mineiros.
Além da contaminação do Rio Doce, chamado pelo povo Krenak de Watu, com o rompimento da barragem da Samarco (Vale/BHP) em Mariana, o modo de vida da comunidade se alterou profundamente.
“Não existe reparação para a mineração. São danos espirituais e de identidade. As pessoas precisam começar a pensar que não se come dinheiro. Olham para nós e pensam ‘ser indígena é ultrapassado e primitivo’. A mineração é que é primitiva, porque ela rói montanhas, come a terra e mata as pessoas”, diz Célia.
A liderança ainda argumenta que o governador de Minas, Romeu Zema (Novo), é parte da mesma política de Jair Bolsonaro (PL) de ataque aos povos indígenas.
Uma das ações que, na avaliação de Célia, ajuda a demonstrar a má relação de Zema com os povos indígenas e com o meio ambiente é o empenho do governador em empreender a construção do Rodoanel, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Após firmar acordo com a Vale, Zema poderá usar R$ 3,5 bilhões de indenização pelo rompimento da barragem em Brumadinho na construção da rodovia.
“O dinheiro precisa ser pela vida. A política precisa ser pela vida e não instrumento da morte. Nós, povos indígenas, temos condições de pensar a política porque não temos as mãos sujas nem de lama e nem de sangue”, conclui.
Fonte: Brasil de Fato MG, por Ana Carolina Vasconcelos