Até o próximo dia 16 de outubro, está em cartaz no New Museum, em Nova York, a mostra Five Times Brazil. A exposição traz cinco obras audiovisuais desenvolvidas pela artista brasileira Bárbara Wagner e pelo alemão Benjamin de Burca para retratar a turbulência do atual momento sociopolítico do Brasil. Os artistas produzem filmes e videoinstalações em que os protagonistas são também engajados na produção cultural.
Em sua obra mais recente, Fala da Terra (2022), a dupla colabora com o Coletivo Banzeiros, grupo de teatro composto por integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). “Para nós, enquanto Coletivo Banzeiros e sujeitos militantes que trabalham nesse campo da arte, a ‘Fala da Terra’ tem uma simbologia muito grande”, afirma Kananda Rocha Xavier, integrante do grupo, sobre a experiência de integrar a obra. “Porque é dar voz para as pessoas que protagonizam a luta e resistência no sudeste paraense, na região amazônica, que vai desde o indígena, do ribeirinho, do camponês. Que são sujeitos que são inviabilizados pela sua luta, mas que estão no fronte, lutando por direito, por terra, por alimentação saudável”, completa.
Douglas Estevam, do Coletivo Nacional de Cultura do MST, conta que o texto Por estos santos latifundios, do autor colombiano Guillermo Maldonado Pérez inspirou a montagem do videoinstalação. O escrito chegou a ser premiado pela Casa da Américas de Cuba, em 1975.
Os artistas
Bárbara e Benjamin trabalham juntos há uma década, produzindo filmes e videoinstalações que apresentam protagonistas engajados na produção cultural. A dupla colabora principalmente com não-atores para fazer seus filmes, desde a elaboração dos roteiros até encenação das performances.
Já o Coletivo Banzeiros é composto por militantes do MST da região amazônica. O grupo surgiu em 2016, após o Acampamento Pedagógico da Juventude Sem Terra, realizado na curva do S, no Pará. O acampamento ocorre anualmente no mesmo local, onde há 25 anos ocorreu o Massacre de Eldorado dos Carajás, na estrada que liga Marabá a Parauapebas.
A mostra
Assim como em Fala da Terra, as demais obras da mostra retratam as condições econômicas e tensões sociais presentes nos contextos em que são filmadas, dando urgência a novas formas de autorrepresentação por meio da voz, do movimento e do drama.
Entre elas, Faz que vai (2015) mostra quatro dançarinos cujas práticas relacionam o frevo tradicional e contemporâneo no Nordeste do Brasil. Estás vendo coisas (2016) mergulha na paisagem da música brega de Recife (PE). Terremoto Santo (2017) volta-se para o gospel produzido e interpretado por jovens pregadores, cantores e compositores do interior pernambucano. Por fim, Swinguerra (2019), encomendado para o Pavilhão do Brasil na 58ª Bienal de Veneza, retrata competições de dança nos arredores do Recife.
Assim, juntas, elas destacam a força e a complexidade da expressão artística e demonstram como a cultura pode oferecer fontes profundas de resistência e senso de comunidade. Entre 26 de agosto a 30 de outubro, a mostra Five Times Brazil será exibida no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp). Ela integra a exposição Histórias Brasileiras.
Fonte: Rede Brasil Atual