Representantes de movimentos de defesa dos direitos humanos reunidos na Casa do Jornalista, na tarde de terça-feira (16), decidiram divulgar uma carta exigindo que as autoridades se pronunciem contra a violência política crescente na campanha eleitoral e tomem medidas para coibi-la. Os participantes do encontro relataram casos de violência praticados principalmente contra mulheres, negros e homossexuais e manifestaram sua preocupação com a ameaça à democracia.
“Ainda estamos numa democracia, o país tem instituições funcionando. Não podemos ser cúmplices com o nosso silêncio”, disse a cientista política Marlise Matos, representante da rede de direitos humanos da Universidade Federal de Minas Gerais.
Professora do Departamento de Ciência Política e integrante do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher da Faculdade de Ciências Humanas da UFMG, ela enfatizou a importância de se convidar todas as autoridades a se posicionarem e tomarem providências contra a violência.
“Essa violência não nasceu nessa eleição, ela tem história”, disse. “Vivemos num país machista, misógino, racista, homofóbico. Se tem um lado bom no que está acontecendo é que essa discussão saiu da esfera privada para a esfera pública. Temos de gritar um sonoro não à violência. O que agora se tornou público precisa ser denunciado.”
Participaram também do encontro representantes da Marcha das Mulheres, do movimento Quem ama não mata, da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil Seção Minas Gerais, do Conselho Estadual da Juventude, do Instituto Brasileiro pela Liberdade de Expressão e do Centro de Referência da Juventude de Belo Horizonte, além de diversos veículos jornalísticos.
A presidenta do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, Alessandra Mello, explicou que o encontro foi convocado porque até jornalistas estão com medo da violência. “A maioria dos jornalistas são mulheres, e estão sofrendo ataques que nos deixam muito preocupadas”, disse.
Ela acrescentou que, por ser uma referência na defesa da liberdade, o Sindicato vem sendo muito procurado por vítimas de violências. Muitas estão com medo e não querem aparecer publicamente, mas outras fizeram relatos no encontro. Um jovem gay contou as ameaças que vem sofrendo de vizinhos e parentes; a mãe de uma jovem universitária transexual contou sua filha está com medo de sair de casa.
A representante do Centro de Referência da Juventude de Belo Horizonte, Samira Ávila, relatou o aumento da insegurança dos jovens nas últimas três semanas, principalmente mulheres, negras e LGBT. “Mais do que casos reais, aumentou a sensação de insegurança”, explicou. “São jovens que estão com medo de sair de casa, de se expor.” Ela informou que esses jovens têm acolhida no CRJ.
Existe uma rede de proteção da qual fazem parte também a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, a Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de Belo Horizonte e a OAB-MG.
“Sozinhas, não fazemos denúncias, mas juntas temos força”, disse a advogada Cristina Paiva, da Comissão de Direitos Humanos da OAB-MG, recomendando que as denúncias sejam formalizadas, para que os direitos sejam defendidos na Justiça.
Outras redes de proteção estão sendo formadas, como a Proteger, Ouvir e Cuidar, que funciona na Rua Guaicurus, 50, no Centro de Belo Horizonte, das 9h às 21h, e coletivo Mães pela Diversidade, que tem âmbito nacional e já está presente na capital e outras cidades mineiras. O coletivo tem página no Facebook.
A jornalista Miriam Chrystus, do movimento Quem ama não mata, disse que as mulheres não estão espantadas com a violência, porque o candidato a presidente avisou que seria assim. “Estamos aqui para cobrar das autoridades. Ou incitar à violência não é mais crime?”, perguntou.
Ela lembrou que o movimento foi criado na década de 1970, durante a ditadura, para denunciar a violência contra as mulheres, e que a violência recrudesceu nos últimos anos. “Uma longa luta de resistência nos espera, mas temos paciência histórica”, disse, anunciando a realização de um ato público semelhante ao que aconteceu em 1980, nas escadarias da Igreja São José, e que teve repercussão internacional.
Fonte: CUT Minas