BRT 800 linhas de ônibus serão canceladas e usuário terá que pegar mais conduções
O novo sistema de transporte público Move, conhecido como BRT (transporte rápido sobre trilhos), está prestes a entrar em vigor, com um ano de atraso. Após dois anos de obras por toda a cidade e orçamento de mais de R$ 858 milhões, subsidiados pelo governo federal e pequena contrapartida da Prefeitura de BH, a primeira estação do Move a entrar em ação será a São Gabriel, inaugurando o corredor da Cristiano Machado, no dia 15 de fevereiro.
Segundo a BHTrans, o sistema estará em pleno funcionamento até o mês de março. Com tal proximidade, a BHTrans está aplicando uma série de mudanças no trânsito. Ao poucos ruas estão sendo fechadas, outras abertas, retornos sendo implantados e linhas de ônibus tendo seu itinerário alterado. Na terça-feira,(14), foi a vez da Praça Hugo Werneck, no bairro Santa Efigênia, onde o acesso às vias periféricas sofreu modificações, assim como linhas que passam pelo local.
Na ocasião, o diretor de Ação Regional e Operações da BHTrans Edson Amorim de Paula informou que todo o sistema viário e de transporte da cidade será modificado com o BRT. No entanto, declarou que as modificações não serão informadas com antecedência. “Toda a divulgação já está pensada, e cada coisa tem que acontecer a seu tempo. Não é conveniente falar de uma etapa que está por vir, senão confunde mais”, aponta o diretor.
Apesar de a prefeitura negar informações à imprensa e à população sobre o BRT/Move, não teve como passar muito tempo ignorando as exigências do Sindicato dos Rodoviários de BH e Região (STTRBH). Isso porque a categoria será diretamente atingida com a implantação do novo sistema. Segundo o sindicato, a BHTrans afirma que cerca de 800 linhas de ônibus serão canceladas após o início das atividades do Move.
A população está apreensiva em relação aos serviços de transporte após o início do BRT. “Eu não sabia que ia ter mudanças em linhas de ônibus. Fico preocupado sobre quais vão ser, porque preciso me programar”, diz o ajudante de pedreiro Carlos Cavalcanti. Ele mora no bairro Ouro Minas e se preocupa com o tempo de viagem que terá que fazer até o trabalho, no Centro, e seu outro emprego, no Belvedere.
E os trabalhadores?
O Sindicato dos Rodoviários denuncia que os cancelamentos poderão acarretar em mais de 1600 demissões, de motoristas e cobradores. Os ônibus articulados que circularão dentro dos corredores do Move não irão trabalhar com cobradores, já que as passagens serão cobradas nas estações. Outra diferença será para os motoristas, que deverão ter carteira de categoria E, e não apenas a categoria D, necessária para um ônibus comum.
O diretor do Sindicato dos Rodoviários Carlos Henrique explica que cada empresa de transporte público que presta serviço para a PBH tem um déficit de 20% de trabalhadores. Assim, realocando os motoristas das linhas canceladas para a cobertura deste déficit e garantindo aos cobradores a possibilidade de trabalho nas bilheterias do Move, deve-se abaixar o número de demitidos. “Estamos discutindo isso tanto com as empresas quanto com a prefeitura, por
que é uma responsabilidade dela também. Mas a BHTrans quer é implantar o BRT, não tem preocupação ou posicionamento sobre a questão do trabalho”, denuncia.
Para além do BRT, os rodoviários têm sofrido outra ameaça desde o fim de 2013. Foi votado na Câmara dos Vereadores um projeto de lei que permite que os ônibus circulem na cidade aos domingos e feriados sem os cobradores, o que geraria um alto índice de desempregados.
No dia 26 de dezembro, o projeto foi votado em primeiro turno favorável à categoria. No entanto, no dia 29 foi realizada segunda votação, pelo fim dos cobradores. “Se houver essa retirada, vamos fazer uma grande paralisação do serviço no dia da implantação do BRT”, declara Carlos Henrique.
Tarifa Zero ainda é possibilidade para BH
Desde as manifestações de junho de 2013, Belo Horizonte ganhou uma pauta que pode mudar a vida da população, a luta pela Tarifa Zero.
De acordo com Roberto Andrés, a implantação do serviço é plenamente possível, já que seria subsidiada por recurso público. “Ao invés de o cidadão pagar, o governo pagaria o serviço com recurso público. É uma mudança simples, uma inversão de prioridade”, explica.
De acordo com ele, a prefeitura tem preferido investir em obras nas vias, atendendo apenas aos automóveis, o que não resolve a vida dos que utilizam o transporte público. “Se houver essa inversão na prioridade, mais pessoas vão usar os ônibus e teremos uma redução
efetiva no trânsito. O transporte será tratado de fato como direito social”, declara Roberto.
O grupo denunciou irregularidades nos contratos e pagamentos às empresas de transporte prestadoras de serviço em BH. Foi exigida a realização de uma auditoria pública
para averiguar o caso, o que até hoje não foi feito. “As planilhas de custos do serviço não foram publicadas. Ninguém sabe se o preço da passagem corresponde à realidade do custo das empresas. Estamos aguardando a resposta”, diz Roberto.
Roberto destaca uma importante conquista do ano passado: a manutenção do preço das passagens de ônibus, que costumam aumentar todo final de ano. Após uma série de manifestações, a PBH se comprometeu a não fazer a revisão no valor até que seja realizada a auditoriapública dos transportes.