Mineração é motor da interiorização da Covid-19, denunciam movimentos populares



Mineração é motor da interiorização da Covid-19, denunciam movimentos populares

No início da pandemia do novo coronavírus, ainda em março, o Ministério de Minas e Energia do governo de Jair Bolsonaro emitiu uma portaria que considera como essencial as atividades ligadas ao setor mineral. Hoje, as cidades brasileiras com grandes projetos minerários potencializam o aumento do contágio e da interiorização da Covid-19 pelo país.

É o que denunciam os movimentos populares que defendem as famílias do setor, considerado um dos mais insalubres do mundo pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). Atualmente, o Brasil alcança mais de 60 mil mortes e 9 estados com 80% das Unidades de Tratamento Intensivo (UTI´s) ocupadas.

"A forma como a mineração se organiza, como ela aglomera os trabalhadores, como os grandes projetos, especialmente, tem uma abrangência regional. Os trabalhadores circulam entre vários municípios, passam pro três cidades até chegar na cava, no local da mineradora. Além disso, você já tem os agravantes de saúde dos trabalhadores e das comunidades no entorno dos empreendimentos minerários", explica Luiz Paulo Siqueira, da coordenação nacional do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), ao destacar a fragilidade nas vias respiratórias dos trabalhadores das minas pelo contato com o pó de minério. 

Ele conta que Parauapebas, no sudoeste do Pará, é um símbolo do contágio em áreas de mineração no país. A cidade fica no coração da Serra dos Carajás, onde está a maior jazida de minério de ferro do planeta. Hoje, o número de mortes chega a 129 pessoas e 11.260 da população de 208.273 habitantes tiveram contato com o vírus - segundo última atualização da Prefeitura.

No mês passado, o pequeno município paraense teve mais casos registrados do que grandes capitais, como Curitiba, Belo Horizonte, Porto alegre e Florianópolis. 

“Nós tivemos vários companheiros que perderam familiares pela Covid-19 nesses últimos meses, pois tinham parentes que eram trabalhadores diretos ou terceirizados da Vale. Iam trabalhar naquele ambiente exposto à Covid-19, onde houve o boom de casos no eixo Carajás, e ao retornar para casa, em suas comunidades, acabavam alastrando a doença”, relata a liderança do MAM.

Além dos crimes, o vírus

Já em Minas Gerais, os casos de Covid-19 subiram exponencialmente nas últimas semanas. Nos 652 municípios do Estado, já são mais de 50 mil pessoas contaminadas e mais de mil mortes registradas. Os dados são da Secretaria de Estado de Saúde.

Para Letícia Oliveira, da coordenação nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), a mineração tem se mostrado a grande responsável pela transmissão comunitária e o aumento de casos da covid-19 no Estado.

"Mariana, Brumadinho, Ouro Preto, Santa Bárbara, Barão de Cocais, diversas cidades tiveram um grande aumento depois que as mineradoras começam a testar seus trabalhadores. Em Mariana, triplicou os casos, inclusive a refeitura, no principio, colocou no boletim, quantos dos casos eram de trabalhadores da Vale, da fundação Renova, e de terceirizadas. A gente via que eram pelo menos metade dos casos", relata Oliveira.

Em Brumadinho, onde a Vale foi responsável pela morte de  270 pessoas em janeiro de 2019, já são 257 casos registrados, segundo a última atualização da prefeitura.

O cenário preocupante se repete em Mariana, palco do outro grande crime da mineradora, onde há 802 casos confirmados e 9 mortes. Outros locais correm risco de novos crimes ambientais:  a Defesa Civil informou que famílias de Ouro Preto e Itabirito vão ter que deixar suas casas pelo risco iminente de rompimento de duas barragens da Vale.

No final de maio, o complexo minerador da Vale em Itabira (MG), a 105 km de Belo Horizonte, foi interditado após fiscais do trabalho terem identificado 200 trabalhadores infectados - 10% do total de funcionários que atuam no local.  

A liderança do MAB afirma que as interdições se dão pelo não comprimento, por parte da Vale, das normas para o trabalho em situação de pandemia.

“Foram desde casos positivos que não eram notificados pelo poder público a trabalhadores que testaram positivo e não foram afastados. Também muitas pessoas sendo contratadas de fora da região, e também muita aglomeração. Aqui em Mariana foi a partir de denúncias dos próprios trabalhadores que a prefeitura foi interditar”, relata. 

A Vale afirma, em sua página, que realiza diversas medidas de enfrentamento à Covid-19, como a testagem rápida, a medida de temperatura dos empregados, a distribuição de máscaras,  a desinfecção e higienização permanente dos postos de trabalho e o afastamento de empregados com doenças crônicas.

Fonte: Brasil de Fato

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