De cabeça erguida, com o punho esquerdo cerrado e para o alto, sorriso no rosto e pés em movimento. Essa é a pose em que a vereadora e ativista Marielle Franco, assassinada em março de 2018, no Rio de Janeiro, foi escolhida para ser retratada em estátua que foi inaugurada na quarta-feira (27), na Praça Mario Lago, local conhecido como Buraco do Lume, no centro da capital fluminense, em evento das 17h às 20h. A homenagem marca o local onde a parlamentar ia todas as sextas, para prestar contas de seu mandato e como presidente da Comissão da Mulher da Câmara Municipal do Rio.
O monumento foi inaugurado na data de seu aniversário: ela completaria 43 anos em 27 de julho. E dois dias depois do Dia Nacional de Tereza de Benguela e do Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha.
Feita em bronze e em tamanho real, com 1,75 metro, a estátua foi esculpida pelo artista Edgar Duvivier, pai do humorista Gregório Duvivier. Mas a obra é também resultado de uma conversa do escultor com a família da vereadora e de consulta pública nas redes do Instituto Marielle Franco, criado pela jornalista Anielle Franco, irmã da parlamentar.
Memória é semente
A cabeça erguida na pose, segundo a organização, mostra “que nada irá nos derrubar”. Enquanto o punho cerrado para o alto faz referência ao gesto histórico do movimento negro na luta por igualdade. Os pés em movimento também lembram da ancestralidade negra, conforme destaca o instituto. E o sorriso no rosto evidencia a marca registrada de acolhimento e afeto de Marielle.
A homenagem póstuma surgiu do objetivo da família de defender a memória e o legado de Marielle, e “semear novos futuros”. Em 2021, o instituto abriu uma vaquinha virtual que teve cerca de 650 doações, alcançando R$ 50 mil para a realização da obra. A família de Marielle também destaca que o novo monumento terá um papel de “ressignificar” as homenagens, em oposição às estátuas de escravocratas, torturadores, entre outras figuras eternizadas, a despeito de suas contribuições para a violência no país.
“Erguer a estátua de Marielle é fazer com que esta e as próximas gerações conheçam Marielle e tudo o que ela representa para grupos de pessoas que historicamente neste país foram impedidos de acessar seus direitos”, destaca o instituto em suas redes. A inauguração também conta com uma programação que prevê aula pública, às 17h, com o tema “A memória é a semente para novos futuros: legado, justiça e reparação”. A aula será ministrada por Anielle, ao lado da escritora Eliana Alves Cruz e da professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-RJ) Thula Pires. Em seguida, às 19h, haverá uma “batalha” de poesia.
1.597 dias sem resposta
A vereadora e o motorista Anderson Gomes foram assassinados a tiros há quatro anos, na noite de 14 de março de 2018, no momento em que passavam pela rua Joaquim Palhares, no bairro do Estácio, no centro do Rio. O veículo branco que Anderson dirigia foi alvejado com nove tiros na lataria e outros quatro no vidro, resultando na morte imediata dele e de Marielle.
Às vésperas de completar um ano do crime político, em março de 2019, o policial militar reformado Ronnie Lessa e o ex-policial militar Élcio Vieira de Queiroz foram presos e acusados pelo Ministério Público do Rio como responsáveis pela execução do crime. Lessa teria atirado contra a vereadora enquanto Élcio Queiroz dirigia o veículo Cobalt prata que perseguiu Marielle. No início do ano passado, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) determinou a ida dos dois ao júri popular. A defesa de Lessa vem tentando recorrer da decisão. Mas, nesta semana, o Ministério Público Federal (MPF) encaminhou ao Supremo Tribunal Federal (STF) o pedido para que a sentença contra o PM seja mantida.
Porém, a pergunta “quem mandou matar Marielle e Anderson” segue sem respostas há 1.597 dias.
Fonte: Rede Brasil Atual