Mais Morte! Um “custo” que a Cemig insiste em não contabilizar: da ganância à omissão



Mais Morte! Um “custo” que a Cemig insiste em não contabilizar: da ganância à omissão

Cláudio Gomes da Silva, Leean Leenyker, Pedro Murilo Santos, Antônio de Souza, José Pedro da Silva... Nomes que apontam as últimas vítimas fatais de um processo já denunciado e condenado pela grande maioria da casa, mas ainda protegido por alguns setores da Cemig. Agora, além de José Pedro, mais nomes, Nelson, Hélio, Fabiano, Maer, Luciano, os novos “personagens” nessa trama macabra em que se transformou a organização do trabalho na Cemig, onde a terceirização é, sem dúvida, o principal vilão da história, com mortes, mutilações e outras sequelas graves.

Sob o pretexto de tornar a Cemig competitiva, preparada para novos desafios, a terceirização se instala a partir do debate da redução do custo na empresa, uma discussão pobre e descolada da preocupação com a melhoria dos processos. Após quase duas décadas desde que o processo se intensificou, o resultado prático verificado se equipara a um filme de terror com um rastro de destruição, mutilação e morte como nunca visto na história desta empresa. Aos apologistas da redução de custos fica a dúvida: ou não sabem as contas que fazem, o que significa incompetência na gestão; ou são realmente mal intencionados e pouco se importam de enganar a Organização, assim como a sociedade Mineira.

O acidente ocorrido no final da tarde da terça-feira, 03, deixou mais um trabalhador morto a serviço da Cemig (o sexto este ano, cinco com eletricitários a serviço da empresa e um com eletricitário em atividade de iluminação pública - José Jairo da Silva), outros três trabalhadores com fraturas e uma quinta vítima em estado de choque e com problemas respiratórios. O caminhão da empreiteira Esec, que retornava de um desligamento programado, capotou após ter um dos pneus estourado, vindo a colidir com uma árvore e em seguida pegou fogo.

José Pedro da Silva, eletricista de 31 anos de idade, morreu carbonizado, preso às ferragens. Informações preliminares ainda apontam que o motorista (Nelson) teve o fêmur de uma das pernas esmagado com diversas fraturas e também ficou preso às ferragens, mas conseguiu ser retirado do caminhão pelos outros companheiros da equipe. Dentro da cabine principal ainda se encontrava o encarregado da equipe (Helio), que permanece hospitalizado, caracterizado como “em estado de choque” e com problemas respiratórios por ter inalado muita fumaça; outros dois trabalhadores que se encontravam na cabine traseira do caminhão também tiveram fraturas, uma no braço e outra no tornozelo. O caminhão transportava 11 trabalhadores, três na cabine principal e outros oito na cabine da carroceria.

Muitos vão falar em tragédia e outros vão apenas lamentar. Para o Sindieletro, a morte de mais um companheiro não pode apenas alimentar estatística, mesmo porque as informações que estão sendo apuradas indicam que fatos que precederam o acidente do caminhão apontam uma situação de risco que poderia ter significado o maior acidente envolvendo energização indevida de circuito da história dessa empresa. Um retrato da fragilidade do sistema que tem sido denunciada nos últimos anos pelo Sindieletro. A morte de João Pedro da Silva deve colocar um basta no debate que se enrola na casa, que patina tentando mensurar benefícios e malefícios da terceirização na empresa. Deve confrontar o discurso e reconhecimento público da presidência da Cemig quanto à necessidade de por fim à terceirização da atividade-fim na empresa, e os entraves que vão sorrateiramente inviabilizando qualquer iniciativa de primarização de serviços.

Hoje, não se consegue operacionalizar a contratação de um número pífio de eletricistas que sequer cobre a expectativa de saída dos trabalhadores que estão se aposentando. Por que? Quem são os beneficiários desse processo? Se é que ainda exista algum. Passou da hora de discutirmos seus idealizadores; os que sustentam essa carnificina de trabalhadores travestida de prestação de serviço público.

Indivíduos que, em nome de sua ganância pessoal, condenaram trabalhadores à morte e mutilação; ludibriaram a população em todo Estado e colocaram a Cemig na maior crise ética e moral da sua história. Assim, reforçamos a nossa convicção que esta casa não suporta mais enrolação, precisa de homens e mulheres de atitude; também não suporta novas consultorias ou burocratas de plantão, precisa de trabalhadoras e trabalhadores conhecedores dos seus processos, empoderados de autonomia suficiente para indicar os caminhos para tirar a Cemig do atoleiro em que se encontra; não suporta mais os que se apequenam, num jogo de interesses particulares a qualquer custo. Precisa, portanto, do exemplo dos que pensam e contribuem para uma Cemig socialmente responsável, solidária e cumpridora do seu papel de concessionária de serviços públicos. Essa é a nossa defesa e nossa luta!

Desabafo e reflexões do eletricitário e diretor do Sindieletro, Lúcio Santos Parrela

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