Há exatos quatro anos, na noite do dia 14 de março de 2018, Marielle Franco e Anderson Gomes passavam de carro pelo bairro do Estácio, na região central do Rio de Janeiro, quando tiveram o veículo cercado em uma emboscada e alvejado por tiros que mataram a vereadora do Psol e seu motorista. Marielle voltava do evento "Jovens Negras movendo as estruturas", na Lapa.
Em entrevista ao Brasil de Fato, a mãe de Marielle, a advogada Marinete da Silva, contou sobre o encontro que teve na semana passada com a nova equipe de investigação do caso, que completa quatro anos sem ter conseguido responder quem são os mandantes do crime. Perguntada sobre o apoio que recebe de instâncias dos governos federal e estadual, Marinete disse que esse canal de diálogo não existe.
Nos últimos anos, a Polícia Civil trocou o comando do caso diversas vezes. Sem as respostas cobradas pela família, por movimentos sociais e entidades nacionais e internacionais, o inquérito está agora com o quinto delegado, que assumiu o processo há pouco mais de um mês.
Confira a entrevista:
Brasil de Fato: São quatro anos sem respostas. Como foi o encontro, na semana passada, com o novo delegado da Polícia Civil à frente do caso?
Marinete da Silva: Nosso encontro foi mais no sentido de fazer uma cobrança pelo tempo e sobre o que está sendo feito em relação ao caso, em relação às provas que já foram produzidas, as diligências que já foram feitas e também como isso fica a partir do momento em que entra um, sai outro e que se perde um pouco o fio da meada.
E qual foi a posição da nova equipe?
Eles disseram que estão dando continuidade, que é um processo grande, emblemático e que não há como ter previsão de nada, de quando teremos algo concreto sobre os mandantes. Estamos confiantes para continuar tendo acesso ao que é feito, ao que precisa ser feito, a voltar na investigação se algo do passado ficou pendente e agora possa ser relevante ao processo e fazer o possível para termos a denúncia em cima do mandante.
A senhora e a sua família continuam tendo esperanças pela resolução, então.
Em nenhum momento posso perder a esperança como mãe, acredito em uma justiça digna para ela e vamos chegar, sim, à conclusão. Não é por minha filha ter sido uma parlamentar ou por ser melhor que todo mundo, há centenas de casos que não se elucidaram. A Delegacia de Homicídios tem uma demanda enorme.
Há pistas e indícios para se chegar aos mandantes?
Apesar de não haver uma prova robusta de que o mandante é esse ou aquele, há linhas de investigação, então não posso deixar de acreditar no trabalho da delegacia, do Ministério Público e das equipes que estão acompanhando desde o dia em que o crime aconteceu. É claro que estamos vivendo uma situação complicada, de pessoas que não têm interesse nenhum de ajudar desde o federal, passando pelo estadual, ao municipal.
Qual é a postura do ex-governador Wilson Witzel (PSC), do atual governador Cláudio Castro (PL) e do presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre as investigações? Eles ajudaram em algum momento?
Não vou comentar sobre essa gente a qual eu não tenho acesso. Não contribuíram com nada, não tenho nem condições de falar dessas pessoas. Witzel, o governador atual, Bolsonaro e seu completo desgoverno, de uma falta de compromisso com tudo nesse país...
Que sentimento a senhora, a família de Marielle têm em relação a todo esse tempo de investigação, das dificuldades?
Meu sentimento é de indignação e de dor, não é de revolta, mas de uma postura que a gente possa continuar cobrando. É a sensação de crime bárbaro de uma pessoa que estava exercendo seu mandato.
Em qualquer lugar do mundo a gente já teria uma resposta, afinal de contas não são 4 dias, não são 4 meses, são 4 anos de uma investigação que seria praticamente impossível num país sério não sido elucidada. Que isso se conclua dignamente, que Marielle, Anderson e todos os outros investigados tenham seus inquéritos concluídos. Que a gente responda quem mandou matar Marielle Franco.
Que frutos Marielle deixou para a política e para o mundo?
O principal deles é a filha. Os outros frutos são mulheres que se identificam com a história, que se encorajam para se candidatar e colocar seus corpos nesse processo político tão desigual, as que levam a história dela adiante dignamente. Marielle é símbolo de resistência, primava por esse processo de igualdade, teve um importante ativismo por 10 anos na Comissão de Direitos Humanos da Alerj [Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro]. Vou continuar sim como mãe, como mulher negra, e não vou parar porque era isso que Marielle fazia.
Fonte: BdF Rio de Janeiro, por Eduardo Miranda