Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) vão disputar o segundo turno daqui a quatro semanas, no próximo dia 30. Com 99,9% das urnas apuradas, o ex-presidente tem 48,43% dos votos (57.257.473, ante 43,20% do atual presidente (51.071.106). Bolsonaro liderou a apuração durante horas. A virada de Lula não foi suficiente para garantir vitória já no domingo (2).
O petista tem vitória em 14 unidades da federação e o presidente, em 13. A senadora Simone Tebet (MDB) ficou em terceiro, com 4,16% dos votos (4.915.481). Ele ultrapassou o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), que terminou em quarto, com 3,05% (3.595.557). Depois vieram Soraya Thronicke (UB), com 0,51%, Felipe d´Avila (Novo), com 0,47%, Padre Kelmon (PTB, 0,07%), Léo Péricles (UP, 0,05%), Sofia Manzano (PCB, 0,04%), Vera (PSTU, 0,02%) e Eymael (DC, 0,01%).
Lula venceu nos nove estados do Nordeste: Alagoas, Ceará, Pernambuco, Bahia, Piauí, Maranhão, Paraíba, Sergipe, Rio Grande do Norte. Em quatro da região Norte (Amazonas, Amapá, Pará e Tocantins) e um no Sudeste (Minas Gerais). Bolsonaro ganhou em três do Sudeste (São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo), nos três do Sul (Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná), três do Norte (Roraima, Rondônia, Acre) e quatro do Centro-Oeste (Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás, além do Distrito Federal).
Lula se pronuncia
Lula fez rápido pronunciamento para agradecer pela votação e anunciar o início imediato da campanha para o segundo turno, daqui a quatro semanas. “Nós vamos ganhar estas eleições. Isso para nós é apenas uma prorrogação. (…) É a chance de você amadurecer suas propostas e sua conversa com a sociedade. É construir um leque de alianças, um leque de apoio”, afirmou Lula, antes de sair do hotel no centro de São Paulo em direção à Avenida Paulista.
O petista agradeceu a cobertura de imprensa, cumprimentou os eleitos, de todos os partidos, e externou gratidão “ao povo brasileiro por mais este gesto de generosidade”, lembrado que há quatro anos ele era dado como praticamente excluído da política brasileira. Será a chance, afirmou, de fazer um debate tête-à-tête com Jair Bolsonaro – que até aqui está mentindo para a população.
Lula ainda brincou, dizendo que pretendia tirar três dias de “lua de mel” caso ganhasse no primeiro turno. “Janjinha, acabou a nossa lua de mel”, afirmou para sua mulher, Janja da Silva. Além dela, estavam ao seu lado o vice, Geraldo Alckmin (PSB), a ex-presidenta Dilma Rousseff e a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann.
O ex-presidente lembrou que nunca venceu no primeiro turno (foi eleito em 2002 e reeleito em 2006), mas afirmou que é preciso convencer a sociedade sobre suas propostas.
Primeiro presidente a perder 1º turno
Jair Bolsonaro conseguiu levar a disputa para o próximo dia 30, mas desde que a emenda da reeleição foi aprovada, em fevereiro de 1997, nunca um presidente havia perdido no primeiro turno, como aconteceu agora. Desde 1998, os resultados mostram vitória do mandatário – inclusive sem necessidade de segunda rodada. Além disso, nos casos em que houve segundo turno a vitória sempre foi daquele que ficou à frente no primeiro. Agora, o presidente enfrenta grande rejeição. O Datafolha, por exemplo, mostrou que 52% não votariam nele de jeito nenhum.
Em 1989, na primeira eleição presidencial direta no pós-ditadura, nada menos que 22 candidatos estavam na disputa. Foram para o segundo turno Fernando Collor (então no PRN) e Luiz Inácio Lula da Silva, com 30,48% e 17,19%, respectivamente. A briga pela segunda vaga foi acirrada; Leonel Brizola ficou logo atrás, com 16,51% – Mário Covas (PSDB) teve 11,51%. No segundo turno, Collor venceu com 53%, ante 47% de Lula.
A eleição seguinte, em 1994, foi marcada pelo Plano Real, que mudou os rumos do pleito. Ministro da Fazenda de Itamar Franco (que havia assumido em 1992, após o impeachment de Collor), Fernando Henrique Cardoso surfou na onda do controle da inflação e venceu logo no primeiro turno, com 54,24%. Lula ficou com 27,07%%.
Quatro anos depois, o cenário praticamente não se alterou. FHC ganhou de novo no primeiro turno, com 53,06%, enquanto Lula teve 31,71%. Em terceiro lugar ficou Ciro Gomes, então no PPS, com 7,4%.
Já 2002 combinou o desgaste do governo tucano e da economia com a política de alianças de Lula, que escolheu o empresário José Alencar como vice. O petita ficou perto de resolver no primeiro turno, ao receber 46,44% dos votos. José Serra (PSDB) teve 23,19% e Ciro, 12%. Na segunda votação, deu Lula: 61,27%, ante 38,73% do tucano.
Em 2006, o então presidente Lula teve votação semelhante, com 48,61%, enquanto o principal oponente, Geraldo Alckmin, hoje seu vice, recebeu 41,64%. No segundo turno, nova vitória expressiva do petista, com 60,83%, ante 39,17% do ex-governador, agora no PSB.
Indicada por Lula, a ex-ministra Dilma Rousseff superou Serra no primeiro turno de 2010: 46,91% a 32,61%. Marina Silva (PV) teve votação expressiva, com 19,33%. No segundo, Dilma ganhou com 56,05%. Serra teve 43,95%.
A briga foi mais apertada em 2014, com a economia patinando e instabilidade política. Candidata à reeleição, a presidenta Dilma teve 41,59% dos votos no primeiro turno, enquanto Aécio Neves (PSDB) recebeu 33,55%. De novo, Marina foi bem: 21,32%. A campanha foi marcada, ainda, pela morte do candidato Eduardo Campos (PSB), ex-governador de Pernambuco, em acidente aérea. No final, Dilma teve a 51,64% dos votos válidos e Aécio, 48,36%.
A eleição mais recente, em 2018, foi antecedida pelo impeachment de Dilma, dois anos antes, com a posse do vice, Michel Temer. Na sequência, o favorito Lula foi preso e impedido de participar. Em seu lugar, o ex-ministro Fernando Haddad, agora candidato a governador paulista, ficou com 29,28%, ante 46,03% de Jair Bolsonaro. No segundo turno, o atual presidente teve 55,13% e Haddad, 44,87%.
Fonte: Pragmatismo Político