O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a criticar as privatizações realizadas em governos anteriores, sobretudo da Eletrobras, cujo controle foi privatizado no ano passado. Em evento com empresários portugueses e brasileiros em Portugal, ele alegou que, logo após o processo, os novos gestores da empresa elevaram seus salários em R$ 300 mil.
Nós privatizamos a nossa maior empresa de energia elétrica, a Eletrobras. Ela foi vendida por US$ 36 bilhões, se não me falha a memória. Quando foi vendida, a primeira coisa que a diretoria fez foi aumentar o salário da diretoria de R$ 60 mil por mês para R$ 360 mil por mês, afirmou nesta segunda-feira.
A declaração foi dada no Fórum Empresarial Portugal-Brasil, realizado em Matosinhos, no norte do país europeu. O evento ainda contou com a presença do primeiro-ministro luso, António Costa. No encontro, Lula voltou a reforçar que o atual governo não irá vender empresas públicas e atacou interesse de governos passados em privatizar empresas para "simplesmente pagar juros da dívida pública".
Nós nos desfizemos do nosso patrimônio, que ficou menor, e a qualidade do serviço não melhorou, afirmou.
Ainda no evento com o empresariado, o presidente definiu como "absurdo" ter que indicar um conselheiro para a Eletrobras, que segundo ele receberia salário de R$ 200 mil para "trabalhar uma vez por mês".
Privatização pode ser revertida
As críticas à privatização da estatal ocorrem dias depois de relatório da Eletrobras a investidores que compram papéis da empresa nos Estados Unidos apontar que houve contestação do processo e que corre risco de ser revertido pelo governo Lula. A informação consta no formulário 20F referente a 2022.
A Eletrobras informou, no formulário, que 23 ações correm na Justiça questionando o modelo de privatização adotado e formalizado na bolsa de valores de São Paulo, a B3, em junho passado.
No documento, a empresa do setor elétrico lembra que o presidente Lula já se posicionou publicamente diversas vezes contra a diminuição da participação da União na Eletrobras.
Mais poder ao governo
Em outra frente, a Casa Civil e a Advocacia-Geral da União (AGU) constroem uma estratégia jurídica para modificar o estatuto da Eletrobras para garantir mais poder ao governo na companhia após a privatização, como mostrou a colunista do GLOBO Malu Gaspar.
Internamente, as equipes estruturam uma ação direta de inconstitucionalidade (ADI) a ser apresentada ao Supremo Tribunal Federal (STF) visando alterar um dispositivo que limita a 10% de poder de voto por acionista.
Fonte: Folha de Pernambuco