Os lucros dos maiores bancos do país acumulam em média, desde 1997, ganhos reais de 359% em relação à inflação acumulada. Isso significa que o ganho médio das instituições financeiras superou em mais de quatro vezes e meia a inflação no período. Os bancários, por sua vez, também conseguiram chegar a acordos coletivos com reajustes acima da inflação nesse mesmo o período. Mas o ganho real dos salários ficou em 126% – um terço do ganho real dos lucros dos bancos. Os números são citados pela presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Ivone Silva, em entrevista nesse fim de semana à TVT.
Segundo Ivone, os resultados tornam o aumento real dos salários e a melhora na fórmula de cálculo da participação nos lucros ou resultados (PLR) prioridades da campanha nacional unificado dos bancários deste ano. Porém, após 10 rodadas de negociação, completadas nessa segunda-feira (15), ainda não há propostas apresentadas pelo setor patronal. “Além do aumento real e PLR maior, consideramos também fundamental um aumento maior para os vales alimentação e refeição. São itens que compõem a renda e muito afetados pela inflação elevada dos alimentos”, afirma a presidenta do sindicato e uma das coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários.
A entrevista de Ivone Silva foi gravada na última sexta-feira, antes, portanto da negociação, que também não trouxe propostas concretas. A próxima rodada está prevista para quinta-feira (18) e os bancários já têm manifestações marcadas para a sexta (19).
Segundo Ivone, uma das reivindicações do Comando Nacional junto à federação dos bancos (Fenaban) é regulamentar o teletrabalho (home office). “A proposta dos bancos para o teletrabalho, apresentada na sexta (12), ainda é insuficiente. Ter uma cláusula sobre o home office no nosso acordo é sem dúvida um avanço, mas a proposta da Fenaban ainda não contempla pontos que consideramos fundamentais para esse acordo. Por exemplo, controle da jornada, ajuda de custo para trabalhadores em home office e acesso dos sindicatos a esses bancários. Desse modo, só vamos avançar quando tivermos regras explícitas para esses pontos”, diz Ivone.
Outro tema tratado, desta vez nesta segunda-feira, foi saúde e condições de trabalho, assuntos em que os bancos, de acordo com os representantes dos bancários, resistem em admitir uma realidade dramática. A representação da Fenaban nega que o alto índice de adoecimento na categoria esteja relacionado às políticas abusivas de pressão por cumprimento de metas.
Metas x saúde
De acordo com o Comando Nacional, nos últimos cinco anos, o número de afastamentos nos bancos aumentou 26,2%, enquanto na média das demais categorias a variação foi de 15,4%. Segundo consultas feitas pelos sindicatos antes das negociações, bancários relatam alta incidência de cansaço, fadiga e preocupação constante.
Além disso, apontam desmotivação e medo de “estourar”, sintomas de distúrbios e lesões. Crises de pânico, insônia e consumo de medicamentos de uso controlado também estão entre os problemas graves citados pelos bancários na consulta.
“Até o levantamento apresentado pelos bancos constata maior adoecimento mental e físico dos bancários na comparação com outras categorias. Precisamos acabar com os geradores do adoecimento que, sabemos, estão ligados ao assédio moral e à cobrança abusiva de cumprimento de metas inatingíveis”, disse a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Juvandia Moreira, que é coordenadora do Comando Nacional dos Bancários. “Mas os bancos insistem que o adoecimento não tem origem na cobrança abusiva de metas”, diz.
O Comando Nacional trata também como uma das prioridades da campanha nacional da categoria o combate ao assédio moral e ao assédio sexual no trabalho. Os assuntos sempre são pauta nas campanhas salariais. Mas ganharam mais repercussão depois das denúncias envolvendo o ex-presidente da Caixa, Pedro Guimarães, com envolvimento de parte da diretoria da instituição. Os bancários querem a criação de canais efetivos e seguros de denúncias, de punições e de formas de prevenção a essas práticas.
Por Paulo Donizetti de Souza, da RBA