A Petrobras anunciou na quinta-feira (28) que lucrou R$ 54,3 bilhões entre abril e junho deste ano. Levando em conta esse resultado, a estatal já lucrou R$ 98,8 bilhões só no primeiro semestre de 2022.
Isso é 124% a mais do que lucro obtido no primeiro semestre do ano passado. É ainda só 7% a menos do que o lucro anual da empresa contabilizado em todo 2021 –R$ 106,6 bilhões, recorde da companhia.
O crescimento do ganho da estatal está ligado, principalmente, à alta do petróleo no mercado internacional e à alta dos combustíveis no Brasil, que subiram em média 60% do primeiro semestre de 2021 para o primeiro semestre de 2022, segundo a Petrobras.
Como a empresa produz gasolina, diesel e gás com custos em reais e os vende aqui a preços vinculados ao dólar, a estatal aumenta o seu lucro enquanto brasileiros pagam mais pelos combustíveis.
No segundo trimestre do ano, a Petrobras subiu o preço do diesel que ela vende a distribuidores de combustíveis duas vezes: em maio e em junho. Já o preço da gasolina subiu em junho.
Isso colaborou para que as receitas da estatal com a venda de derivados de petróleo crescesse 24% do primeiro para o segundo trimestre.
“É um crescimento muito grande causado pelo aumento de 20% nos preços dos derivados no período”, explicou o economista Eric Gil Dantas, do Observatório Social do Petróleo (OSP). “As vendas da Petrobras não subiram. O que subiu foi o preço.”
Essas altas, segundo a estatal, estavam de acordo com a política de preços vigente na Petrobras, a qual justamente estabelece que a ela venda derivados de petróleo a preços equivalentes aos praticados no mercado internacional desses produtos. Isso é chamado de Preço de Paridade de Importação (PPI).
De acordo com especialistas ouvidos pelo Brasil de Fato, é por causa dessa política que o preço da gasolina e do diesel no Brasil ultrapassou os R$ 7 por litro neste ano, atingindo os maiores valores já registrados na história do país. Esses valores também são os maiores desde 2001 mesmo que se desconte a inflação acumulada no período, de acordo com monitoramento realizado pelo OSP.
Em julho, a Petrobras já reduziu o preço da gasolina duas vezes. O Congresso Nacional também aprovou a redução de impostos sobre combustíveis para tentar amenizar a alta em postos. O governo, porém, não alterou a política de preços da Petrobras.
Ganho para acionista
Enquanto a população gasta mais, os acionistas da Petrobras --sendo um quarto deles estrangeiros-- ganham mais.
Pouco antes de anunciar seus resultados, a estatal também comunicou que pagará R$ 87,8 bilhões em dividendos relacionados a sua atividade só no segundo trimestre. Este valor também é recorde.
No trimestre anterior, quando a Petrobras lucrou R$ 44 bilhões, outros R$ 48,5 bilhões em dividendos já haviam sido distribuídos a acionistas. Isso significa que, só neste ano, a estatal já comprometeu-se a distribuir mais de R$ 136 bilhões em lucros.
PEC dos Auxílios
Desse total, cerca de R$ 50 bilhões irão para o governo, acionista controlador da Petrobras. Parte desse dinheiro será usado para pagar benefícios sociais criados pela PEC dos Auxílios, promulgada neste mês.
A PEC prevê o gasto de R$ 41 bilhões para a aumentar o valor do Auxílio Emergencial de R$ 400 para R$ 600, criar um auxílio caminhoneiro de R$ 1 mil e distribuir outros benefícios até o fim do ano. Tudo isso a dois meses da eleição, o que até então era proibido por lei.
O texto da PEC estabeleceu que o país está em “estado de emergência” justamente por conta do aumento dos combustíveis para autorizar os pagamentos extraordinários pouco tempo antes da eleição.
Fonte: Brasil de Fato | Curitiba (PR), por Vinicius Konchinski