Na manhã desta sexta-feira (7), o presidente da Cemig, Reynaldo Passanezi Filho, foi o mediador de uma live com o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, e o ministro de Minas e Energia, almirante Bento Albuquerque. A live, cujo tema foi “O momento atual e os desafios do setor elétrico”, começou com o hino nacional.
O evento durou 1h08 e pode-se dizer que foi uma palestra virtual a três, com discurso para o mercado. Não se abriu a palavra para o público, que ficou impedido de encaminhar suas perguntas aos que participaram da mesa. A direção do Sindieletro e muitos eletricitários ficaram na expectativa de enviar seus questionamentos, que eram muitos, mas só tiveram a oportunidade de ouvir.
Romeu Zema e Reynaldo Passanezi Filho retomaram com o discurso, nas entrelinhas, de defesa da privatização da Cemig. Elogiaram muito a empresa, mas com uma visão de marketing. Passanezi, inclusive, destacou que a gestão dele é voltada para criar uma cultura do privado na empresa. Do outro lado, Zema ressaltou que Passanezi está na Cemig seguindo todas as suas diretrizes, já conhecidas pelos mineiros – entre elas, a defesa intransigente da privatização.
Já o almirante Bento Albuquerque enfatizou as medidas que o governo Bolsonaro vem tomando para o setor elétrico, defendendo claramente a privatização da Eletrobras. Ele não se referiu à palavra privatização, mas ao projeto de “capitalização” do grupo Eletrobras que está na Câmara dos Deputados, o que dá na mesma.
Zema: inverdades
A participação de Romeu Zema foi rápida, com a alegação de que ele tinha outro compromisso. Mas no pouco tempo que falou, o govenador voltou com o discurso de sempre: segundo ele, o Estado passa por “seríssima” crise financeira e a Cemig já teve seu tempo como empresa pública. Suas declarações foram contraditórias e algumas informações não representaram a verdade.
“A Cemig está próxima a completar 70 anos, com um histórico muito relevante para o desenvolvimento de Minas. Mas o Estado, agora, ao invés de contribuir com empresa, o que mais faz é exauri-la, fazendo com que a Companhia perca investimentos”, afirmou. Zema acrescentou que “escuta muito os mineiros em suas viagens” e as reclamações em relação à Cemig são frequentes. Segundo ele, reclamam agricultores, que “não conseguem energia para operar seus novos equipamentos” e reclama a indústria, pelo mesmo motivo.
O governador disse, ainda, que a Cemig fica com restrições para investimentos porque o Estado não pode fazer o aporte: “Por isso, temos que estudar alternativas para o mineiro não ficar prejudicado”. Logicamente, é um discurso de defesa da privatização e que confunde, porque o Estado, há décadas, não precisa fazer aportes na empresa; a Cemig é que tem repassado recursos vultosos para o Estado, como acionista majoritário, pelos lucros extraordinários ao longo do tempo. Com o próprio lucro, a estatal realiza seus investimentos, e não são poucos.
Romeu Zema elogiou a Cemig como se o profissionalismo e qualificação altamente técnica dos trabalhadores passassem a existir com o início do seu mandato. Segundo o governador, ele “não tem bandeira ideológica”, e por esse motivo, “fizemos uma empresa profissionalizada, eficiente para melhorar os serviços aos consumidores”.
Passanezi: contradisse o governador e anunciou que o home office veio para ficar
Já Reynaldo Passanezi Filho pôs as declarações do governo em contradição quando destacou os investimentos da empresa e o seu papel para o desenvolvimento de Minas, levando energia de qualidade para 20 milhões de mineiros. Ele até comemorou: “realizamos os maiores investimentos de história da Cemig”.
O presidente da estatal lembrou que a empresa foi criada em 1952 por Juscelino Kubitscheck (JK) para alavancar a economia de Minas e, hoje, tem 8,5 milhões de consumidores. Também relembrou que a Cemig é a maior comercializadora de energia do país, o segundo grupo de transmissão do Brasil, possui uma rede que dá 13 voltas na Terra e é o sexto maior grupo de geração, estando presente em 21 estados brasileiros e com participações no setor de gás e em grandes empresas, como Belo Monte e Santo Antônio. Passanezi ressaltou também que “somos uma concessionária de serviço público de alta qualidade”.
“Obviamente, temos que falar da pandemia, o que nos deixa mais estimulados para garantir a qualidade dos serviços. Temos enfrentado, de fato, todos os desafios para atender os consumidores com qualidade nestes tempos”, disse Passanezi. Ele e o ministro de Minas e Energia referiram-se aos trabalhadores como “colaboradores”. Passanezi afirmou que todos, “colaboradores” e diretoria, estão unidos para enfrentar a situação de pandemia. Informou que a Cemig está “trabalhando para garantir a saúde e segurança dos colaboradores” e informou que foi criado na empresa o Comitê Covid, formado pelos diretores da estatal. Mas e os trabalhadores, a base que garante a qualidade dos serviços, o pessoal do chão de fábrica?
Ele declarou também que as salas da Sede foram todas abertas (retirada das divisórias) e que já percebeu alta produtividade no sistema home office. E anunciou: o home office veio para ficar, será realidade também após a pandemia. Ainda de acordo com Passanezi, a gestão da empresa atua hoje pela digitalização.
Ele defendeu que a orientação da sua gestão é pela cultura do privado. “Estamos trabalhando na cultura da empresa sempre orientada para a norma privada”, enfatizou. O presidente da Cemig destacou ainda que, quando chegou na estatal, percebeu “o orgulho grande de ser Cemig”, e logo também constatou a existência de uma “equipe de nível mundial, muito técnica”.
Passanezi também abordou sobre a Gasmig. Segundo ele, “é uma das jóias da Cemig”. Ele destacou que a empresa acabou de renovar a concessão de gás por mais 30 anos e que há esforços para “aproveitar este momento, apoiar a indústria com o fornecimento de gás, com a expansão de nossa rede”. O executivo antecipou que o objetivo é alcançar em sua gestão a marca de 100 mil consumidores da Gasmig. Para isso, está realizando muito esforço para os devidos investimentos.
Ministro: “Todas as medidas são orientações de Bolsonaro”
O almirante Albuquerque destacou que as medidas adotadas pelo Ministério, sobretudo na pandemia, e também para “capitalizar” a Eletrobras, entre outras, são orientações do presidente Bolsonaro. Ele defendeu a modernização do setor elétrico, com ênfase para a digitalização dos serviços.
A defesa da privatização foi feita com a abordagem sobre a capitalização da Eletrobras. Ficou clara essa defesa quando o ministro disse que é preciso trazer novos agentes para o setor. Citou que esses agentes terão segurança em investir com o projeto de capitalização que já está no Congresso (na verdade, a proposta de privatização da Eletrobras). Ele disse esperar que a “capitalização” ocorra ano que vem, após o projeto ser aprovado no Congresso.
“Não queremos nos desfazer da Eletrobras, da Cemig também não. Queremos que nossas empresas de energia prestem melhores serviços ao Brasil e a Minas e é isso que propusemos, com a modernização e capitalização do setor elétrico, e também no mercado de gás. E podemos melhorar os serviços com novos agentes do mercado. Eles estão chegando”, declarou o ministro. É ou não é a defesa da privatização?
Queríamos perguntar, mas ficamos sem respostas
Infelizmente, nem o Sindieletro, nem os eletricitários puderam fazer perguntas, e seriam várias. Muita gente da base estava ansiosa para participar. Um trabalhador, por exemplo, já tinha preparado duas perguntas.
A primeira: “Com o repasse da conta covid-19 em R$ 1,8 bilhão, agora em julho, o governador vai isentar os consumidores de aumento de energia nos próximos cinco anos, ou vai permitir que o valor de R$ 1,8 bi seja usado como lucro para os acionistas, devido à pandemia?”
A segunda pergunta: “Com os bons resultados econômicos e financeiros da Cemig, o Zema continua com a intenção de entregar a estatal para o mercado?” Fazemos coro.