O leiturista é o responsável por identificar e coletar os dados do medidor de energia do consumidor. É ele quem tem contato direto com o cliente, mesmo durante a pandemia global que assola o país. Mas a pressão por produtividade e lucro não arrefece nem mesmo em períodos críticos como o que estamos vivendo.
A empresa Minas Norte atende às cidades de Brumadinho, Juatuba, Mateus Leme, Betim e Sarzedo. Nestes locais, os trabalhadores vêm sofrendo ameaças de demissão devido ao Índice de Realização de Leitura. Para cumprir a meta do índice, que abrange as leituras feitas em áreas rurais e urbanas, os trabalhadores passam por situações difíceis.
O trabalhador Y. nos conta que, antigamente, o número de leituras era mais flexível. Hoje em dia, é necessário que os funcionários cumpram o nível apertado de medições diárias, mesmo que estejam sujeitos a vários constrangimentos e percalços por conta disso.
“O principal problema durante a pandemia é o portão fechado. Algumas pessoas não abrem o portão e, portanto, não conseguimos fazer a leitura. As pessoas estão passando dificuldade, não dão conta de pagar a conta de luz, então, não querem abrir o portão. O contato direto com o consumidor também é um problema, porque temos que evitar nos aproximar para não nos contaminarmos”, conta Y.
A carga de trabalho aumentou muito, e a jornada diária tem sido exaustiva: “Normalmente, o leiturista pega serviço às sete da manhã. Com 350 leituras, em média, ele acaba o trabalho por volta das 13h, sem almoçar ainda, e vai para a empresa. Mas a carga aumentou tanto que tem gente saindo com 400, 500 e até 1.200 leituras por dia. Estamos ultrapassando o horário de 7h às 13h para conseguir cumprir a rota”. Sem contar com os funcionários que adoecem com a covid-19; quem ainda não adoeceu pega todo o serviço restante.
Além disso, a empresa vem exigindo que os funcionários peguem o contato dos consumidores para que possam ligar antes da leitura: “Quando o relógio é para o lado de dentro, devemos pedir o contato do consumidor. Mas alguns clientes que têm conhecimento não querem passar esse contato, são grosseiros e até dizem que isso é ilegal. A empresa está cobrando muito da gente, principalmente agora que não usamos mais o nosso celular pessoal para os atendimentos”.
Meta não oferece bonificação
Mesmo com todos esses impedimentos, a cobrança continua, e quem não atinge a meta do atendimento é pressionado. Para piorar a situação, a bonificação que era oferecida antigamente não existe mais.
No geral, a cobrança é resultado de uma má gestão de processos por parte da empresa, que coloca nas costas do trabalhador a responsabilidade de gerar lucro, mesmo em um momento delicado. O Sindieletro reivindica uma mudança de postura por parte das chefias da Minas Norte, levando em conta as dificuldades de interação com os clientes e as normas sanitárias impostas para controlar a pandemia, para a proteção dos trabalhadores e de suas respectivas famílias.
Longas jornadas de trabalho sem descanso, metas inalcançáveis e a exaustão do trabalho em si: não só a saúde física dos leituristas está comprometida — também a saúde mental deve ser levada em conta.