O jornalista Alberto Dines, criador do Observatório da Imprensa, espaço de análise da mídia brasileira, morreu nesta terça-feira, dia 11, aos 86 anos. Ele estava internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde se tratava de pneumonia.
Alberto Dines era um jornalista, articulista e pesquisador brilhante. Escreveu livros alentados sobre Antônio José da Silva, o Judeu, e Stefan Zweig (é autor de uma das melhorias biografias do escritor austríaco que se matou em Petrópolis; judeu, temia a expansão do nazismo pelo mundo). Mas vai ficar mesmo como jornalista — um dos mais qualificados editores da história do país.
Na “Folha de S. Paulo”, antes da moda do ombudsman, escreveu uma coluna, “Jornal dos Jornais”, na qual examinava os problemas da Imprensa. Nos últimos tempos, era crítico da qualidade do jornalismo patropi — “muito aquém do razoável, fruto da visão pragmática que cominou o cenário da imprensa nas últimas décadas” (os jornais, na verdade, se tornaram praticamente iguais, numa luta selvagem pelo sensacionalismo, pela vacuidade em termos de ideias. Pode-se dizer que o “estilo” factual, inodoro, de “O Popular” venceu).
No “Jornal do Brasil”, Alberto Dias montou uma equipe que acabou influenciando os demais jornais e, até, as revistas. Fazia um jornalismo vigoroso, com incentivo ao texto de qualidade e bem apurado. As grandes mudanças do “JB” — gráficas e editoriais — foram quase todas feitas no período em que era editor do jornal. Nunca quis ficar com a fama só para si, e sempre compartilhou os méritos com outros jornalistas. Era rigoroso e exigente, mas todos admiraram seu talento para dirigir, escrever e editar.
Mais tarde, no Observatório da Imprensa abriu espaço para a crítica da Imprensa. O OI às vezes é excessivamente acadêmico, não raro distante das atribulações reais dos jornais, mas seus artigos contribuem, no geral, para o debate sobre o jornalismo que se faz no Brasil.
História do jornalista
Alberto Dines em 19 de fevereiro de 1932, no Rio de Janeiro.
Seu livro clássico é “O Papel do Jornal — Uma Releitura”. Mas escreveu outros livros, como a biografia de Stefan Zweig, que serviu de base para vários outros estudos, notadamente sobre a vida do escritor no Brasil.
Como tantos jornalistas (e escritores, como Guillermo Cabrera Infante), começou sua carreira profissional como crítico de cinema, em 1952. Ele escrevia na revista “A Cena Muda”. De lá migrou para a revista “Visão”, dirigida por Nahum Sirotsky (1925-2015), para cobrir teatro e cinema. Mas decidiu escrever reportagens políticas. Escreveu na revista “Manchete”, mas, atritado com um dos irmãos Karamábloch, Adolpho Bloch, saiu e, em 1959, assumiu a editora do segundo caderno do jornal “Última Hora”, de Samuel Wainer. Dirigiu a revista “Fatos&Fotos” escreveu para o jornal “Tribuna da Imprensa”, que, em 1960, era do “Jornal do Brasil’. Foi editor do “Diário da Noite”, dos Diários Associados.
Em 1962, tornou-se editor-chefe do “Jornal do Brasil”. Por 12 anos, trabalhou no jornal da condessa Pereira Carneiro e de Manoel Francisco Nascimento Brito. No “JB” criou uma grande escola de jornalismo, com uma equipe de excelente nível. Em 1973, a cúpula do jornal o demitiu. Não agradava a ditadura. Tornou-se professor-visitante na Universidade de Colúmbia.
No retorno ao Brasil, convidado pelo jornalista Claudio Abramo — o editor que reinventou a “Folha de S. Paulo” (Otavio Frias Filho deu seguimento às suas ideias) —, Alberto Dines assume a direção da sucursal do jornal no Rio de Janeiro. Com os novos tempos do jornal, passa a escrever no jornal “O Pasquim”, jornal criado por Tarso de Castro e Jaguar, entre outros menos (ou mais) votados. Na década de 1980, assumiu o cargo de secretário e, depois, diretor-editorial da Editora Abril, da família Civita. Como Roberto Civita havia colocado um pé em Portugal, Alberto Dines foi enviado para a terra de Fernando Pessoa. Ficou lá, como diretor, de 1988 a 1995. Ele lançou a revista “Exame”. Em 1994, criou o Observatório da Imprensa — espécie de posto avançado de crítica aos equívocos da Imprensa.
Veja vídeo do jornalista sobre o papel social do jornalismo.