A ex-nadadora Joanna Maranhão destacou, em entrevista concedida ao programa Giro Nordeste, na Rede TVT, o combate a micro agressões como forma de reduzir a violência no esporte. A pernambucana foi vítima de abuso sexual cometido, segundo ela, pelo próprio treinador quando tinha apenas nove anos de idade e desenvolveu a violência geral nos ambientes esportivos brasileiros como tema para uma dissertação de mestrado.
Joanna Maranhão, dona do melhor resultado feminino do país na história da modalidade, recentemente tornou-se também a primeira mulher eleita para o conselho de ética do COI (Comitê Olímpico Internacional).
“Precisa-se entender todas as agressões que estão presentes dentro do esporte. Elas podem ser de natureza psicológica, física, sexual, moral, negligência e as micro agressões.”
Para fazer a dissertação, a ex-nadadora aplicou um questionário com aproximadamente mil atletas e 93% deles reponderam já terem sofrido casos de assédio psicológico, 64% de abuso sexual e 49,7% de assédio físico. “Não tirei as perguntas da minha cabeça, usei um instrumento já usado em outros países. Tem alguns itens que muitas pessoas podem ler e dizer: ‘mas, pera aí, isso é violência? É tão normal dentro do esporte.’ Mas são justamente essas micro agressões que vão acontecendo e levam a violências mais severas.
A partir do momento que a gente entende que nenhuma daquelas condutas é aceitável, é mitigando essas menos sérias que a gente vai diminuir o índice das mais sérias”, explica, ressaltando que é a vítima quem define a seriedade ou gravidade de cada violência no esporte.
Foco, força e fé
Joanna Maranhão falou que a violência praticada dentro do ambiente esportivo é hierarquizada e se confunde com a mentalidade de ganhar a qualquer custo. “Então fica muito difícil a gente distinguir o que aquela pessoa está fazendo para que eu atinja a minha melhor performance e onde isso se torna um comportamento abusivo”.
A ex-nadadora acrescentou que os atletas menores de 18 anos são ainda mais vulneráveis. “Essa vulnerabilidade caminha ou aumenta conforme ela vai entrando no alto rendimento. Então a gente não pode dizer que atletas profissionais agudos são menos vulneráveis do que crianças.” Ela acrescenta que a ciência mostra é que muitas vezes os perpetuadores dessas violências nem tem consciência de que está sendo um abusador, “de tão normalizadas que essas condutas são.”
A pernambucana de 35 anos, quinta colocada nos 400 m medley dos Jogos Olímpicos de Atenas em 2004, melhor colocação conquistada por uma atleta brasileira na natação, falou que na dissertação de seu mestrado apresenta diversas formas de combater a violência no esporte. E citou uma. “O esporte brasileiro depende muito de subsídio governamental. A gente pode e deve condicionar esse recebimento a ações preventivas com análises dessas ações. Educação precisa ser contínua, a gente sempre se educa. E temos de entender o quanto essas ações foram eficazes para que o esporte se torne mais seguro”.
Chaga mundial
A violência no esporte não é restrita ao Brasil e, recentemente, muitos casos têm vindo à tona. Um dos mais emblemáticos nos últimos tempos foi com a estadunidense Simone Biles, um dos maiores nomes da ginástica artística em todos os tempo.
No ano passado, ela se retirou Jogos Olímpicos de Tóquio, onde era franca favorita para levar praticamente todas as medalhas de ouro, alegando estafa mental A desistência gerou debates sobre como os atletas de alta performance sofrem pressões por resultados.
Pouco depois dos Jogos, em setembro do ano passado, Biles revelou ter sido vítima de assédio sexual na infância praticados pelo ex-médico da seleção daquele país Larry Nassar. “Ganhei 25 medalhas em mundiais, sete em Olimpíadas, e sou uma sobrevivente de abuso sexual”, afirmou em depoimento no Senado dos Estados Unidos. Nassar foi condenado por uma série abusos sexuais contra atletas.
Um das vítimas, Chelsea Markham, violentada aos 10 anos, cometeu suicídio aos 26. A história, documentada no filme Atleta A, foi revelada 20 anos após os abusos, exposta pelo jornal The Indianapolis Star.
Fonte: Rede Brasil Atual, por André Rossi