Jairo, um eletricitário à frente da CUT Minas



Jairo, um eletricitário à frente da CUT Minas

O ex- coordenador geral do Sindieletro (2010 a 2016) e atual diretor de Relações Institucionais do Sindicato, Jairo Nogueira Filho, foi eleito presidente da Central Única dos Trabalhadores de Minas Gerais (CUT/MG), no 13º Congresso Estadual – CECUT/MG, realizado de 29 de novembro a 1º de dezembro, no Centro de Convenções do Sesc, em Ouro Preto. Jairo ocupava o cargo de secretário-geral da CUT/MG nas duas últimas gestões.

É a segunda vez que um eletricitário é escolhido para presidir a CUT Minas. Primeiro foi o ex-coordenador geral do Sindieletro, Lúcio Célio Gueterrez, na gestão 2000 a 2003.

Injustiças sociais

Natural de Lavras, no Campo das Vertentes, a luta contra as injustiças sociais faz parte da vida de Jairo Nogueira desde criança. Filho de lavradores, o atual presidente da CUT conta que a família, de cinco filhos, veio para Belo Horizonte fugindo da fome e em busca de melhores condições.

Mas, com a falta de dinheiro e de emprego, fixaram residência no aglomerado do Morro do Papagaio, na zona Sul de Belo Horizonte, onde morou durante toda a infância.  Jairo ainda traz na memória as lembranças dos amigos de infância, quando jogavam bola na rua, descalços até tarde da noite; ”era uma infância pobre, mas éramos felizes”, diz, sorrindo.

Mas a diferença social se fazia presente nas casas sem reboco, nos becos mal iluminados, no esgoto correndo a céu aberto, nas dificuldades para pagar as contas e quando a Polícia Militar, fortemente armada, entrava nos becos, agredia moradores e invadia as moradias. “Quem mora na periferia, no morro, sente de perto a mão opressora do Estado, a PM acha que todos que moram na favela são marginais, e essa situação de abuso infelizmente dura até os dias de hoje”, lamenta.

Despejados pela Prefeitura, que reivindicou a posse do terreno onde morava, a família mudou-se para o bairro Caiçara. Foi lá que o atual presidente da CUT Minas começou a trabalhar como office boy em uma empresa de segurança. Entre uma fila de banco e outra, Jairo conta que pegava o jornal para ler, e encontrou o anúncio de um concurso público na Cemig, fez a inscrição e foi aprovado.

A Cemig e a militância no Sindieletro

Admitido em 1988 como aprendiz no programa Cemig Senai, o sindicalista foi estudar na Escolinha de Sete lagoas, hoje Univercemig, e uma de suas primeiras ações foi se filiar ao Sindieletro.

Transferido para a extinta base no bairro São Gabriel, ainda como estagiário, participou da greve realizada em julho de 1988, pela recomposição das perdas salariais. Foi perseguido pelo gerente, ameaçado de demissão, teve os dias parados descontados de uma única vez, e só foi efetivado no cargo de eletricista dois anos depois, mas destaca que a greve deixou nele a convicção sobre a importância da coletividade e que só se conquista melhores condições de trabalho com a luta.

No inicio dos anos 2000 Jairo Nogueira entrou para a direção do Sindieletro. Em 2006 assumiu a Secretária de Saúde e Segurança, em seguida coordenou a Regional Metropolitana e de 2010 a 2016 foi escolhido para ocupar a Coordenação Geral do Sindicato. Jairo destaca que durante a sua gestão, o Sindieletro e a categoria enfrentaram várias lutas por melhores condições de trabalho e salários, contra a privatização e a terceirização, os acidentes e mortes na Cemig e os ataques da direção da empresa contra os trabalhadores.

Mas dois fatos, em sua avaliação, marcaram a sua passagem à frente da coordenação do Sindieletro. O apoio do Sindicato e da categoria à greve dos professores da rede estadual, que durou 112 dias e que conquistou o piso nacional dos professores. “Antônio Anastasia (PSDB) governava o Estado, se ele conseguisse derrotar os professores, seria uma derrota para todo o movimento sindical, em especial para os trabalhadores da Cemig”, observa.

Outra luta importante foi o Plebiscito Popular sobre o Preço da Tarifa de Energia Elétrica em Minas Gerais, que coletou mais de 600 mil votos. “Conseguimos organizar o plebiscito em varias regiões do Estado. Na época o objetivo não era só para baixar o preço da energia, mas também contra um modelo de gestão do estado”, lembra. Foi durante a sua gestão na direção do Sindieletro que Jairo assumiu, também, a Secretaria Geral da CUT Minas.

Novos desafios à frente da CUT Minas

O ex-coordenador geral do Sindieletro assume a presidência da CUT em um momento difícil para a sociedade brasileira e os trabalhadores, com o presidente Jair Bolsonaro e suas medidas impopulares de ataque à organização sindical, a aprovação da Reforma da Previdência, da reforma Trabalhista e o projeto da Carteira Verde Amarela. Em Minas a situação não é diferente com o governo Romeu Zema e sua obsessão na privatização da Cemig e de outras empresas estatais.

Jairo destaca que o país enfrenta uma das piores crises de emprego e as reformas aprovadas pelo governo Temer e Bolsonaro não surtiram efeito na criação de empregos. “Não há geração de emprego, mas a substituição de mão de obra, os empresários estão demitindo trabalhadores que ainda tem algum direito e contratando empregados sem qualquer direito”, observa.

Outro problema apontado pelo presidente da CUT Minas é o crescimento da informalidade no mercado de trabalho, “o numero de trabalhadores na informalidade já ultrapassou o número de empregados no mercado formal e ainda vem a uberização para precarizar ainda mais as relações de trabalho”, avalia.

Jairo afirmou que nos congressos realizados pela CUT, a Central aprovou a deliberação de que a entidade tem que voltar para as bases, para dentro das fábricas, para os bairros, igrejas e associações comunitárias, debater com a comunidade as políticas adotadas pelo governo, as propostas de privatizações; formar redes de solidariedade entre os trabalhadores empregados e desempregados. “Durante os governos Lula e Dilma, conseguimos colocar nossos filhos na faculdade, hoje existem mais negros e pobres estudando, mas onde eles vão trabalhar depois de formados?”, questiona.

Jairo se emociona ao dizer que não quer ver esses novos trabalhadores em uma empresa terceirizada, recebendo pouco e com a saúde debilitada pela extensa jornada de trabalho. “Não quero vê-los com a carteira verde amarela, sem direitos. Temos que lutar para que eles tenham empregos de qualidade e dignidade, que possam viver em um país melhor para todos nós, e para isso, conto com o apoio do Sindieletro e dos eletricitários”, finaliza.

 

 

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