Após inúmeras matérias publicadas pelo Chave Geral denunciando problemas de ergonomia e reclamações dos eletricitários sobre as antigas caminhonetes Iveco na Cemig, ainda hoje elas são utilizadas.
Em 2007 o então gerente de Relações Sindicais (RH/RS), João Lúcio Pereira confirmou que os setores de saúde e segurança e de transporte da Cemig estavam cientes das reclamações dos trabalhadores. Na época o gerente confirmou que a empresa tinha conhecimento das reclamações e “estava avaliando tecnicamente a questão para tomar as providências cabíveis”. No entanto, passados nove anos, os veículos continuam em operação provocando adoecimentos nos eletricitários.
Veículos velhos, sem manutenção e inadequados
Em Conselheiro Lafaiete vários eletricitários estão afastados do trabalho, outros em processo de readaptação e, para alguns, os médicos recomendam o afastamento definitivo e a aposentadoria precoce. Todos os diagnósticos envolvem enfermidades ligadas à hérnia de disco, bicos de papagaio ou desvio na coluna, o que provoca intensas dores lombares e incapacidade para o trabalho.
De acordo com os eletricitários, os problemas de saúde foram agravados pelas condições de ergonomia e conforto das Ivecos Daily 3513, totalmente inadequadas, aliadas à falta de manutenção dos veículos pela Cemig.
Vários trabalhadores relatam as dificuldades em dirigir 300 a 400 quilômetros por dia num veículo com bancos finos e que não possue molas o que obriga os ocupantes a ficarem com a coluna reta (90 graus). A suspensão é extremamente dura fazendo com que a coluna do trabalhador receba toda a carga de trepidação, as cabinas são pequenas, não há espaço para os ocupantes esticarem as pernas, o passageiro é obrigado a viajar com um pé no assoalho e o outro apoiado na caixa de roda. Basta uma entrada no carro para ver que o câmbio de marcha também é duro e inadequado e fica batendo na perna do motorista. Nas estradas de terra, os impactos sobre a coluna dos eletricitários são ainda maiores.
Omissão e indiferença à dor
De acordo com denuncia dos eletricitários de Conselheiro Lafaieite, o assunto foi discutido inúmeras vezes nas reuniões de Cipa, mas a Cemig não tomou qualquer atitude.
Os eletricitários afirmam que a médica da empresa, Paulete Terenzi M. Carvalho, fez um estudo comprovando que problemas de coluna são inerentes às atividades desenvolvidas pelos eletricistas. Segundo trabalhadores da Região Mantiqueira, estudos feitos pela própria Cemig resultaram, inclusive, em recomendações à fábrica para fazer mudanças nas caminhonetes. Mas de acordo com os trabalhadores, amédica se recusa a emitir a Comunicação de Acidentes de Trabalho (CAT) para não configurar a relação das enfemidades com a condição de trabalho ruim (nexo causal).
O Sindieletro procurou o gerente de Relações Sindicais da Cemig, Bruno Vianna, para esclarecer por que a empresa continua a utilizar os veículos antigos e sobre a não emissão das CATs, mas, até o fechamento desta edição do Chave Geral não obteve respostas. Vianna afirmou apenas que é preciso tempo maior para verificar as denúncias.
Desrespeito à NR 17
A psicóloga do Trabalho e assessora de Saúde do Trabalhador do Sindieletro, Laís Di Bella, alerta que, ao ofertar veículos inadequados a Cemig viola a NR 17, norma do Ministério do Trabalho que dispõe obre as condições de ergonomia. Essa falha grave da empresa, explica a profissional, prejudica a saúde dos trabalhadores gerando doenças que se referem a um desdobramento das condições de trabalho que deveriam estar enquadradas na legislação que a previne. “As caminhonetes oferecidas aos eletricitários evidenciam a inaptidão da Cemig em adequar as condições de trabalho às características psíquicas e fisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente, o que é fator extremamente contributivo para o desenvolvimento de doenças decorrentes do trabalho, tais quais os problemas de coluna constantemente sofridos pelos trabalhadores usuários desses veículos", avalia.