A usina de Irapé, com 208 metros de altura, representou, desde a sua construção, a audácia e o arrojo da engenharia. Essa barragem que é a mais alta da América Latina e a segunda do mundo, já alimentou o sonho de que a sua criação alavancaria o desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha.
Mas esses superlativos e expectativas serviram apenas de impulso para viabilizar a construção de Irapé. Na prática, a usina não alterou em nada a vida das pessoas do Vale. Aliás, as coisas mudaram apenas para centenas de famílias que foram atingidas pela barragem e, consequentemente, expulsas de suas terras.
Inaugurada em 2006, a hidrelétrica - com um potencial de geração de 360 MW, maior inclusive do que o da Usina de Três Marias- poderia ter se tornado o ponto de estabilidade para o sistema elétrico de toda a região do Vale e do Norte de Minas.
Mas a energia gerada pela usina não foi disponibilizada localmente servindo apenas o sistema interligado que atende os grandes consumidores.
Tal restrição contrasta com a precariedade do atendimento dos consumidores no entorno da usina.
O fornecimento de energia na região é feito pelas subestações de Salinas e Taiobeiras. Em alguns casos, o atendimento é realizado através de sistemas monofásicos com até 60 km de extensão, o que compromete a qualidade e a segurança da energia disponível.
Além da distorção na função social de Irapé, outro motivo de preocupação para os eletricitários é o processo de terceirização da operação e manutenção da usina, que está sendo conduzido pela DGT e que já se encontra em estágio avançado.
Numa condução equivocada, estão substituindo o quadro próprio altamente qualificado da Cemig por mão de obra terceirizada, com risco de prejuízos incalculáveis para a empresa e para a sociedade, com o negligenciamento dos processos de operação e manutenção.
Em função da gestão temerária adotada pela empresa, Irapé, uma usina 100% Cemig, que foi exemplo de investimento que deu certo e que deveria ser mantida como parâmetro para outros investimentos e também de boa operação e manutenção está sendo jogada às traças.
Nesse cenário de falta de investimentos no sistema elétrico, Irapé vai, cada vez mais, se distanciando do seu objetivo inicial de alavancar o desenvolvimento da região.
Dois elementos desagregadores – que são o sucateamento da usina e a precarização da mão de obra- agravam a situação da hidrelétrica. Tal realidade deixa a Cemig cada vez mais distante de voltar a ser o orgulho dos mineiros e a referência no setor elétrico nacional.