Motoristas e cobradores do transporte coletivo convivem todos os dias com a responsabilidade de transportar e zelar pela vida de milhares de passageiros. Em contrapartida, cerca de metade deles diz ter sua segurança pessoal ameaçada no exercício da função. Pesquisa feita pelo Departamento de Medicina Preventiva e Social da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) aponta que 53% dos condutores de ônibus e 57% dos trocadores sofreram agressão ou ameaça no trabalho nos últimos 12 meses.
Foram entrevistados 1.600 profissionais de Belo Horizonte, Contagem e Betim, na região metropolitana, entre 2011 e 2012. O resultado é o “Estudo das Condições de Saúde e Trabalho dos Rodoviários”, que será divulgado nesta terça, em um seminário no auditório do Ministério Público do Trabalho (MPT), na capital. Além do risco relatado pelos trabalhadores, o levantamento mostrou que o trânsito ruim, as longas jornadas de trabalho e a falta de conforto nos coletivos também afetam a saúde dos trabalhadores.
“Provavelmente, tal situação esteja refletindo sobre a qualidade dos serviços prestados”, avaliou a coordenadora da pesquisa, Ada Ávila Assunção. No caso das agressões e ameaças relatadas pelos rodoviários, 87% delas teriam sido praticadas pelos próprios passageiros.
“Xingamentos ocorrem todos os dias. Neste ano um senhor ameaçou me bater porque demorei a passar no ponto. As pessoas não entendem que também somos vítimas do trânsito caótico”, disse o motorista Fernando Luiz Rocha, 42. “Os cacos de vidro ali no chão são de uma mulher que bateu em um cobrador e quebrou o ônibus na semana passada por causa de atraso”, relatou o trocador Jhonatas Luiz Filgueiras, 23, no ponto final da linha SC01, na avenida do Contorno.
Trânsito
Segundo a pesquisa, 90% dos rodoviários dizem enfrentar trânsito ruim ou muito ruim. Somado a isso, muitos relataram que são obrigados a dobrar o turno de trabalho no dia, sem receber hora extra por isso.
A precariedade dos ônibus também foi citada na pesquisa. Por conta dos bancos desconfortáveis, 62% dos motoristas dizem improvisar algum tipo de assento nas poltronas. Os dados completos da pesquisa, assim como os número absolutos, serão divulgados nesta terça.
Afastamento atinge 23%.
A média de afastamento de trabalhadores por conta de licenças médicas varia entre 23% e 26%, segundo o Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários da capital e região.
A BHTrans informou apenas que fiscaliza o cumprimento das cláusulas contratuais, como a capacitação dos rodoviários. Já o Estado indicou os sindicatos das empresas para falar do assunto, que, por sua vez, não se posicionaram.