Na segunda-feira (24), data que a gestão Zema na Cemig impôs para o retorno do trabalho presencial na empresa, o Sindieletro realizou protesto em frente à Sede e ouviu, mais uma vez, a voz dos trabalhadores: indignação geral da categoria eletricitária. A gestão recebeu a força de trabalho com um cafezinho, como se um cafezinho resolvesse a insatisfação e o clima ruim de trabalho.
Vários trabalhadores propuseram mobilização para pressionar os gestores a negociarem, não descartando a realização de uma greve. Trabalhadores e trabalhadoras relataram a falta de estrutura para o retorno das atividades presenciais: salas cheias, gente sem lugar para ficar e elevadores com superlotação, entre outros problemas.
A direção do Sindieletro informou que o superintendente de Gestão de Pessoas (DGP/RT), Brunno Viana dos Santos Sant`Anna, garantiu uma reunião ainda naquela semana para conversar sobre o regime de trabalho híbrido. Mas até o momento (terça-feira, dia 02 de maio), ele não havia marcado a reunião, apesar de nossas cobranças. Além do home office, queremos discutir o pagamento da PLR para toda a categoria.
Durante o protesto, foram distribuídos adesivos cobrando o diálogo imediato para a negociação do Acordo Coletivo do home office e o pagamento da PLR 2022 para todos os trabalhadores e trabalhadoras.
“O avanço é fruto da construção do Sindieletro e da indignação da categoria que se propõe a resistir para que não haja imposição de soluções arbitrárias para os problemas trabalhistas”, relembra nosso coordenador-geral, Emerson Andrada.
O sentimento dos trabalhadores neste momento foi resumido por uma carta que Emerson Andrada leu durante o protesto. Uma carta para os gestores da Cemig sobre a decisão monocrática de voltar com o trabalho presencial. Uma carta que faz refletir sobre a postura da gestão Zema na empresa e de onde realmente vem a força da Cemig. Confira,na íntegra:
Carta aos gestores da Cemig
Quem está faltando? De onde vem a força da Cemig?
Quando vi uma Diretoria e Presidência formadas apenas por homens brancos, não imaginava que a falta de representatividade das mulheres teria efeitos tão imediatos e tão ruins como as decisões desta gestão.
Para nós, mulheres (principalmente as mães), o home office sempre representou uma alternativa para conseguir lidar com a dupla jornada, ficar perto dos filhos – ainda mais em tempos de percentuais recorde de depressão e suicídio infantil. Nestes tempos, estar presente na vida familiar faz toda diferença, “dizem os especialistas”.
Para a maioria dos trabalhadores, o trabalho presencial significa não somente duas horas diárias no trânsito (são 200 horas mensais!), mas cansaço e estresse, o que reflete diretamente na vida familiar e na saúde mental de todas as pessoas em um lar.O home office também gerou a possibilidade de esposos e pais estarem mais presentes na vida familiar e cientes da divisão de trabalho no lar.
O trabalho híbrido possibilita as vantagens da interação na empresa, preservando a cultura (essencial em uma organização), mantendo ainda a qualidade de vida dos empregados e a saúde da família, e sem gerar despesas excessivas com trajeto e tudo que envolve o trabalho presencial. Enfim, colhemos os benefícios dos dois modelos. Ganham empresa e empregados. Prova disso é que todos os indicadores de resultados da Cemig tiveram resultados excelentes, haja visto o resultado da PLR que, infelizmente, acabou sendo distribuída apenas para uma parte dos trabalhadores, deixando muitos insatisfeitos e frustrados.
A decisão da volta 100% ao presencial vem fortalecer ainda mais um modelo empresarial onde os que têm sucesso são aqueles que não precisam cuidar de casa e família no final do dia; um modelo que privilegia homens ou mesmo mulheres que estão dispostas a terceirizar 100% dos cuidados da vida familiar. Ou seja: a empresa que diz “valorizar a diversidade” é a mesma que impõe pesos diferentes entre homens e mulheres, determinando condições desiguais no trabalho e na carreira.
As mulheres que conseguem sucesso nesse modelo a um custo alto, superando incontáveis barreiras e preconceitos, se transformam em objeto de romantização e superação. Vão para os jornais internos da empresa, afinal, “se elas podem, todas nós podemos”. Trocam uma vida de equilíbrio por uma medalha de superação e contam suas admiráveis histórias no Cemig Online.
Senhores diretores e senhor presidente: a pandemia veio acelerar a inovação e mostrar que podemos, sim, ser muito produtivos sem perder nossas vidas em trânsitos e rotinas desnecessárias. A empresa que não aprende com as crises está fadada ao fracasso. Precisamos urgentemente mudar nossos modelos mentais. A liderança precisa aprender a trocar um modelo de “controle de tempos e movimentos”, “sob o olhar do capataz”, para uma liderança que inspira, que confia, que cobra resultados e eficiência, que instiga a cooperação e o “espírito de dono”. Não podemos insistir em soluções antigas para uma empresa que valoriza a inovação e a busca de novas soluções para os desafios, a inclusão e a busca de resultados sustentáveis.
Não dá para divulgar no Cemig Online que “está ciente do impacto na vida dos empregados com a volta ao presencial” e dizer que “a empresa está tranquila e preparada.” Senhores, a empresa somos nós, os empregados. Afinal, de onde vem a nossa força?
É tempo de tomar decisões de maneira sustentável, com resultados positivos para ambos os lados! O home office surgiu como um “benefício” valorizado pelos talentos nas mais diversas áreas, e o melhor: sem gerar custo para a empresa! Já pararam para refletir que estamos vivenciando uma época de retirada de benefícios, preparando a Cemig para a privatização, e que até as empresas privadas com políticas mais agressivas de cortes em salários e benefícios têm praticado o home office? No setor elétrico, mais de 70% adotam o regime híbrido de trabalho.Não precisamos combater o home office, precisamos combater a falta de comprometimento, de profissionalismo e de engajamento.
Por último, voltando à minha fala inicial, convido os senhores diretores e o presidente a conhecer um pouco mais da realidade de seus empregados. Descer ao refeitório, conversar com os empregados nos andares para entender os impactos destas mudanças. Não fiquem trancados em suas salas, não façam apenas reuniões com os gerentes e superintendentes —eles não podem falar exatamente o que pensam e o que percebem de seus times. Não fiquem no café da manhã de comemoração do retorno ao presencial. Passem nos andares, entrem nos banheiros, conheçam a realidade de uma maioria que teve seu tempo diário impactado com duas horas ou mais no trânsito e despesas acrescidas em 1/5 do salário. São muitas dessas pessoas que movimentam e sustentam esta empresa, com histórias e realidades muito diferentes das suas, mas também de muita superação e comprometimento.
Se querem ser realmente inclusivos, repensem: quem realmente PERTENCE na narrativa de vocês, no time de vocês, nos lugares que vocês ocupam? Olhem ao redor. Quem está faltando?
De onde vem a força da Cemig?
Espero fortemente que essa carta chegue até vocês.
*Texto de anônima pertencente à força de trabalho da Cemig