No dia 7 de setembro de 2022, o Grito dos Excluídos e das Excluídas vai novamente às ruas do Brasil para perguntar: "Independência para quem?". Em Porto Alegre, uma marcha está prevista para iniciar às 9h, com concentração na frente da Igreja São José do Murialdo, localizada na rua Vidal de Negreiros, 550, no bairro Partenon.
Desde 1995, movimentos populares, grupos da sociedade civil e ordens religiosas se unem no dia 7 de setembro contra as mais variadas formas de exclusão. Em 2022, ano que marca o bicentenário da Independência do Brasil, a ação coletiva tem como objetivo denunciar injustiças na construção da soberania nacional e negligências do governo Bolsonaro.
Mesmo após quase 200 anos do grito "independência ou morte", entoado por Dom Pedro I às margens do rio Ipiranga, ainda perdura o questionamento: qual independência há, de fato, no Brasil? E para quem? Essa é a reflexão proposta pelo Grito dos Excluídos e das Excluídas anualmente em diversas cidades do país, em paralelo ao desfile cívico-militar do 7 de setembro, data que nos últimos anos tem sido marcada por atos a favor e contra o presidente Jair Bolsonaro (PL).
"Essa edição, de forma especial, quer mostrar que as nossas instituições públicas estão sendo desrespeitadas pelo atual governo e, sobretudo, denunciar o agravamento da fome, a versão mais cruel da desigualdade. Uma fome que é resultado de escolhas políticas", comenta a educadora popular Márcia Falcão, integrante do Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD), entidade que participa da organização do Grito.
Desde o início do Grito dos Excluídos e das Excluídas, a segurança alimentar sempre esteve no centro do debate. E, após 28 anos de luta, o acesso regular e permanente a alimentos de qualidade e em quantidade suficiente continua a ser reivindicado. Sob Bolsonaro, o Brasil voltou ao "Mapa da Fome" em 2021.
De acordo com o relatório da ONU "The State of Food Security and Nutrition in the World" [Situação da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo – disponível somente em inglês], o percentual de brasileiros que não sabem quando vão fazer a próxima refeição está acima da média mundial. "Foi o povo organizado em cozinhas comunitárias e em movimentos populares que fez um grande mutirão para enfrentar a fome. É esse povo que constrói o nosso país de baixo para cima. E o Grito dos Excluídos e das Excluídas vai para rua gritar não só contra a exclusão, mas gritar a importância da força dessas pessoas que constroem no dia a dia a resistência e a sobrevivência", ressalta Márcia.
Por uma nação livre, independente e soberana
Nacionalmente, o Grito dos Excluídos e das Excluídas surgiu em 1995, a partir da 2ª Semana Social Brasileira da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). A primeira mobilização ecoou em 170 localidades do país e teve como lema "A vida em primeiro lugar". Ainda que sua origem seja católica, de lá pra cá, o ato simbólico expandiu-se para outros âmbitos, envolvendo movimentos populares, religiosos e sindicais, entre outras organizações comprometidas com as causas das populações mais vulneráveis.
Segundo o secretário do Grito continental, Luiz Bassegio, o protagonismo é antes de tudo dos excluídos e das excluídas. "Para que eles contem suas dores, seus lamentos, suas dificuldades, fazendo com que tenham voz própria. Esse é o sentido do Grito", afirma. Luiz acrescenta que o 12 de outubro, data que recorda a chegada dos espanhóis à América, também não é um dia de comemoração: "Nós não celebramos a ‘descoberta’, mas a resistência dos povos".
Para além das atividades promovidas no dia em que o Brasil supostamente pôs fim às relações de poder coloniais, o Grito dos Excluídos e das Excluídas acontece antes, durante e depois do dia 7 de setembro. Embora potencializadas no nono mês, as reflexões e ações perduram o ano todo, por meio de reuniões, lutas específicas do dia a dia, debates e formação de lideranças.
Entre os principais pilares do Grito dos Excluídos e das Excluídas estão: analisar criticamente o atual modelo de "desenvolvimento" baseado no lucro e na acumulação privada; lutar contra a privatização dos recursos naturais, bens comuns e contra as reformas que retiram direitos das trabalhadoras e dos trabalhadores; ocupar os espaços públicos e exigir do Estado a garantia e a universalização dos direitos básicos; promover a vida e anunciar a esperança de um mundo justo, com ações organizadas a fim de construir um novo projeto de sociedade.
Fonte: Brasil de Fato (RS), por Clara Aguiar