Praticamente todas as providências do Executivo de Minas neste momento excepcional de surto de coronavírus foram protocolares. Embora necessárias, essas medidas são apenas um primeiro passo para outras mais eficazes. O governo não foi além e até o momento está tímido e, no frigir dos ovos impotente, no enfrentamento das consequências da nova doença.
Entre as ações de maior impacto até o momento, estão as que limitam a circulação de pessoas: suspensão das aulas, o fechamento de comércios, com exceção de supermercados e farmácias, restrição ao transporte coletivo e fechamento de todos os espaços públicos estaduais. Ainda foi permitido aos servidores o trabalho em casa. Tudo isso já consta em cartilhas médicas de emergências sanitárias.
O governador saiu do protocolo apenas quando na semana passada quando assinou acordo de R$ 5,2 milhões com a Vale. Esse dinheiro é parte das indenizações da mineradora em razão do ocorrido em Brumadinho. O recurso será utilizado na ampliação do hospital Eduardo de Menezes, referência no tratamento de doenças infecciosas, como o coronavírus.
Na área da assistência social não há nenhuma medida. Conforme a ONU, na hipótese de a doença se alastrar ainda mais, a economia irá sofrer um forte abalo. A entidade avalia que nesse contexto quase 25 milhões de pessoas no mundo irão perder seus empregos.
Assim sendo, iriam sobreviver, ao menos no Brasil, aqueles com outras fontes de rendas, como títulos públicos, ações e imóveis alugados. Os pobres (cerca de 40% da população) não teriam outras maneiras de sustento, exceto se os governos agissem, por exemplo, na ampliação de programas como o Bolsa Família, segundo recomenda a entidade internacional.
Na área médica ainda há espaço para atuação. Existe a possibilidade de se criar uma força-tarefa com médicos e estudantes de medicina de todo o estado. Essa frente poderia ser articulada junto à Sociedade Mineira de Infectologia e seria útil sobretudo aos menos abastados. Levando em conta o cenário sócio-econômico do estado, existem cidades, até mesmo comunidades em Belo Horizonte, que não possuem postos de saúde. Portanto, as condições de tratamento da doença ficariam restritas.
Governadores como o de São Paulo, João Dória, e os do Nordeste estão sendo mais persistentes. Dória vai a público, por meio de entrevistas aos jornalistas, por exemplo, com mais frequência que o governador mineiro. Nos últimos 15 dias, Zema participou de três, enquanto o paulista marcou presença em cinco.
Os chefes dos governos nordestinos encaminharam uma carta ao governo da China solicitando ajuda. O país asiático viveu há pouco mais de um mês as consequências do surto, hoje em grande parte superadas. No pedido, estão incluídos insumos médicos, como máscaras e equipamentos hospitalares. Não se tem notícia de ação semelhante por parte do governo de Minas: é nas crises que se sobressaem os verdadeiros líderes.
Fonte: Os Novos Inconfidentes, por Marcelo Gomes, jornalista