Gestão Jairo Nogueira: tempos de truculência, mas com conquistas históricas



Gestão Jairo Nogueira: tempos de truculência, mas com conquistas históricas

Nesta entrevista, Jairo Nogueira Filho, coordenador geral do Sindicato entre 21/06/2010 e 1º de junho de 2015, e eleito para a Secretaria de Políticas Institucionais, faz um balanço das lutas, das vitórias e desafios nos cinco anos que esteve à frente da gestão coletiva do Sindieletro. Período que abarca os 12 anos de governo tucano em Minas e na Cemig, com o grande desafio de organizar lutas em um cenário de muita truculência, falta de diálogo e nenhuma negociação.

Chave Geral – Jairo, enquanto esteve na coordenação, houve momentos difíceis para os trabalhadores. Como o Sindicato reagiu?

Jairo – Foram vários momentos complicados. Houve demissões, por perseguição política dos gestores da Cemig contra trabalhadores, demissões aos 55 anos. Também enfrentamos mais agressividade na distribuição da PLR, com a política de privilégios na Participação nos Lucros e Resultados, aumentando a desproporcionalidade, com a garantia de distribuir valores milionários para os gerentes e superintendentes. Os acionistas também foram privilegiados, com dividendos acima do lucro da empresa. Nas negociações do ACT, não tinha mais conversa. A Cemig terceirizou a mesa de negociação, em mais uma total falta de respeito com a categoria. Fizemos greves...

CG – Em uma das greves, houve aquele episódio do pé na mesa do Marcelo Alkmin, o que esquentou mais o movimento...

Jairo – Sim, na Campanha de 2012 o pé na mesa do Marcelo Alkmin indignou ainda mais a categoria. A greve esquentou e fomos para o TRT. A desembargadora, Emília Facchini, endureceu com os eletricitários, nos chamou para uma sala escura e disse que iria mandar prender todo mundo se o pessoal das usinas, no Triângulo, não voltasse ao trabalho. A juíza Facchini também decidiu que nós teríamos que realizar assembleias em separado, contrariando a decisão dos trabalhadores pela campanha unificada. Foi um grande choque, enfrentar uma juíza que não conciliava. Dirigentes sindicais tiveram que se esconder, até trocar números de telefone, para enfrentar a pressão do TRT. Além disso, ficamos mais indignados com as demissões por perseguição política.

CG – Quando a Cemig endureceu ainda mais a relação com o Sindicato?

Quando terceirizou a mesa de negociação. Não houve mais conversa, ninguém agüentava mais tanta truculência. Pela primeira vez decidimos deixar que o Dissídio Coletivo do ACT 2012 fosse para o TST. Em 2014 conquistamos no TST aumento real de 3%, com o retroativo ao ACT 2012, e a retirada da cláusula da periculosidade do ACT, entre outras conquistas.

CG – Na sua gestão, houve o maior acidente no setor elétrico brasileiro, o de Bandeira do Sul. Como o Sindieletro enfrentou?

Jairo – Fevereiro de 2011 ficou marcado com o acidente que matou 15 pessoas em Bandeira do Sul e, mais uma vez, o Sindieletro debateu com a sociedade a insegurança na rede da Cemig para os trabalhadores e população. Fomos à cidade, de cinco mil habitantes, e fizemos uma vistoria, percebemos que a causa do acidente poderia ter relação com a falta de manutenção da rede, com a negligência dos gestores tucanos na empresa. A Cemig entrou com um processo contra a minha pessoa e contra o Sindicato. Fizemos uma discussão na Assembleia Legislativa que trancou a pauta da Casa e, sob pressão, o então governador, Antônio Anastasia, retirou a ação.

CG- Outra luta importante, a dos trabalhadores da Cemig Serviços

Jairo - A ditadura real se consolidou com o tratamento dado à luta dos eletricitários da Cemig Serviços (Cemig S). Em 2013, alguns deles se acorrentaram à sede da Cemig para defender seus empregos, mas a gestão autoritária isolou os eletricitários, eles resistiram e permaneceram 10 dias trancafiados, acorrentados, numa espécie de masmorra. A direção da Cemig fechou a entrada da sede com tapumes, fechou as portarias de baixo. De noite, os coronéis contratados chutavam os companheiros, promoviam o terror. A gente mandava celulares pelas marmitas, só assim conseguimos comunicação e vigilância sobre a integridade física e psicológica dos trabalhadores

CG – E a mobilização contra os acidentes de trabalho?

Jairo – Em 2013 tivemos cinco mortes de eletricitários a serviço da Cemig. Em outubro morreu o companheiro Carlão (Carlos Alberto Ribeiro, eletricista da Cemig, então lotado no AR). Foi extremamente triste, fizemos homenagem, fizemos denúncia, debatemos com a sociedade, mas os gestores tucanos ficaram em silêncio, não resolveram nada, não se sensibilizaram.

CG – Sua gestão também enfrentou trabalho análogo à escravidão dentro da Cemig. Como é essa história?

Jairo – A CET Engenharia foi investigada por fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego, com o acompanhamento da Polícia Federal e Ministério Público do Trabalho, após denúncia do Sindieletro. Foram constatadas muitas irregularidades e uma situação vexatória para a Cemig: a empresa tinha trabalhadores terceirizados atuando em situação análoga à escravidão. A CET foi fechada e o MPT entrou com ação contra a Cemig.

CG – Em 2013, o Sindieletro fez uma greve diferente. Como foi?

Jairo – Fizemos a greve mais longa da história do Sindicato, foram 23 dias parados. Realizamos ocupações nos locais de trabalho, com fechamentos das portarias e passeatas. O movimento foi crescendo, mas a Cemig não negociava de jeito algum. Até que, em 04 de dezembro, fechamos a Sede da empresa. Duas mil pessoas ficaram do lado de fora no dia que a Sede parou. O então presidente da Cemig, Djalma Morais, teve que negociar com a gente, senão não entrava na empresa. Nós conquistamos aumento real de 1,2% e o Pacto de Saúde e Segurança.

CG- Em 2014, veio a PEC 68 e o Sindieletro foi novamente à luta contra a privatização...

Jairo - O governo do Estado lançou a PEC 68 durante a Copa do Mundo, mas nos mobilizamos rápido, fomos para a Assembleia Legislativa, debatemos os riscos de nova tentativa de privatizar não só a Gasmig, mas todas as empresa do grupo Cemig, incluindo Cemig D e Cemig GT. Conseguimos barrar, mostrando, mais uma vez, a nossa força.

CG – Quais as outras lutas do Sindieletro nesses tempos tão conturbados?

Jairo – Tivemos o Plebiscito pela redução da tarifa de energia da Cemig com a redução do ICMS. Conseguimos levar para a sociedade a discussão sobre as tarifas, imposto estadual na tarifa, nossas condições de trabalho, a falta de investimento da empresa e a truculência do governo do Estado. Obtivemos mais de 600 mil votos a favor da redução das tarifas e do ICMS. Também apoiamos a greve de 112 dias dos professores do Estado.

item-0
item-1
item-2
item-3