Gestão do meio ambiente não vai existir e banqueiros concentrarão poder



Gestão do meio ambiente não vai existir e banqueiros concentrarão poder

A confirmação, pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro, e pelo futuro “superministro” da Economia, Paulo Guedes, de que haverá fusão de ministérios é a concretização dos reais objetivos dos mandatários que estarão no Palácio do Planalto a partir de 1° de janeiro de 2019.

Após a eleição, anunciaram a fusão das pastas do Meio Ambiente e da Agricultura. E também dos ministérios da Fazenda, do Planejamento e da Indústria e Comércio. O anúncio de ministérios já provoca as primeiras críticas ao governo Bolsonaro. E já rende manifestações de arrependimento de seus próprios eleitores. 

“No caso do meio ambiente, vão colocar no mesmo ministério a galinha e a raposa. É um tanto curioso. Ministério do Meio Ambiente tem a função exatamente de fiscalizar e colocar limites à expansão rural indevida”, diz o professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) João Sicsú. “Se vai atacar o meio ambiente, não tem sentido ter um ministério para defendê-lo. A solução é que o meio ambiente não vai existir, porque a raposa vai comer a galinha. O que vai existir não é o Ministério da Agricultura, mas o ministério ruralista.”

Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente e ex-candidata à presidência da República pela Rede, criticou a fusão dos ministérios do Meio Ambiente e da Agricultura. “Será um triplo desastre. Estamos inaugurando o tempo trágico da proteção ambiental igual a nada. Nem bem começou o governo Bolsonaro e o retrocesso anunciado é incalculável”, disse em postagem no Twitter. “O movimento ambientalista terá que voltar aos velhos tempos da pressão de fora para dentro, algo que há décadas vinha sendo superado”, acrescentou.

Ideias de Bolsonaro para política externa e Mercosul são preocupantes, diz Celso Amorim

A fusão de Fazenda, Planejamento e Indústria e Comércio, na avaliação de Sicsú, trata-se meramente de concentração de poder num único ministro para tomar todas as decisões. “Não tem nada a ver com redução de custos. Quem vai tomar conta da indústria é o sistema financeiro. Vão reduzir impostos de importação, deixar o dólar se valorizar e ampliar a abertura comercial. O que vai sobreviver será a agricultura e o agronegócio. A indústria terá de seguir o caminho dos últimos anos, que era deixar de ser indústria para se transformar em banco.”

Na quarta-feira (30), o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson de Andrade, em nota, se manifestou contra a incorporação da Indústria ao “superministério”. Segundo ele, o setor industrial é responsável por 21% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional e pelo recolhimento de 32% dos impostos federais. “Precisamos de um ministério com um papel específico, que não seja atrelado à Fazenda, mais preocupado em arrecadar impostos e administrar as contas públicas”, disse Andrade.

Mas, na opinião de Sicsú, com a economia sem nenhuma proteção contra a invasão de produtos externos, o horizonte é pouco alentador para os industriais. “Vai destruir a indústria que existe no Brasil.” Inclusive, acrescenta, porque o Brasil exporta muitos produtos industrializados e manufaturados para o Mercosul. “Se a prioridade não é o Mercosul, significa que a prioridade não é a indústria. A prioridade é o sistema financeiro, o agronegócio e as empresas multinacionais voltadas para a exploração de recursos naturais.”

Esses são os focos do ministério da Economia e do projeto que venceu a eleição, destaca. “Esse projeto sempre esteve voltado a isso, recursos naturais, petróleo, água, sistema financeiro e agronegócio. E exportar produtos básicos: soja, madeira, petróleo bruto, carne etc.”

Para o professor da UFRJ, o ministério do Planejamento, além das suas funções corriqueiras de gestão de orçamento e pessoal, também teria que ter a incumbência de planejamento do desenvolvimento. “E isso inexiste na cabeça desse superministro. Portanto, é coerente o que ele está tentando. Ele quer diminuir a função de prestador de serviço do Estado.”

Quanto à alegada redução de custos, não haverá redução significativa e quem perde será, de novo, a indústria. “Como se sabe, esse superministro da Economia (Paulo Guedes) é ligado ao sistema financeiro, e o que ele não quer é que tenha, por exemplo, um representante da indústria no ministério da Indústria e Comércio.”

Justiça

O governo aposta na ideia de superministérios. Outro deles será o da Justiça, que Bolsonaro pretende que seja comandado por Sérgio Moro, o juiz responsável pela operação Lava Jato e pela prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A pasta deve incorporar Justiça, Segurança Pública, Transparência e Controladoria-Geral da União, além do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf ), hoje subordinado ao ministério da Fazenda.

Fonte: Rede Brasil Atual
 

 

item-0
item-1
item-2
item-3