Os problemas relacionados à falta de pessoal na Cemig podem parecer, num primeiro olhar, algo que afeta apenas os trabalhadores. No entanto, quando os serviços de energia elétrica em Minas Gerais são precarizados, todos saem perdendo: os eletricitários, a estatal, os consumidores e até o próprio Estado.
Em cada regional na qual o Sindieletro atua, as reclamações são as mesmas: o ritmo de terceirização, a desvalorização do quadro próprio e a ausência de concurso público têm maculado os processos de trabalho e prejudicado a todos, sem exceção. Enquanto concede aumentos exorbitantes para diretores e o presidente da Cemig, a empresa alega a necessidade de reduzir custos e cortar trabalhadores.
Conforme os eletricitários do quadro próprio vão sendo demitidos ou saem em virtude do Programa de Desligamento Voluntário Programado (PDVP), a Cemig auxilia no sucateamento do serviço, ao não colocar em perspectiva novos concursos públicos e incentiva a entrada de terceirizados. É o que ocorre na regional Leste: há uma investida para terceirizar as áreas de Manutenção e Operação e a orientação da gerência é de não repor a mão de obra.
De acordo com o coordenador da Regional Leste, Fábio Ferreira (Fabão), os terceirizados já estão sendo treinados por técnicos de Operação da Cemig para atender subestações em caso de emergência e urgência. O mesmo acontece na Regional Triângulo: após incentivar o pessoal a sair pelo PDVP, não foram disponibilizados funcionários para treinar novos profissionais.
No Pronto Atendimento de Manutenção (P.A.M.) todos os técnicos saíram no PDVP e o setor ficou desfalcado – a solução encontrada pela Cemig foi treinar técnicos de empreiteiras para intervenções simples nas subestações. E todas essas gambiarras estão sendo operadas “à toque de caixa”, já que estão sem eletricistas. Em Caratinga, no Vale do Aço, a situação transpôs a terceirização: já existe a “quarteirização”, segundo o coordenador Leozinger Vieira. “A empresa que ganhou a licitação do contrato da Cemig fez um acordo com a empresa que perdeu e cedeu parte das suas atribuições a ela”, explica.
No frigir dos ovos, o quadro próprio segue sendo descartado e abrindo espaço, forçosa e arbitrariamente, para profissionais das empreiteiras ocuparem seus cargos.